Combate ao coronavírus

Que reais fatores levaram ao recuo do Governo na reabertura econômica?

E a reabertura em Mossoró poderá transformar consumidores de outras cidades em potenciais pacientes que vão desembocar na estrutura de saúde local

O Governo aproveitou o dia para se explicar sobre a decisão que gerou polêmica, ao refrear a reabertura gradual da economia na metade da Fase 1. Polêmica, porque os empresários emitiram nota que destacava um misto de decepção e frustração e diante de prefeitos adversários, entre eles a de Mossoró, Rosalba Ciarlini, que deslocaram a problemática para o âmbito político.

Mas, como informou o jornalista Bruno Barreto, a reabertura em Mossoró poderá transformar consumidores de outras cidades em potenciais pacientes que vão desembocar na estrutura de saúde local.

O peso real da decisão tem três vertentes que se entrelaçam: o político, o econômico e o sanitário. Para o  grupo de interesse correspondente, a pressão evidentemente é maior. Cabe à governadora Fátima Bezerra ser a mediadora a fim de que o econômico não atropele as vidas de quem porta a Covid-19, nem que as jogadas políticas rifem toda a campanha de retomada reduzindo a possibilidade de maiores danos. Assim, como Bolsonaro (que diz estar com Covid), há quem busca se dar bem com o caos.

No entanto, há sensatez no meio de tudo isso. E coube ao secretário adjunto de Saúde Pública do RN, Petrônio Spinelli explicar a real situação pandêmica do Estado e o que levou o Governo a tomar as decisões, embora negligenciadas com finalidades políticas pelos adversários que buscam angariar ativos eleitorais.

Para ele, o momento é  “delicado, com avanços e riscos. Houve avanços positivos como a redução na pressão por leitos de UTI, a abertura de novas UTIs e a redução na taxa de transmissibilidade. Mas há risco muito alto porque não atingimos a redução necessária na ocupação de leitos para 80%”.  E a situação está mais crítica que em boletins anteriores. As regiões de Mato Grande (100%), seguida da região Oeste (98,1%), Metropolitana de Natal (98%), estão praticamente em colapso. Seridó (72%) respira dentro do nível anteriormente aceitável, enquanto Pau dos Ferros tem melhor quadro (60%).

Por outro lado, Spinelli ressaltou o que o Governo vem reforçando durante boa parte do período de pandemia. Porém, o próprio Governo decidiu ceder à pressão econômica e agora caiu, por consequência no jogo político dos opositores, que aproveitam para “passar a boiada”, permitindo que igrejas e templo, como ocorreu em Natal, com 100% dos seus leitos ocupados.

Diante da repercussão que livra a oposição e começa a cobrar da governadora a responsabilidade, a justificativa em entrevista coletiva nesta quarta-feira (8) foi necessária. Spinelli disse que “a evolução de hoje não tem o impacto do isolamento social dos últimos dez dias” e acrescentou: “o momento é de muita prudência, cautela, de atender as recomendações da ciência para salvar vidas”.

Assim, o panorama motivou o adiamento do início da fração 2 da fase 1 do Cronograma de Retomada Gradual Responsável das Atividades Econômicas.|O que ocorreria nesta quarta, ficou adiado para o próximo dia 15, caso não surja outro imprevisto.

“A sociedade precisa entender e se comportar com a responsabilidade que o momento exige: só sair de casa se for imprescindível, usar máscaras e respeitar medidas protetivas e normas de higiene. É importante que as prefeituras também sigam as recomendações. Não é demais alertar: temos 1.322 famílias com pessoas mortas em consequência da Covid”, pontuou Petrônio.

Enquanto o Governo apela pela compreensão, empresários não se sensibilizam. Representante da Fecomércio disse em entrevista na TV que o sacrifício dos empresários já foi feito e que era preciso reabrir e conviver com a situação. Não era de se esperar nada de onde não vem nada mesmo. A Fecomércio já adiantou que vai seguir as determinações da Prefeitura de Natal, porque logicamente convém aos donos do dinheiro.

Mesmo assim, o secretário estadual de Tributação (SET) e integrante da força-tarefa de enfrentamento à Covid, Carlos Eduardo Xavier lembrou  que o Cronograma de Retomada Gradual Responsável das Atividades Econômicas foi gestado em conjunto com entidades do setor produtivo – Fiern, Fecomércio, Faern. No entanto, concordaram com a reabertura, enquanto não aceitam qualquer recuo mesmo que custe vidas de potiguares ou, na linguagem deles, consumidores.

O Governo também começa a normalizar o futebol potiguar que, como sabemos, não promove tanta aglomeração assim.  Brincadeiras à parte, o Governo anunciou que os treinos dos times de futebol poderão iniciar no próximo dia 15 e o campeonato estadual pode ser iniciado em 1º de agosto, condicionado ao cumprimento de metas do cronograma.