Girão imagina o jornalismo como uma caserna às suas ordens
O deputado federal bolsonarista General Girão (PSL) tentou intimidar o jornalista Bruno Barreto por atos antidemocráticos. O parlamentar imagina que o Brasil e o jornalismo são um quartel à mercê de seu autoritarismo
O General Girão é um parlamentar, mas acredita que está no quartel. Mais do que isso, supõe que o Brasil se transformou em um contingente de soldados a seus pés e às suas ordens. Busca dar as ordens para os seus subalternos esquecendo que agora ocupa um cargo eletivo e que, ao contrário do que imagina, está sujeito às ações e o olhar da mídia e dos jornalistas. Ele é o subalterno da sociedade.
Mesmo assim, quis fazer do jornalista Bruno Barreto, do Blog do Barreto e da Agência Moscow, um dos seus soldados à espera das ordens. Girão (PSL) tentou intimidá-lo por denunciar participação do parlamentar em ato antidemocrático, o que pode ser atestado em imagens divulgadas pela imprensa e por esta reportagem logo abaixo. A manifestação foi realizada no Dia do Trabalhador e da Trabalhadora (1º de maio), contra as medidas de prevenção à covid-19, promovendo aglomerações e com o mote “eu autorizo, presidente”.
Bruno explicitou o ataque bolsonarista que invadiu as ruas em suas redes sociais. Como resultado, foi ameaçado: “Intimidação extrajudicial Recebi no fim da tarde de hoje uma intimidação extrajudicial por parte do advogado do deputado federal General Girão (PSL) dando um prazo de 72 horas para que eu me retrate sob pena de ter que “arcar com as providências cabíveis”, leia-se me processar”, escreveu.
O jornalista recebeu um “documento” sem envelope, o melhor léxio que o Girão pôde exercer, com um juridiquês piegas, para amendrontar o jornalista. Inclusive determinou prazo para retratação. “Não vou me retratar”, afirmou o jornalista no Foro de Moscow.
Aliás, o jornalista aproveitou a edição desta quinta-feira (14) do Foro, para dizer que foi alvo de uma artimanha para que pudesse divulgar o seu endereço para ser remetido o tal papel por emissãrio ligado à dentista Ângela Schneider, que chegou a ser colocar, representando o bolsonarismo, às eleições à Prefeitura de Mossoró. “Girão, não precisa mandar essa intimidação amadora que sequer teve o cuidado de vir num envelope. Também não precisava mandar um assessor me procurar em nome de Angela Schneider alegando querer me entregar uma “correspondência” dela. Bastava enviar um direito de resposta”, comentou.
Bruno, desta forma, ofereceu o mesmo espaço para que o General Girão se explicasse, com sugere a democracia. No entanto, o parlamentar se comportou como se estivesse na caserna, ante um governo militarizado, no período que nem a ditadura o foi tanto. Além diso, crê que o jornalismo estivesse sujeito a seus caprichos.
O deputado é investigado desde junho de 2020 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O site WILLIAM ROBSON repercutiu reportagem do Uol no ano passado, que o general integrara lista de quatro parlamentares ligados ao bolsonarismo apontados no financiamento de protestos antidemocráticos com recursos declarados como “divulgação de mandato parlamentar”. Os recurso desembocavam na agência do publicitário Sérgio Lima, que recebeu ao menos R$ 87.700 da cota parlamentar de Girão e dos deputados Bia Kicis (PSL-DF), Aline Sleutjes (PSL-PR) e Guiga Peixoto (PSL-SP) nos seis meses anteriores.
A investigação levantava a hipótese que os recursos serviriam para a divulgação e financiamento dos atos antidemocráticos e o papel de Sérgio Lima era dar vazão à divulgação e convocação dos manifestantes. O Supremo Tribunal Federal quebrou o sigilo bancário de Girão e dos demais deputados bolsonaristas envolvidos com os serviços do publicitário.
Dos quatro, o mais dedicado neste propósito foi deputado do RN. O General Girão gastou R$ 51.800 desde dezembro do ano passado, quando se tornou cliente. Segundo o site, naquele mês, foi pago R$ 10.800 à S8 Sampa Agência de Propaganda. Embora o publicitário afirmasse que deixou a agência em dezembro, a Receita Federal, ressalta que o seu nome ainda consta como sócio.
Além disso, Girão protagonizou outros movimentos de autoritarismo. Em agosto do ano passado, encaminhou ofício ao Ministério da Justiça pedindo o envio de tropas federais ao Rio Grande do Norte para “prover a segurança das instalações do IFRN em Natal”, após protesto de estudantes do IFRN após agressões desproporcionais de policiais militares. O protesto dos alunos era contra a intervenção do MEC no processo eleitoral do IF na época, além de cobrar um calendário para a retomada de aulas remotas.
“O deputado General Girão não gostou porque critiquei ele por em vez de se preocupar com o povo em plena pandemia foi promover manifestação golpista. Reitero tudo que escrevi e digo ao general que não estou no quartel dele para seguir suas ordens”, denunciou o jornalista Bruno Barreto, nas redes sociais.
A matéria “General Girão: o deputado que está mais preocupado em dar golpe de estado do que em salvar vidas”, publicada no Blog do Barreto neste sábado (8) foi o estopim das agressões de Girão. Fez menção ao seu protagonismo em protestos que atentam contra a democracia. O parlamentar chegou a participar, em Natal, do ato “Eu Autorizo”, nome em resposta à fala do presidente Bolsonaro, que disse que aguardava “uma sinalização” dos brasileiros para “tomar providências” contra medidas de restrição de circulação decretadas por governadores e prefeitos contra a covid-19. Um arroubo autoritária e bravata que estimula um tal golpe de Estado.
“Recebi uma intimidação extrajudicial por parte do advogado do deputado federal General Girão (PSL) dando um prazo de 72 horas para que eu me retrate sob pena de ter que ‘arcar com as providências cabíveis’, leia-se me processar”, contou.
A imprensa do RN repercutiu o episódio. O Sindicato dos Jornalistas emitiu nota de solidariedade e a Agência Saiba Mais noticiou que que o jornalista recebeu um “papel que chegou em sua casa sem envelope com o objetivo de ameaçá-lo”.
“Não tenho nenhum problema pessoal. Sempre me dei bem com ele, checava informações e publicava artigos dele. Meu blog é do campo progressista mas é muito aberto, publico artigos de várias tendências aos domingos”, disse. “Se ele me processar, você acha que algum juiz iria me condenar por criticar Girão por agir contra o Judiciário, pedindo o fechamento do STF?”, pergunta. Pois é, o Girão convive com estes delírios, mas o jornalismo é maior que isso. E seguirá vigilante ao poder e diante daqueles que intentam ameaçar a democracia.