Grandes discos que ouvi #6

Titãs de verdade e na veia

Como falei do grunge no artigo passado, neste trabalho os Titãs importam nada menos do que o Jack Endino, produtor musical do Nirvana e o que temos é um disco de rock sensacional

Foto: Anna Júlia

Por Emerson Linhares

Se mergulharmos na mitologia grega encontraremos Titã, que era irmão de Saturno e o primogênito da família e por isso tinha o direito ao trono caso o seu pai, o Céu, morresse. Todavia, atendendo pedido de sua mãe, Terra (ou Titéia) acabou cedendo o reinado a Saturno mas com uma condição: que exterminasse todos os filhos varões e assim o trono, no tempo certo, recairia nas mãos dos Titãs, descendentes de Titã.

Interessante que a inspiração para o nome inicial da banda, Titãs, não veio da mitologia mas de uma coleção de livros da biblioteca dos pais de Tony Belloto – Titãs da Ciência, Titãs do Esporte, Titãs da Literatura. O ponto de encontro dos ensaios da turma na sua gênese foi justamente a casa de Belloto.

A capa de um dos mais emblemáticos discos dos Titâs, “Titanomaquia”

E possivelmente o tamanho da banda, com nove integrantes, tenha estimulado o batismo, pois titã é uma pessoa forte no sentido figurado. E aqueles jovens reunidos se sentiam suficientemente empoderados para lançar um projeto que ganhou corpo com o lançamento do primeiro trabalho, intitulado “Titãs”, em 1984, com a bobinha e sensacional “Toda Cor” entre os hits “Sonífera Ilha”, “Go Back” e “Marvin”.

A trajetória da banda, musicalmente falando e logicamente acontece quando se tem gênios estabelecidos no grupo, como um Arnaldo Antunes, lembra-me The Beatles e Beach Boys, por exemplo, guardadas as devidas proporções. Mas a turma do Arnaldo9 foi crescendo em sutileza rítmica e letras mais nervosas e inteligentes. O ponto alto foi “Cabeça Dinossauro” com suas músicas de protesto (Estado Violência e Polícia) que arrebatou jovens do Brasil inteiro.

O Õ blesqBlom é maravilhoso, já trazendo músicas cerebrais e bem construídas, numa viagem lisérgica (O camelo e o dromedário, O pulso). O seguinte eu não escutei muito, o Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Deveria estar escutando outra banda. Porém e mais uma vez a banda me surpreende com o lançamento de Titanomaquia.

Como falei do grunge no artigo passado, neste trabalho os Titãs importam nada menos do que o Jack Endino, produtor musical do Nirvana e o que temos é um disco de rock sensacional. Gente, é essa a minha opinião. Para mim, um disco primoroso que vinha embalado em um saco preto com um adesivo com o nome da banda fechando o plástico (que com o tempo se perde tudo e só fica o “encarte” colorido onde guardamos o vinil. Depois de Titanomaquia não acompanhei mais os Titãs. Terminou ali para mim. Não sei se fiz certo. Som na caixa com Titanomaquia. Só lembrando: na mitologia grega, Titanomaquiafoi a guerra entre os titãs, liderados por Cronos, contra os deuses olímpicos, liderados por Zeus, que definiria o domínio do universo. Zeus conseguiu vencer Cronos após resgatar seus irmãos depois de uma luta que durou dez anos. Foi o primeiro trabalho sem Arnaldo Antunes como vocalista.

 

  1. “Será que É Isso Que Eu Necessito?” – 2:49
  2. “Nem Sempre se Pode Ser Deus” – 2:20
  3. “Disneylândia” – 2:46
  4. “Hereditário” – 2:06
  5. “Estados Alterados da Mente” – 3:42
  6. “Agonizando” – 3:35
  7. “De Olhos Fechados” – 2:11
  8. “Fazer o Quê?” – 3:27
  9. “A Verdadeira Mary Poppins” – 2:18
  10. “Felizes são os Peixes” – 2:13
  11. “Tempo pra Gastar” – 3:45
  12. “Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguida de Orgia” – 3:08
  13. “Taxidermia” – 3:37

Veja o texto anterior da série

Quando o folk foi tensionado por Tracy Chapman