Por que mesmo com RN acumulando infectados e mortes, a Fecomércio pressiona?
Quarta-feira, dia 24, seria o prazo para a reabertura gradual da economia no RN caso os números de leitos disponíveis alcançassem este nível. Natal e Mossoró estão em colapso, praticamente 100% de ocupação. Em dez dias, os casos de Covid subiram 47%
Mossoró alcança a marca de cem mortes por coronavírus após o fim de semana que o RN registrou o mais baixo nível de isolamento deste o início da pandemia. Considerando que o decreto vigente é o mais rígido assinado pela governadora Fátima Bezerra, o último final de semana registrou na sexta-feira (19) 36,8% e no sábado (20), 39,1%, índices muito preocupantes, à medida que a Secretaria de Saúde precisa trabalhar com níveis em torno de 60% para considerar o isolamento efetivo no combate à Covid-19.
Nesta guerra, o RN está perdendo e não é apenas o Governo. Todos. Até mesmo aqueles que lotam o Vuco-Vuco, como retratado pelo Portal do RN (foto em destaque) e os representantes da Fecomércio (federação dos empresários do comércio), que iniciam campanha publicitária para impor uma reabertura gradual da economia quando o Estado acumula casos e mortes. O especialista Ion de Andrade precisou escrever um artigo para reforçar que a entidade empresarial não é autoridade sanitária e nem pode determinar datas de volta à normalidade. A insensibilidade dos empresários é tanta que a proposta de escalonamento não apresentava qualquer relação com o número de vítimas. A proposta saiu da cabeça de quem viu apenas números… (…os dos cifrões).
Enquanto o isolamento não é respeitado, o comércio não poderá reabrir. Nem com a Fecomércio impondo fases de reabertura, nem com os clandestinos que insistem em deixar suas lojas entreabertas, em meia porta, para driblar a fiscalização. O termômetro sempre estará na fila de UTIs e ela não mente. Se não chegar a 70% de ocupação, nada feito.
Na próxima quarta-feira, dia 24, seria o prazo para a reabertura gradual da economia no RN, caso os números de leitos disponíveis alcançassem este nível. Natal e Mossoró estão em colapso, praticamente 100% de ocupação. Em dez dias, os casos de Covid subiram 47%. São 19.910 infectados e 730 mortos. Enquanto isso, a Fecomércio e alguns empresários em suas carreatas pró-pandemia querem todos aqueles que lutam por sua vidas passeando no shopping.
A proliferação da doença é tamanha que as cidades do interior do RN já respondem por mais de 60% dos casos de coronavírus. 62% mais exatamente. A situação, em relação à capital, se inverteu em pouco espaço de tempo, segundo informou as autoridades sanitárias do Estado. De acordo com documento do Ministério da Saúde, no Nordeste, o litoral ainda têm alta concentração de casos, embora seja possível ver um processo de interiorização. No RN, este processo já está acentuado, com destaque ao colapso no sistema de saúde público que chegou antes em Mossoró do que em Natal.
A situação ainda não está sob controle e não há previsão de retomada de vida normal na cidade e no RN, enquanto mais pessoas estiverem acometidas da doença e outras tantas morrendo. Não são empresários que, naturalizando a pandemia, responderão pelo caos na saúde pública. Eles não precisam da estrutura. O povo, na linha de frente, sim, embora brinque diariamente de roleta russa nos quiosques do Vuco-Vuco. Para sair dessa, não é cada um pensando em si. Mas, a ação conjunta de combate à pandemia em prol de vidas, felizmente ainda mais importantes que o dinheiro.