Reportagem especial

Cem dias de Governo Allyson (Parte 1 de 3): o que foi feito até aqui?

Cem é apenas um número simbólico. Porém, pode demonstrar os caminhos que uma gestão tende a percorrer. Os primeiros cem de Allyson têm características próprias. Relembre os principais momentos nesta série em três partes

Por William Robson

Como desde o dia 1 de janeiro de 2021, estes últimos dias desta semana têm sido intensos para o prefeito Allyson Bezerra. O novo gestor do Município colocou para funcionar dois equipamentos que se amontoavam como obras inacabadas da gestão anterior, da ex-prefeita Rosalba Ciarlini. Uma delas, a Unidade de Educação Infantil (UEI) Proinfância da Estrada da Raiz, estava paralisada há doze anos. Tempo equivalente a três dos quatro mandatos de Rosalba. A UEI Zezinha Gurgel Rodrigues, que funcionava em um imóvel alugado, recebeu estrutura para 250 crianças menores de seis anos.

A secretária de Educação, Hubeônia Alencar, ao lado do prefeito, quando da inauguração da UEI da Estrada da Raiz

A UEI foi entregue na véspera de um número levado no campo político como cabalístico. Os cem dias de gestão é avaliado por analistas políticos em qualquer situação. Sabe-se que cem dias, ou pouco mais de três meses, não é tempo suficiente para grandes realizações. Dá para dizer, pelo menos, que deu para esquentar a cadeira.

Quanto a este fator, a cadeira de Allyson continua fria. Ao inaugurar a UEI e ressaltar em entrevista que implanta “choque de gestão”, os cem dias podem ser classificados como desafiadores e surpreendentes.  Desafiador pela situação fiscal encontrada na cidade. Surpreendente pela forma de condução do governo fora do gabinete.

Os cem dias, efetivamente, não foram de solidão. E para isso, vamos dividir em três partes, sendo esta a primeira delas. Com popularidade em alta, aproveita a onda favorável.

Allyson escuta o secretário Franklin Filgueira durante visita a Cobal em janeiro

Allyson estampa um estilo diferente na prática de  visitas-surpresas nas repartições. Seja na  Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do Alto de São Manoel, como ocorrido no último dia 4 de janeiro, ou à Cobal, os primeiros dias foram marcados por  reuniões constantes que se estendiam pela madrugada e, em muitos casos, pelos finais de semana. Os encontros intentavam compreender a situação da estrutura municipal, visto que a transição de governo, praticamente inexistente, impediu que a equipe do prefeito tivesse acesso às informações de antemão.

Ao assumir o mandato, Allyson acessa as contas da prefeitura. O que encontrou foi uma tragédia financeira. Dívida próxima de R$ 1 bilhão e apenas R$ 4 milhões em caixa. A ex-prefeita Rosalba Ciarlini concedera sua última entrevista fantasiando situação diferente, de uma tal “casa arrumada”:  “Porque se não fosse assim, dificilmente chegaríamos à condição que temos hoje, podendo dizer que a casa está arrumada, dívidas foram pagas, salários em dia e que muitas obras estão começando e outras estão sendo entregues. Eu vou deixar dinheiro em caixa. Em torno de R$ 183 milhões em caixa, já programados, algumas já licitadas, de obras e ações estruturantes”,  afirmou na época.

O detalhamento da dívida do Município, apresentado pela equipe economica e ainda não-consolidado

De arrumada, a casa não tinha nada. O acumulado em dívidas impressionou a todos nos primeiros dias de gestão. Como Governar uma cidade com  R$ 855.012.292,97 em débitos? Este número foi o consolidado apresentado pelo secretário de Administração, Frank Felisardo, durante apresentação do abacaxi em 28 de janeiro. Mas, a conta era maior: faltou contabilizar outros R$ 20 milhões da Saúde. E segue contando…

Allyson inicia seu mandato, portanto, devendo a fornecedores e prestadores de serviço. Total de mais de R$ 252 milhões. Acrescenta aí neste grosso, o passivo com o Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Mossoró (Previ-Mossoró)  de R$ 233 milhões. Além do INSS (R$ 91.469.986,89) e salários, 13° salário, férias: R$ 16.701.509,61. Talvez um dos  maiores desafios da atual gestão, obrigando a decretar estado de calamidade financeira.

A entrevista concedida ao Telediálogos, em dezembro, quando explicou a necessidade de “desrosalbizar” a estrutura do Município

Os primeiros dias também foram para mudar tudo. Sim, “desrosalbizar” o Palácio da Resistência foi pedido contundente da sociedade mossoroense. As edições do Jornal Oficial do Município (JOM) se sucediam com séries de portarias necessárias para a implantação da nova gestão.  Em entrevista concedida ao programa “Telediálogos”, da Agência Moscow, ainda como prefeito eleito, em dezembro, explicou tal necessidade: “Olha, a cidade de Mossoró decidiu pela alternância, pela mudança. E haverá mudança. Se eu deixo como está, não estarei cumprindo com o resultado das urnas. O meu dever, de forma muito clara e definido pela população, é este: mudança”, comentou Allyson.

