Quanto a Prefeitura retém de recursos para o combate à Covid-19 enquanto Mossoró padece?
Se a prefeita Rosalba Ciarlini não entrar de cabeça no enfrentamento, sobretudo, para que os decretos (seus e do Governo) sejam cumpridos, falar em tragédia humanitária e econômica não se tratará de hipérbole
A notícia não poderia ser mais desesperadora nesta manhã de quarta-feira (10). Não há um só leito de UTI Covid em Mossoró. Enquanto o isolamento social não se amplia, mesmo com decreto mais rígido, há clara previsão de que as filas deverão se estender para pacientes que precisam de terapia intensiva já (além das 62 pessoas que já aguardam). Não há o que esperar. E isto deveria ser o suficiente para sensibilizar as autoridades.
Até ontem (terça-feira, 9), a Prefeitura de Mossoró informou haver a disponibilidade de quatro leitos de UTIs. O número foi comemorado, segundo relatou o jornalista Magnos Alves, em seu site. Porém, como sabemos, a pandemia que vivemos não abre tempo para trégua e se a prefeita Rosalba Ciarlini não entrar de cabeça no enfrentamento, sobretudo, para que os decretos (seus e do Governo) sejam cumpridos, falar em tragédia humanitária e econômica não se tratará de hipérbole.
O colapso se forma basicamente na ausência de leitos de UTIs, embora a maior parte dos leitos clínicos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), para atendimentos menos graves, esteja vaga. Os leitos críticos são os que realmente preocupam.
Então, por que razão Rosalba está pagando para ver? Como já abordado em textos anteriores, há pressão econômica em torno da flexibilização do isolamento, beneficiando quem a pode beneficiar, de alguma forma, nas próximas eleições. Uma parte importante dos empresários força a reabertura, replica a cloroquina como pretexto para jogar seus “colaboradores” na linha de frente do vírus.
No entanto, se o lucro vai para poucos, as consequência caem sobre as costas de todo mundo. O sistema de saúde local já está em colapso. O comércio não terá reabertura planejada enquanto os leitos não alcançarem os níveis de 70% de ocupação, o que estamos longe disso. Ou seja, não adianta pressionar pela reabertura de um setor em uma cidade que padece e onde tais problemas se agravam. Rosalba sente esta pressão, claro. Mas, é necessário que, neste momento, se leve em conta a vida dos mossoroenses.
Os recursos estão disponíveis. Outros que deixaram de ser aplicados, como aqueles para a realização do Mossoró Cidade Junina, proporcionam respiro essencial. Até domingo, a Prefeitura de Mossoró contava com R$ 17.971.664.33 disponíveis para o combate exclusivo da Covid-19 no município, valores repassados pelo Ministério da Saúde. Segundo o Portal do Oeste, no total, Rosalba já recebeu R$ 20.049.893,73 do Governo Federal para enfrentar o coronavírus. Porém, aplicou R$ 2.078.229,40, além de outros R$ 331.948,00 do Fundo da Infância e Adolescência (FIA).
Entre domingo (07) e esta terça-feira (09), a Prefeitura de Mossoró recebeu mais três repasses, que totalizam R$ 7.875.099,57 somando R$ 27.475.905,44, de acordo com dados do Portal da Transparência. A base de dados também informa que as despesas para o combate à covid-19 foram de R$ 2.483.143,65. Portanto, há um saldo de R$ 24.992.761,19.
Há ressonância captada de todas as partes que cobra o uso deste dinheiro. O caso já chegou à Assembleia Legislativa, onde deputados alertam que apenas 12% do total foi aplicado. Rosalba, preocupada em neutralizar a CPI da Arena das Dunas, ainda não se manifestou sobre como esta verba é utilizada no enfrentamento da pandemia. Todavia, as circunstâncias falam por si. A cidade alcançou 1.417 casos e 77 mortes nesta terça-feira (9), números que não param de crescer e que dão o panorama do problema no sistema público de saúde.
Sobre os leitos, a Apamim anunciou a possibilidade de abrir mais cinco leitos no hospital de campanha a partir desta quarta-feira (10) no Hospital São Luiz, dos 15 restantes. Os demais serão distribuídos entre os dias 15 e 20. A velocidade de contágio e de pessoas na fila tendem à ocupação instantânea destas vagas.
A cidade padece ajoelhada em meio à pandemia. Os recursos retidos demonstram o nível de compaíxão pelo sentimento de todos nós em momento inédito, não enfrentado com a mão forte que se exige.