Na iminência do colapso no RN, teremos novo decreto mais pesado?
A questão que fica é: diante da ausência de leitos de UTI Covid no RN, o Governo será capaz de editar decreto ameno, frente à fúria do coronavírus?
Por William Robson
No final de semana passada, o hospital de campanha São Luiz abriu mais dois leitos de UTI Covid. Passou de 45 para 47. O pequeno alento se esvaiu rapidamente. Mossoró voltou aos 100% dos leitos ocupados, mesmo com o toque de recolher que se estendeu pelo domingo e quebrado por bolsonaristas aluados que transgrediram o decreto, aglomerarando-se na calçada do Tiro de Guerra. Mas, isso é outra história. O que se constata é que o panorama preocupante se mantém.
Iniciada uma nova semana, o RN apresenta dados que colocam o Estado com 97,7% de ocupação. 21 hospitais públicos estão lotados e apenas um tem leitos críticos, o Giselda Trigueiro, em Natal, com três vagas. Ou seja, se alguém precisar de leito em Mossoró, entrará na fila de espera, torcendo para suportar a espera.
A governadora Fátima Bezerra já havia relatado que abrir leitos é como um “poço sem fundo”. Medidas restritivas alcançam melhor resultado, desde que cumpridas e amplamente rígidas. O atual decreto, que vigora até a quarta-feira (17), imprime o toque de recolher a partir das 20h. Foi alvo de investidas do prefeito de Natal, Álvaro Dias, que editou decreto inócuo ao reduzir o toque de recolher.
Em Mossoró, a postura do prefeito Allyson Bezerra tem sido de diálogo constante com a governadora. Inclusive, as forças de segurança do município se aliaram às do Estado na fiscalização e no cumprimento das medidas do decreto. Porém, tanto Allyson, quanto Fátima, tem sido pressionados por diversos setores. Um deles, o de empresários, chegou a se reunir na quinta-feira (11) para sugerir flexibilização, quando a escassez de leitos na cidade se ampliava. A proposta consistia em reduzir o horário do toque de recolher e impor lei seca entre 20h e 22h.
Pois é. Não faz sentido qualquer cobrança de afrouxamento quando o sistema de saúde está em colapso. Seria jogar gasolina na fogueira, em nome do dinheiro e que a vida fosse um salve-se quem puder. O prefeito Allyson Bezerra ouviu a demanda dos empresários, porém a decisão são virá após concertação com o Governo do Estado.
Nesta segunda-feira (15), o prefeito se reuniu com a governadora, com o vice-governador, Antenor Roberto, secretários do governo e prefeitos do Rio Grande do Norte para alinhamento de ações de enfrentamento à Covid-19, via videoconferência. A reunião ocorreu de forma remota. “Há um entendimento de que o momento não permite aglomerações. Nós temos dado nossa de contribuição com a fiscalização”, afirmou Allyson. “Aqueles que tem cumprido o decreto tem feito o apelo para a fiscalização. Estamos juntos discutindo, apresentando ideias, propostas para que possamos salvar vidas e preservar empregos”.
O encontro é o primeiro que discutirá o teor do próximo decreto. A questão que fica é: diante da ausência de leitos de UTI Covid, o Governo será capaz de editar decreto ameno, frente à fúria do coronavírus? Há uma forte tendência para que o decreto se mantenha, ou pelo contrário, seja editado decreto ainda mais rígido.
Alguns estados implementam modelos bem mais rigorosos e até mesmo o chamado “lockdown”, suspendendo as atividades em todos os setores não-essenciais. Para este último caso, somente a compensação financeira, via auxílio emergencial ou outra forma de apoio do Governo, contribuiria para o sucesso de medidas rígidas assim,
“Nós estamos na base, escutando a população, tendo o contato mais direto com o povo e sabendo as dificuldades que existem na execução dos decretos. Semana passada fiz um apelo à governadora para que nós prefeitos pudéssemos participar da discussão dos decretos. Já enviei algumas propostas, algumas inclusive foram levantadas pela classe produtiva e pelo nosso Comitê de enfrentamento à Covid-19”, adiantou Allyson.
Uma nova reunião está marcada para esta terça-feira (16).