Estádio de Mossoró

Nogueirão: chega o alívio para um gigante que agonizava

Insistindo neste futebol que parece terminal, porém resistente por aparelhos, o Nogueirão foi agraciado nesta quinta-feira (11) com uma notícia de conforto

Imagem principal: O lateral Nonato concede enrevista, próximo a Zico, em histórica partida entre o Flamengo e Baraúnas, em 85

Por William Robson

Prestes a completar 55 anos, o estádio Manoel Leonardo Nogueira amarga uma crise que se confunde com o futebol mossoroense. Afora as sucessivas interdições por conta da situação caótica de sua estrutura, o fardo ficou pesado demais para os clubes-membros da Liga Desportiva (LDM). Este peso há tempos foi deixado de lado. O Nogueirão tem custo alto para a entidade que pouco arrecada devido ao futebol igualmente precário.

Não dá para contar as vezes em que o Nogueirão foi interditado pelo Ministério Público a fim de manter a segurança dos torcedores. Potiguar e Baraúnas, os principais clubes locais, sofriam pela perda no mando de campo. Os jogos, invariavelmente, eram transferidos para Assu ou outras praças.

Nas ocasiões em que o estádio era liberado, por razões muitas vezes polêmicas, visto que efetivamente nada de concreto na estrutura havia sido feito, a capacidade se reduzia pela metade. O estádio, inaugurado em 4 de junho de 1967, abrigava até 25 mil espectadores, público alcançado em 11 de agosto de 1985, quando o Flamengo de Zico venceu o Baraúnas do lateral Nonato, por 3 a 2. Hoje, nem de longe, imagina-se tal público. Falta espetáculo à altura da partida histórica oitentista e, por outro lado, o estádio já não suporta tanta gente.

O Nogueirão, se comparado com outros estádio, não é tão velho assim. O Morumbi também foi inaugurado nos anos 60. O Presidente Vargas, de Fortaleza, sediava partidas em 1941. O São Januário, no Rio de Janeiro, existe desde 1927. Todos com estruturas bem melhores. O que acometeu o Leonardo Nogueira foi o displicência. Anos e anos de abandono, de ausência de manutenção, consoante com o futebol combalido.

Potiguar e Baraúnas, em partida no Nogueirão

Agruras nem sempre perenes. No interstício das adversidades, o Nogueirão suportou com bravura os campeonatos estaduais conquistados por Potiguar (2004 we 2013) e Baraúnas (2006). Torcedores eufóricos ocuparam todos os espaços do estádio, que preserva a antiga “geral” e mantém a culinária específica que passa do canudinho de carne, ao pastel de vento e o cachorro quente com carne moída.

Apesar dos momentos de alegria, o que se vê hoje é cenário de desolação. Recentemente, jogadores do Potiguar realizaram protesto, treinando no campo de terra anexo ao estádio. Reclamavam que eram mal tratados pela então prefeita Rosalba Ciarlini, que não olhava para o estádio com a devida atenção. Embora, o estádio fosse de responsabilidade da LDM, a reivindicação dos jogadores expuseram outra ferida no futebol mossoroense: o Potiguar, clube fundado em 1945, não tem sequer um Centro de Treinamento,  dependendo frequentemente da estrutura do “velho” estádio ou da sensibilidade de clubes de lazer.

Em 2017, prestes a estrear na Série D do Campeonato Brasileiro, o Nogueirão foi novamente interditado. O então presidente do clube, Marco Antônio Fernandes, explicou em entrevista ao Globo Esporte que a a situação era de desespero. E desabafou, “se não houver uma força-tarefa para a captação de investidores, o futebol de Mossoró vai morrer”.

O secretário de Esporte, Júnior Xavier, ao lado do prefeito Allyson Bezerra, com o documento que “municipaliza” o estádio Nogueirão

Insistindo neste futebol que parece terminal, porém resistente por aparelhos, o Nogueirão foi agraciado nesta quinta-feira (11) com uma notícia de alívio. Ao lado do prefeito Allyson Bezerra, o secretário de Esportes, Júnior Xavier, a LDM deixa a “administração” do Nogueirão, que passa a ser da Prefeitura de Mossoró. A demanda é antiga, mas outras gestões  temiam assumir o abacaxi. Afinal, o custo é alto, mas bem adminitrado pode gerar retornos sociais importantes

Xavier tem como ponto positivo o fato de ter sido jogador de futebol, atuando no Potiguar e conhecendo o Nogueirão como poucos. Por sua vez, o prefeito Allyson Bezerra celebrou o momento: “Um momento histórico. Nós assumimos a Prefeitura e de cara abraçamos essa responsabilidade de devolver ao povo de Mossoró, de fato e de direito, o estádio Nogueirão. Era uma demanda histórica, de décadas, que a população queria que o Município pudesse cuidar do estádio”.

A tal “municipalização” esbarrava na burocracia. Para isso, foi necessário o apoio dos titulares da Procuradoria-Geral do Município e da Consultoria-Geral, Raul Santos e Humberto Fernandes, respectivamente, que fizeram um estudo de todo o processo e indicaram encaminhamentos.

“A importância dessa municipalização é grande, em todos os aspectos esportivos. Para os jogos escolares e nós vamos fazer voltar; para o esporte amador e para o profissional, porque a gente ficava triste em ver nossos representantes tendo que fazer seus jogos fora, longe do seu torcedor. Sem contar com o espaço para atletismo, com a pista que o Nogueirão possui”, disse o secretário Júnior Xavier.

Isso significa que, a partir de agora, a Prefeitura poderá realizar investimentos mais pesados no estádio. Quem sabe uma modernização mais profunda, a partir de projetos em parceria com o Governo Federal. Ou mesmo trabalhar em projetos de inclusão de jovens e crianças no esporte a partir da utilização da praça . “Ao final dessa pandemia, nós teremos a oportunidade de o povo de Mossoró voltar a frequentar o Nogueirão. Vamos fazer grandes investimentos para que a gente tenha realmente uma grande praça de esportes”, afirma o prefeito Allyson Bezerra.

Espera-se que a recuperação que está por vir no Nogueirão possa refletir no futebol local, este sim, necessitando andar com as próprias pernas. Enquanto entidades privadas, os clubes locais demandam profissionalização e de olhar mais moderno para os excelentes produtos que os seus dirigentes têm em mãos. A LDM, por sua vez, terá mais tempo para pensar em seus filiados. E o Nogueirão terá, enfim, a importância que reveste os gigantes. Neste caso, o Gigante do Nova Betânia.