Um memorial mossoroense para as vítimas da Covid
A tragédia que envolveu e ainda envolve os mossoroenses não pode ser esquecida. Quase 600 famílias ficaram enlutadas
Por William Robson
Todos sabemos, mas não custa relembrar: a pandemia não acabou. Até esta quarta-feira (22), o sistema de monitoramento da UFRN contabilizava 581 mortes por Covid-19 em Mossoró. Quase 30 mil casos foram confirmados na cidade. É um número assustador, equivale a queda de dois Airbus A-320 lotados. E muitos dos mossoroenses conhecem alguma vida cobrada pelo coronavírus nestes tenebroso momento em que vivemos.
Claro que Mossoró, por outro lado, reagiu e se destacou na vacinação. Alcançamos, atualmente, os 13 anos a mais no processo de imunização. Nossos adolescentes, até que enfim, estão sendo imunizados e protegidos deste mal que levou quase seis centenas de mossoroenses. São pessoas que ficaram na memória de seus entes, e que não podem ser apagadas da memória da nossa cidade.
Em maio, este site fez um levantamento de quando a Covid atingia pessoas cada vez mais jovens, o processo de rejuvenescimento da pandemia. Até então, o que se sabia era que as pessoas mais idosas se tornariam presas mais fáceis para o vírus. Não foi o que aconteceu com Thábata Almeida, intubada na UTI do Hospital Wilson Rosado por mais de 10 dias. Ou com o educador físico Tiago Fernandes, de 32 anos, professor do Colégio Diocesano. Nem com Gilgames Melo, que atuou na Prefeitura de Mossoró e Câmara Municipal; ou Karlo Schneider, fã de vinil e dos Beatles, e que deixou uma carta para a sua filha, ainda não localizada. Estes estavam lamentavelmente listados entre pessoas com fortes laços com a cidade e que foram levadas.
Não se pode esquecer ainda do repórter policial da TCM, Francileno Góis, 50 anos, nem das servidoras públicas Ecílvia Batista de Araújo, de 45 anos, e Katiúscia Moura do Nascimento, vitimada aos 38 anos.
O estudo “Jornalistas vitimados por Covid-19”, lançado entre abril de 2020 e março de 2021, e que incluiu 169 profissionais do jornalismo vítimas da covid, citou o jornalista Emery Costa. Ele morreu aos 74 anos no dia 1º de maio de 2020, logo no início da pandemia.
Portanto, são alguns nomes que não podem ser transformados em números frios.
Ou seja, como o país inteiro, vivemos uma tragédia local. Graças à vacina, os índices pararam de crescer e não testemunhamos tantos mossoroenses acometidos e atingidos fatalmente pela Covid, permeando nossas redes sociais. O Rio Grande do Norte não registrou mortes nas últimas 72 horas. Ótima notícia. A Secretaria de Saúde informou que esta é a primeira vez desde o início da pandemia que o estado passa por um intervalo de três dias sem nenhuma morte ocasionada pela infecção.
Na sessão da Câmara de Mossoró desta quarta-feira (22), a Covid entrou no debate. Há discussão em torno da criação de memorial para que todos os mossoroenses natos ou adotados estejam vivos para sempre na memória da cidade. O vereador Raério Araújo reforçou a necessidade de sua instalação, assim como Mossoró guarda seus heróis da resistêcia.
A tragédia que envolveu e ainda envolve os mossoroenses não pode ser esquecida. Quase 600 famílias ficaram enlutadas. Não há meios de reparar tamanha perda. Mossoró deve chorar para sempre a dor de todas elas.