Governo

Fátima Bezerra, a senhora é a responsável, não esqueceremos!

A lembrança do eleitor é curta e explorada com hipérboles desnecessárias por entidades que também deveriam rememorar eventos recentes. A perda de memória implode o campo progressista

Por William Robson

Um card estampado das redes sociais da Aduern, a associação dos docentes da Uern, dá o tom para as eleições de  2020 e 2022: “Não esqueceremos!”, diz a curta frase. A imagem destaca a governadora Fátima Bezerra e os deputados que aprovaram, em dois turnos, a reforma da Previdência do Estado, responsabilizando-os de suposta “destruição das aposentadorias”. O tom revanchista rapidamente surgiu dois dias após a governadora aceitar a proposta para eleição direta na universidade. Dois dias suficientes para deletar da memória uma proposta que abrirá discussões mais avançadas em torno da autonomia universitária no porvir.

O card que expõe a perda da memória recente

Se alguns vão esquecer do que a governadora Fátima Bezerra tem demonstrado até aqui, nós não esqueceremos. É importante trazer à memória os seus mais recentes anúncios. Pela primeira vez, em quatro anos, os servidores do Estado estão recebendo a antecipação do décimo-terceiro salário, após quatro folhas em atraso estar em processo de regularização. Enquanto isso, o calendário de pagamento define os salários pelo mês trabalhado. Não esqueceremos disso!

Não vamos esquecer que o plano de pagamento dos salários atrasados (13º e mês de dezembro de 2018) do funcionalismo estadual deve sair até a virada do ano, segundo noticiou o jornalista Bruno Barreto no seu Blog do Barreto. “Determinei prioridade para trazerem uma proposta de pagamento das duas folhas atrasadas. A ideia é começar o pagamento no início do próximo ano”, informou a governadora.

Não devemos esquecer que Fátima assumiu o Estado em situação de dar dó, colapso administrativo e herança de R$ 2,6 bilhões em débitos. Mesmo assim, não se recusou a atender as categorias, sequer ouvidas nas gestões anteriores. Mal começou o atual governo, os servidores já apresentaram documento com cinco reivindicações, todas legítimas, mas não esperaram a cadeira esquentar. Como afirmou novamente o Bruno Barreto,  Rosalba vivia em guerras homéricas no âmbito do Governo e também da prefeitura contra os sindicatos e trabalhadores. Recentemente, o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindserpum) foi atingido fortemente em sua arrecadação ao desobrigar o pagamento da contribuição sindical dos seus filiados, ao desvinculá-la da folha de pagamento. Afora isso, é preciso lembrar dos dois anos sem diálogos com qualquer categoria no período rosalbista, este que não deveria ser esquecido.

Fátima, por sua vez, conseguiu atender às demandas anteriores de categorias como os policiais civis, sentando para dialogar e fechando um acordo. “Mesmo com a classe empresarial cuja a falta de afinidade ideológica é notória ela soube recuar quando criticada pelo decreto que suspendia o pagamento dos atrasados com os fornecedores”, lembra Bruno Barreto. Pois é, não há como esquecer.

As folhas em atraso e o poço de dívidas vieram acompanhados da Reforma da Previdência.  Até uma criança de quinta série de Sobral sabe, como diria Ciro Gomes, que a necessidade da reforma era compulsória e com data adiada para que fosse apreciada sob pena de contenção de recursos da União. Como escrevi em artigo anterior, no embate que uniu parlamentares da oposição e servidores, Fátima tentava costurar o melhor projeto, reduzindo o potencial de danos, com escalonamentos mais justos. E não fosse esta costura, a imposição de condições bem mais pesadas já estaria vigorando.

A reforma da Previdência compulsória se deu em meio ao imprevisível: a pandemia de coronavírus. Precisamos trazer à memória que a governadora disse que enfrentaria o problema e não importaria se custasse o seu mandato. Mas, nós não esquecemos, nem esqueceremos dos adversários como o garoto-propaganda da cloroquina, Jair Bolsonaro, os prefeitos Álvaro Dias e Rosalba Ciarlini e empresários gananciosos. O discurso da ivermectina e dos túneis placebo para reforçar a sabotagem da campanha. Os conselhos dos inimigos prontamente acatados pela governadora para não publicizar as ações e recomendações sanitárias.

Não esqueceremos também de como o Governo foi vítima do calote dos respiradores, comprados em caráter de emergência, que levou o Ministério Público a isentar o Governo pela transação mal-sucedida. Não esqueceremos. Apesar do calote sofrido, o Governo proporcionou que o RN alcançasse o 3º lugar entre os Estados que registraram maior redução de óbitos no Nordeste e manteve sempre boas referências de contenção da pandemia nos noticiários nacionais.

Não esqueceremos o que Fátima conseguiu avançar na segurança.  Os dados da própria secretaria apontam para a redução no primeiro semestre deste ano na quantidade de registros: 14.182 crimes diversos, contra 20.061 no mesmo período do ano passado, 29,3% a menos. Não tem como esquecermos disso.

A memória do eleitor é curta e explorada com hipérboles desnecessárias por entidades que também deveriam rememorar eventos recentes. Porque até bem pouco tempo, tínhamos governadores como Rosalba Ciarlini e Robinson Faria, estas sim, figuras para serem riscadas da mente. Porém, ao que parece, são os únicos que vêm à memória daqueles que esqueceram. Ou seus derivados que já ensaiam para 2022. Essa perda de memória implode o campo progressista potiguar.