Grandes Discos que Ouvi #5

Quando o folk foi tensionado por Tracy Chapman

Em álbum homônimo de estreia, cantora estadunidense expôs seu talento em um trabalho experimentalmente eficiente que tensionou o folk com variadas vertentes afins e desconexas.

Fotos: Andreas Felipe

Por William Robson

Quer começar a ouvir folk, mas não sabe por onde começar? Pode então dar o pontapé inicial com este disco da Tracy Chapman, cantora estadunidense que lançou uma coleção de canções que englobam o estilo e ainda flerta com o blues, com o soul e com rock. É impossível não se envolver com a pegada deste trabalho tanto pela versatilidade vocal quanto por sua criatividade nos arranjos.

Sim, porque o folk não é uma tendência musical simples como muitos imaginam. Pelo contrário, traz elementos surpreendentes. Taí a faixa que abre o disco, “Talkin’ About a Revolution”, música que chama para o protesto e instiga os pobres a buscarem seus direitos. A canção ressalta a performance vocal de Chapman, com violâo ao fundo, e seguida pela emersão de um baixo pesado, que marca fortemente suas linhas e o andamento entremeado por notas harmônicas oitavadas e uma acentuada caixa de bateria.

Aliás, o disco foi lançado em 1988 com uma esplendorosa qualidade sonora e de masterização. Logo em seguida, o disco nos contempla com a faixa “Fast Car”, canção que oscila entre o melancólico com uma bateria conduzida no aro e intervenções que crescem à medida da audição.

“Behind the Wall” é a prova que somente a voz de Chapman é capaz de seduzir qualquer um e deixá-lo paralisado sob a lógica de uma canção à capela. Quando você é levado ao transe, entra “Baby, Can I Hold You”, a mais conhecida do disco, uma balada romântica que não ficou farofa por conta do excesso de execuções nas rádios.

O disco de estreia da Tracy Chapman, lançado em 1988

Elementos latinos increntam “Mountains o’ Things”, uma percussão combinada com sopros, batidas agudas e teclados, caracterizando o perfil versátil deste disco. Mas, como perguntei no início, se você quer enveredar pelo folk da melhor forma, escute então “For My Lover”, uma tradicional levada do estilo com violões, efeitos de slides e a voz médio-aguda sempre imponente . A estrutura mais clássica do folk.

Isso não quer dizer que as demais canções não estejam com este espírito da citada faixa. Pelo contrário. Talvez tenha sido o principal fator que faz deste álbum homônino da Tracy Chapman um som necessário, pois foi aqui que a cantora expôs seu talento em um trabalho experimentalmente eficiente que tensionou o folk com variadas vertentes afins e desconexas.

 

Faixas:

  1. “Talkin’ Bout a Revolution” – 2:39
  2. “Fast Car” – 4:56
  3. “Across the Lines” – 3:24
  4. “Behind the Wall” – 1:49
  5. “Baby Can I Hold You” – 3:14
  6. “Mountains o’ Things” – 4:39
  7. “She’s Got Her Ticket” – 3:56
  8. “Why?” – 2:06
  9. “For My Lover” – 3:12
  10. “If Not Now…” – 3:01
  11. “For You” – 3:09

 

VEJA A EDIÇÃO ANTERIOR DA SÉRIE

O grunge em minha vida