Primeiros dias do novo decreto

Por que o comércio de Mossoró não será reaberto no dia 17 como diz o decreto?

Se avaliarmos a olho nu o primeiro final de semana da vigência do novo decreto, podemos afirmar que nada mudou. Estaríamos certos? Sim, nada mudou. E quem disser que o isolamento foi ainda mais desrespeitado também não estará exagerando

Desde a sexta-feira (5) está em vigor o mais rígido decreto do governo Fátima Bezerra, o de Nº 29.742. O documento intensifica as fiscalizações e impõe multas para as pessoas e para as empresas que transgredirem as medidas. A intenção é ampliar o isolamento social no Estado, que está abaixo da metade, índice que se destaca negativamente entre os demais Estados do Nordeste.

Se avaliarmos a olho nu o primeiro final de semana da vigência do novo decreto, podemos afirmar que nada mudou. Estaríamos certos? Sim, nada mudou. E quem disser que o isolamento foi ainda mais desrespeitado também não estará exagerando.

Os dados do Inloco, do  Laboratório de Inovação em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN) vão além da nossa constatação empírica, embora ressaltem esta observação. No primeiro final de semana de junho, o percentual de pessoas isoladas ficou em 40,3% no sábado e 49,58% no domingo. Se compararmos com a semana anterior, a última de maio, teremos os seguintes dados: 42,1% (sábado, dia 30) e 49% (domingo, dia 31). Ou seja, o decreto ainda não está provocando qualquer alteração no comportamento da sociedade potiguar quanto aos riscos da pandemia. Mais de metade dos potiguares segue suas rotinas normalmente, como se os dias fossem anteriores à chegada do vírus.

Em Mossoró, especialmente, o isolamento tem adesão de somente 47,82%, com o beneplácito da prefeita Rosalba Ciarlini. Os mossoroenses são instados a saírem às ruas, motivados por túneis placebos ou adoção de cloroquina em casos iniciais, na intenção de gerar uma falsa sensação de que existe tratamento comprovado. Assim, quanto mais boicote ao isolamento, mais difícil voltarmos a ter uma vida verdadeiramente normal como antes.

Quem deve se prejudicar ainda mais, mesmo com a ação evidente dos clandestinos, é o comércio local, base de consumidores de toda a região. Fechado em boa parte, a sua reabertura está condicionada no decreto para o próximo dia 17 desde que haja desaceleração dos casos de coronavírus no RN. O parâmetro serão os hospitais. As lojas, shopping e galerias não abrem até que a ocupação de leitos de UTIs não seja reduzida a, no máximo, 70% de sua capacidade. Acima que isso, nada feito.

Dependendo os primeiros dias do decreto, apesar de precipitada qualquer avaliação mais contundente, muito dificilmente tais números serão alcançados até a quarta-feira da semana que vem, exceto na região do Seridó, que oscila entre 50% e 60%,  condições apropriadas para reabrir seu comércio.

Nas demais regiões, ñão há otimismo, nem perspectivas. O site Saiba Mais ressalta que nas regiões Metropolitana de Natal e Oeste, a ocupação dos leitos não apenas chegou a 100%, como já tem filas de 51 pacientes críticos diagnosticados com prioridade 1 e 2, ou seja, que precisam de UTIs e de leitos semi-intesivos. Estes dados referem-se até ontem, segunda-feira (9), sem falar nas 58 pessoas que aguardam leitos críticos ou de estabilização.

A reabertura do comércio nestes locais não deve coincidir com a estimativa do decreto. A Secretaria de Saúde do Estado ainda alerta para o pico da pandemia, o qual não alcançamos, mas que deve ocorrer nas próximas semanas. Portanto, o pior está por vir e, desta forma, as lojas do comércio não retomarão suas atividades. As aglomerações devem seguir proibidas (ou buscar algo neste sentido).  Mas, não cabe apenas ao Governo do Estado, a fiscalização e o uso coercitivos de isolamento.

Cabe um pacto conjunto, que envolva as pessoas a fim de que se enfrente o problema. Não há outra forma. Nem através de cloroquina, túneis ou “cientistas” de Twitter. Os casos aumentam, as mortes também. A consciência dos reais perigos para a vida e para a economia é que deve ser levada em conta. O problema é que as pessoas não estão nem aí para isso e contribuem para o colapso.