Festas juninas

Pingo da Mei Dia Virtual: Por que o músico não precisa do cachê, prefeita Rosalba?

A festa junina em formato de live se bem roteirizada e organizada tem tudo para ser bem sucedida e ganhar excelente repercussão. Ainda mais quando a intenção inclui “arrecadar doações”. Tudo certinho, exceto por um detalhe

Na onda das lives e apresentações pela internet, bandas e músicos mossoroenses lutam com as armas que têm para sobreviver. O setor é um dos mais afetados pela pandemia de coronavírus e, muito provavelmente, será o último a retomar suas atividades. Festas e shows promovem aglomeração, catástrofe sanitária nestes novos tempos que enfrentamos.

Na esteira das diversões online para todos os gostos, surge uma importante e formidável ideia da Prefeitura de Mossoró. Inicialmente inviabilizada pela pandemia, o Mossoró Cidade Junina e seus agregados, como sabemos, foram cancelados. Nada mais sensato e racional. Os recursos, por sua vez, seriam destinados ao combate ao vírus. Ninguém pode negar que esta atitude foi correta. O Pingo da Mei Dia entrou no bojo, mas será recriado através do formato virtual, garantindo os cuidados sanitários e a diversão dos mossoroenses.

Parafrasenado a oração anterior: Ninguém pode negar que esta atitude foi muito bem bolada. O Pingo continua, com todos em casa, num grande arraiá de foliões confinados. A Prefeitura anunciou a novidade na quarta-feira (27), e agendou a transmissão para 6 de junho (um sábado).

A festa junina em formato de live se bem roteirizada e organizada tem tudo para ser bem sucedida e ganhar excelente repercussão. Ainda mais quando a intenção inclui “arrecadar doações destinadas a instituições de caridade e famílias carentes de Mossoró”. Tudo certinho, exceto por um detalhe.

Uma nota publicada pela Prefeitura esclarece que os músicos não receberão cachê, será trabalho “voluntário”. Veja bem, a única força de trabalho que estes artistas têm para oferecer, ante o momento desesperador de escassez, a Prefeitura supõe que tais profissionais dedicarão seus talentos apenas por amor à arte.

Recordo bem que os músicos estão em rede de solidariedade entre si para conseguir cestas básicas. Em Mossoró, as campanhas seguem neste sentido, uns ajudando os outros. Em entrevista à Agência Moscow, a cantora Khrystal me relatou a situação de penúria e de fome que atinge a vida dos músicos potiguares.

Os folíões mossoroenses aproveitarão a excelente ideia do Pingo, se divertirão neste modelo bem bolado de arraiá, enfim, será um momento de alegria proporcionada pela música.  Mas, a questão é: os agentes de todo este entusiasmo não serão reconhecidos?

A mensagem da Prefeitura ainda informou assim: “Os artistas farão de forma voluntária suas participações, sem cobrar cachê. As doações vão ajudar pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade neste momento”. Vamos lá. Os artistas que se colocaram à disposição talvez sejam de renome, não precisem de dinheiro, ou até, em último caso, não se compadeçam dos seus colegas de profissão. Porém, ao abrirem mão do cachê a que têm direito desvalorizam a arte que desenvolveram por horas e horas, dias e noites, anos e anos.

Aí alguém pode dizer: eles abriram mão para “ajudar pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade neste momento”. Qual atividade, entre tantas, não estaria colocando seus profissionais em situação tão vulnerável senão a dos artistas? Muitos apelam para lives expondo o número de suas contas, como um chapéu virtual, para quem tiver “passando na rua” do seu canal no Youtube e achar sua honrada arte interessante.

Por outro lado, há iniciativas como a lei de emergência aprovada pela Câmara dos Deputados e, oportunamente batizada de Aldir Blanc, que consiste em destinar R$ 3,6 bilhões do Fundo Nacional de Cultura para que Estados e municípios socorram artistas que perderam toda a renda durante a pandemia.

A Fundação José Augusto (FJA), por sua vez, abriu edital de urgência. A Assembleia Legislativa aprovou projeto de lei em que parte dos recursos do Programa Nota Potiguar, enquanto durar a pandemia da covid-19, seja remanejado para o Fundo Estadual de Cultura. Ou seja, há ações para amenizar em marcha.

Assim, ainda há tempo para que a folia do Pingo da Mei seja completa. Com festa garantida, todos em casa protegidos, arrecadação de alimentos para os vulneráveis e reconhecimento para os músicos e artistas, necessários para que tudo isso ocorra. Eles não apenas precisam. Eles merecem.