Então, o prefeito foi até os artistas que clamavam na calçada do Palácio…
No protesto desta sexta-feira, a ação dos artistas pediam ação para atender a uma categoria parada desde o início da pandemia. E, se no ano passado, movimentos do tipo eram neutralizados ou tinham efeitos inócuos, desta vez, os artistas foram surpreendidos
Por William Robson
A pandemia foi capaz de gerar grupos de trabalhadores à beira do desespero. Entre tantas atividades suspensas, no intuito de impedir aglomerações e aumento de transmissibilidade do vírus, o setor de entretenimento foi o primeiro a fechar e será o último abrir. Neste interstício necessário e, ao mesmo tempo, cruel, estão os artistas e demais técnicos da área, que dependem do trabalho e da retomada cultural para sobreviverem.
Os artistas passaram o ano de 2020 em isolamento. Isolamento na pandemia e de atenção. Nada de festas, shows. O período foi quebrado com pequenas apresentações limitadas nos barzinhos, novamente suspensas. O desalento bateu à porta. Alguns editais de fomento lançados no ano passado estimularam a produção artística virtualmente. Por outro lado, no campo do Município, o Mossoró Cidade Junina foi suspenso e o Pingo da Mei Dia virtual ganhou versão de “ajuda humanitária” para pessoas carentes, quando muitos carentes eram os próprios músicos que estavam no palco e não receberam cachê. Ou seja, no primeiro ano da pandemia, os artistas estiveram entregues à própria sorte.
Desesperadamente, aos pedidos de socorro, estes profissionais não viram outra saída senão reivindicar apoio da Prefeitura de Mossoró, negado durante todo o ano passado. Será que a situação de desprezo se repetiria? Durante o protesto desta sexta-feira (19), os artistas usavam o microfone para ressaltar que que o pedido não era pela volta das atividades culturais, atitude sensata de uma categoria forjada na sensibilidade da arte. Queriam apoio neste momento em que passam por necessidades das mais básicas. Você deve imaginar quais.
Não é o primeiro protesto que a categoria organiza na calçada do Palácio. Outra manifestação ocorreu no dia 12 de março, há uma semana. Um dos artistas, o cantor Jhonas, solicitava para que os recursos destinados ao Mossoró Cidade Junina fossem repassados para os artistas em extrema necessidade.
Por sua vez, nprotesto desta sexta-feira, a ação foi reforçada. E, se no ano passado, movimentos do tipo eram neutralizados ou tinham efeitos inócuos, desta vez, os artistas foram surpreendidos.
A reivindicação seguia no sol a pino do meio-dia, característico da cidade, quando o prefeito Allyson Bezerra surge em meio aos artistas. Estava acompanhado dos secretários Kadson Eduardo (Chefe de Gabinete) e Etevaldo Almeida (Cultura). Não dá para afirmar que a cena é rara, porque até mesmo os manifestantes ali não tinha testemunhado situação assim, O Palácio da Resistência que agora reúne sindicatos constantemente e atende os terceirizados em protesto na entrada da Câmara vê o seu prefeito deixar o gabinete e alcançar a calçada de onde as reivindicações emanavam.
O prefeito Allyson Bezerra não chegou de mãos abanando. Ouviu as demandas, apresentou a realização do Mossoró Cidade Junina virtual, e montou ali mesmo a comissão a ser recebida por ele no Palácio logo em seguida. Duas boas novas surgem daí: o evento tradicional da cidade renasce em meio à pandemia em formato reconfigurado e os artistas e técnicos locais serão privilegiados na execução do evento.
“Pela primeira vez na história dessa cidade iremos realizar o Mossoró Cidade Junina virtual. O objetivo é realizar a festa com toda a estrutura local e contratação de artistas e profissionais do município. A prefeitura investirá recursos próprios e buscar patrocínios na iniciativa privada para garantir renda aos artistas que sofrem no dia a dia as dificuldades financeiras causada pela pandemia”, comentou o prefeito, ainda na calçada do palácio diante da comunidade artística.
Allyson disse que fez questão de receber os artistas pessoalmente. Inclusive pediu para interromper outro encontro que ocorria simultaneamente: a que definia o cumprimento do novo decreto, que entra em vigor neste sábado (20), com representantes do Governo do Estado e do Ministério Público.
“Eu já passei (para os auxiliares) e vou reforçar aqui a pauta de vocês. A comissão será acrescida com mais pessoas e vocês vão sentar com minha equipe econômica e de Cultura para que discutam cada pauta para tornar o projeto viável. Digo em primeira mão para vocês que vamos realizar o Mossoró Cidade Junina 2021 virtual com artistas e estrutura da terra”, explicou. “Vamos ver os aportes financeiros próprios e vamos juntos capitanear este grande evento para beneficiar os artistas e todos os trabalhadores do entretenimento da cidade”.
A reivindicação surtiu efeito e os artistas ouviram o apoio que viria. Logo após, tiverem audiência com o prefeito e o secretário de Cultura. A comissão dos artistas teve os primeiros contatos e relatos sobre o formato do Mossoró Cidade Junina. Os próximos passos tendem a estabelecer os parâmetros para a realização da festa e a listagem dos artistas que atuarão no evento.
A classe cultural ainda ouviu outra novidade. A equipe econômica formará comissão para discutir e encontrar meios legais de oferecer descontos nos pagamentos tributários. Os artistas também esperam receber auxílio financeiro para minimizar as dificuldades financeiras, o que se somará aos projetos a serem executados para dar uma nova cara às festas juninas da cidade.
No final, a união dos artistas espraiou muitos efeitos positivos. Fez renascer o Cidade Junina, garantiu respiro aos profissionais da área, aproximou a Prefeitura da classe (antes distante) e garantiu os festejos de todos em casa. Pode preparar as bandeirinhas na sala, o chapéu de palha e pinte o bigodinho com lápis de maquiagem porque terá show. E show com o melhor da nossa terra.