Comissionados e os terceirizados que estavam vinculados à antiga gestão não tiveram seus contratos renovados. Em maratona, seus secretários, escolhidos a dedo a partir da competência técnica e advinda em sua maioria das universidades, listavam os comissionados, terceirizados. Foram surpreendidos com 560 servidores comissionados, todos substituídos, o que gerou as primeiras manifestações em  frente ao Palácio da Resistência de pessoas que pediam que rosalbistas fossem mantidos em cargos-chave.

Protesto exigia a permanência de alguns comissionados da antiga gestão

Além disso, 855 trabalhadoresde empresas terceirizadas deixaram de receber os salários de dezembro, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Em Asseio, Conservação, Higienização e Limpeza Urbana do Estado do Rio Grande do Norte (Sindlimp). Os salários variam de ASG (R$ 1.086,59) ao motorista socorrista (R$ 2.078,32). Mais uma situação colocada em cima da pilha de problemas a ser gerida pelo novo governo.

Neste ponto, a questão do funcionalismo é um caso especial. Recebeu o sindicato dos servidores municipais (Sindiserpum) por duas ocasiões, o que não acontecia na gestão anterior por quatro anos. Apesar das demandas seguirem, houve abertura para o diálogo. Noutro aspecto, a Prefeitura começou a pagar aos servidores no mês trabalhado, o que não ocorria em tempo recente.

A maratona estava apenas começando. Em meio às dívidas, o prefeito Allyson Bezerra aproveitou seus primeiros dias para visitar os equipamentos do Município. Do mercado ao Portal do Saber, este em ruínas. As visitas-surpresas até agora realizadas, lembram vistorias (ele também é engenheiro). A princípio, poderia ser associado a lógicas populistas. Mas o prefeito estava no começo do mandato, qual o intuito de tamanha exposição não fosse a de impor novo estilo?

Assim,  os cem dias foram acompanhados por uma caderneta, onde o prefeito testemunhava situações  e as anotava. Numa da visitas,criticou o excesso de papel no equipamento de saúde e que se faz necessária informatização dos prontuários e atendimentos. Prometeu triplicar o número de consultórios na unidade em 15 dias, até 18 de janeiro. E no pouco espaço de tempo, conseguiu cumprir. “Visitas como estas serão rotina na nossa gestão”, explicou o prefeito.

Cem dias também nas redes sociais. Provavelmente o maior digital influencer da cidade, tamanha a repercussão de suas postagens. Assim, Allyson não dispensa o uso do celular para registrar tudo o que faz. Lives, selfies, ou agradecendo presentes que chegam a todo momento (de roupas, quentinhas a açaí e tapioca…), visitando lojas do comércio,  ou através da assessoria de comunicação, tudo é registrado e compartilhado. A ideia, segundo ele, é de oferecer transparência e de buscar proximidade com as pessoas. De dar satisfação do que está sendo feito.

Allyson, quando deixou o Palácio para conversar com os artistas que protestavam na calçada

Na área cultural, os artistas passaram o ano de 2020 em isolamento. Isolamento na pandemia e de atenção. Nada de festas, shows. O período foi quebrado com pequenas apresentações limitadas nos barzinhos, novamente suspensas. O desalento bateu à porta. Em protesto na porta do Palácio da Resistência, os artistas reivindicavam por auxílio, O prefeito saiu do Palácio, conversou com os artistas na calçada e prometeu o Mossoró Cidade Junina virtual. Montou ali mesmo a comissão a ser recebida por ele logo em seguida. Duas boas novas surgem daí: o evento tradicional da cidade renasce em meio à pandemia em formato reconfigurado e os artistas e técnicos locais serão privilegiados na execução do evento.

Operário trabalha na limpeza do Mercado Público Central

Os cem dias foram marcados pela limpeza. De mercados e do sistema de drenagem da cidade. Os primeiros receberam higienização e reformas, como o caso do Mercado Central. O segundo, acabou com a aflição de moradores que viam as chuvas invadirem suas casas porque as águas não tinham por onde escoar. Obras simples que agem diretamente na vida das pessoas.

Nestes dias, até o Nogueirão foi municipalizado no dia  12 de março. Ao lado do prefeito Allyson Bezerra, o secretário de Esportes, Júnior Xavier, a LDM deixa a “administração” do Nogueirão, que passa a ser da Prefeitura de Mossoró. A demanda é antiga, mas outras gestões  temiam assumir o problema. Afinal, o custo é alto, mas bem administrado pode gerar retornos sociais importantes.

A zona rural foi o território marcante nestes primeiros dias de gestão. Problemas simples como a falta d’água foram rapidamente resolvidos com a mera troca de bombas danificadas. Esta região é a menina dos olhos do atual prefeito, com origem na comunidade do Chafariz. Inclusive, tem sempre lembrado sua vivência por lá em seus discursos.

Cem é apenas um número simbólico. Porém, pode demonstrar os caminhos que uma gestão tende a percorrer. Os primeiros cem dias de Allyson têm características próprias, pequena oposição, forte influência  na Câmara, presença nas redes sociais e ações em demandas simples, mas não atendidas por anos.

Acesse a segunda parte da série: Cem dias de Governo Allyson