A arrogância que vem da Câmara

A lapada dos noves fora no lombo dos artistas mossoroenses

A nota dos vereadores para explicar a insensibilidade ao recusar qualquer apoio emergencial aos artistas é arrogante, desrespeita um companheiro da Casa sensível à reivindicação da categoria artística da cidade, e demonstra desamor, para não usarmos a expressão “desumana”

Dos 11  vereadores que se recusaram a aprovar o projeto emergencial de apoio a uma das categorias mais vulneráveis em tempos de coronavírus, nove deles emitiram uma nota e expuseram seu caráter blasé e esnobe a um tema sério,  Por que o tema é sério? Porque a classe artística de Mossoró, cidade que uma vez reivindicou o título de capital da cultura do Brasil, sofre as consequências da falta de apoio e de trabalho. Estes nove parlamentares sabem disso, é chover no molhado.

A nota do grupo para explicar a insensibilidade ao recusar qualquer apoio emergencial é arrogante, desrespeita um companheiro da Casa sensível à reivindicação da categoria artística da cidade, e demonstra desamor, para não usarmos a expressão “desumana”. A preocupação perpassa por quaisquer necessidades de um categoria, mas se torna uma oportunidade para atribuir alusões partidárias a um tema que deveria ser tão somente humanitário e solidário com os seus conterrâneos

O espírito da manifestação deste grupo de vereadores é pesado. No lugar da sensiblidade à questão, depreciação. No lugar de amparo, escárnio. O recurso dos artistas não teve o respaldo merecido. Ao contrário, recebeu o desdém ascoroso.

O malabarismo para arrotar erudição no texto, seja no campo jurídico ou econômico, tenta esconder o desprezo, mas se revela em trechos como o “autor e seus partidários continuam afirmando que o projeto está correto para o fim que pretende”. Ou seja, os artistas são os partidários do vereador Gilberto Diógenes, o autor do projeto. A reinvidicação, segundo os nove fora, tem natureza sectária e não de interesse de um grupo tão essencial em tempos juninos não fosse a pandemia. Ou melhor, para eles, ninguém está passando necessidade e as lives no Instagram podem até quebrar um galho.

A nota que achincalha, ao desprezar uma demanda dos artistas, é recheada de pedantismo. No âmbito da Câmara Municipal, suposta ágora onde tal debate ascenderia em alto nível, os vereadores signatários não sugerem qualquer saída, nem propostas alternativas. Limitam-se a atacar o autor, colega de legislatura, ao afirmar que ele “foi relapso e relaxado, ao propor e divulgar para a classe artística, uma ideia que não esta materializada no texto”. Tudo bem, se esta fosse a melhor das justificativas, a essência da proposta não poderia sequer ser discutida, avaliada, aprimorada ou levada adiante diante da ocasião que exige urgência?

A explicação serviu para contribuir com mais uma lapada de cipó de aroeira no lombo de quem nada pode fazer neste momento, a não ser apelar aos representantes eleitos, sobretudo quando os decretos tendem a se tornar mais rígidos. Este cipó se une a outra lapada: a da privatização do Pingo da Mei Dia, instituição do município que ganhará versão virtual nas mãos da iniciativa privada sem que os artistas, nem sequer a Câmara, pudessem discutir o tema. Este é outro cipó no lombo dos artistas. Poucos deverão lucrar por um lado, enquanto a grande massa de artistas leem textos petulantes por outro.