Por que Fátima não conseguirá impor novo decreto mais rígido?
A governadora Fátima Bezerra tem sentido a pressão e teria afirmado a interlocutores que não pretende estender o decreto em vigor até o próximo sábado (3)
Por William Robson
Foi durante o acompanhamento dos detalhes da reforma de uma praça no bairro Barrocas, que o prefeito Allyson Bezerra recebeu telefonema da governadora Fátima Bezerra. Era para convidá-lo para participar de reunião com outros prefeitos para tratar do novo decreto a ser editado neste final de semana. O prefeito representará as demandas de várias categorias da cidade neste momento. E até agora, pelo que se sabe, é que a governadora está disposta a flexibilizar as medidas restritivas.
O prefeito confirmou a participação e adiantou a necessidade da reabertura do comércio. A situação na região Oeste, é preciso ressaltar, está no limite do colapso. 98% dos leitos seguem ocupados e pacientes de outros municípios são constantemente encaminhados para Mossoró por ser o centro de referência para os casos de Covid-19.
Mesmo com o quadro de pré-colapso, o alento vem na queda de pessoas na fila de espera por um leito. Chegou a 130 no RN. Agora, são 54, sendo 40 na região metropolitana. Mossoró também segue com vacinação em ritmo avançado, considerando a oferta de vacinas. Foram mais de 10% da população imunizada e a partir desta quinta-feira (31), os idosos a partir de 65 anos já podem procurar as Unidades Básicas de Saúde. Isso sem falar na população de rua, imunizada esta semana.
Considerando estes fatores, dá para afirmar que estamos avançando. Porém, em mais um recorde de mortes no país, com 3.950 mortes nesta quarta-feira (31), não dá para afirmar que já exista condições de reabrir a economia. As condições não se colocam como favoráveis, exceto pela pressão do setor econômico que perdeu a paciência com a pandemia e rifa a todos no estilo cada um por si.
A governadora Fátima Bezerra tem sentido a pressão e teria afirmado a interlocutores que não pretende estender o decreto em vigor até o próximo sábado (3). “Sem ter como prorrogar”, nas palavras da governadora, Fátima também observa recomendações de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN). Para os pesquisadores, as medidas em vigor foram suficientes para gerar efeitos positivos na estrutura de saúde do Estado, propiciando a flexibilização. São índices que consideram a redução da fila de espera e da taxa de transmissibilidade.
O Lais já vê a possibilidade da retomada das aulas em modalidade híbrida nas escolas privadas. Por sua vez, sugere a manutenção de restrições impostas pelo atual decreto em vigor no território potiguar e toque de recolher na Páscoa. A questão esbarra na pressão do setor econômico, que incide sobre os prefeitos e também sobre a governadora.
Os empresários da indústria, do comércio e de serviços no RN, por exemplo, tiveram reunião remota com o Governo. Apelaram pela flexibilização da economia com propostas de escalonamento nos horários de funcionamento do comércio e na circulação dos ônibus. Para o prefeito Allyson Bezerra, os representantes do comércio garantiram o rigor dos cuidados necessários com a finalidade de conter as aglomerações. A questão é: dá para realmente confiar nisso?
Por outro lado, o prefeito defende ampliação da fiscalização, a fim de garantir os protocolos sanitários, distanciamento social, uso de máscaras e álcool em gel em lojas e restaurantes. Os detalhes de segurança que conhecemos bem.
Diante das solicitações, Fátima está pendente a editar novo decreto mais conciliatório. Que embora considere tais fatores, observa o cenário epidemiológico e as orientações do Comitê Científico. “O que nos une aqui é que todos nós temos a concepção de ser a favor da saúde, da vida, da ciência, do emprego e da economia. Falo aos senhores que ninguém gosta de tomar medidas restritivas”, afirmou Fátima em reunião com os empresários na manhã desta quarta-feira (31).
De qualquer forma, quem aguardava pela prorrogação do decreto ou a edição de medidas restritivas ainda mais rigorosas, pode se contentar com a maior flexibilização dos setores econômicos em meio à cepa mais agressiva de Covid-19. E no limiar de recorrentes colapsos, dá para imaginar o que acontecerá com os hospitais em pouco espaço de tempo.