Compra de vacinas

O que motivou o boato de Mossoró fora do consórcio de vacinas?

O rumor tinha como enredo o fato de Mossoró não ter aderido ao consórcio para compras de vacinas contra a covid-19, feito pela Frente Nacional dos Prefeitos

Por William Robson

Basta uma única manifestação de sinapse. Claro que a estória sobre Mossoró estar fora do consórcio de vacina tem origem na prática mitômana de uma oposição frustrada, conectada em fábulas para atacar os adversários. Sobretudo, atingir aos mossoroenses que deixaram evidente que estas pessoas e suas práticas, mantidas por décadas, enfim, deixassem de existir.

O documento que mostra a inclusão de Mossoró no consórcio de vacinas

O boato  tinha como enredo o fato de Mossoró não ter aderido ao consórcio para compras de vacinas contra a covid-19, feito pela Frente Nacional dos Prefeitos. A secretária de Saúde, Morgana Dantas, se antecipou rapidamente para conter a desinformação que começava a tomar conta das redes sociais. E teve de explicar o ruído e apresentar o documento (veja ao lado). “É prudente e responsável que as pessoas, antes de divulgarem informação desta magnitude, certifiquem-se  dos fatos para evitar disseminar inverdades”, disse.

Como bem colocou o jornalista Carlos Santos em seu blog, não se trata de imprudência ou falta de aprofundamento na checagem da informação daqueles que se aprazem neste tipo de compartilhamento. Sem argumentos que parem de pé, a oposição ao prefeito Allyson Bezerra não adota o método da crítica fundamentada, mas a manifestação da frustração e dos “interesses amputados” a todo momento.

Como sabemos, o foco inicial da boataria teve origem em postagem do vereador Francisco Carlos, enraizado no grupo rosalbista há anos. Em sua postagem no Instagram, afirmou que a Prefeitura guarda doses de vacina (!?), “evitando vacinar nos finais de semana” e exigindo “agilidade na vacinação”.

Vereador usa as redes sociais para difundir o boato

Todos querem a agilidade, é verdade, porém todos reconhecem o fardo carregado durante a semana inteira por  profissionais de saúde neste período de pré-colapso da pandemia. Exaustos na batalha, a necessidade de retomar a luta na semana seguinte, exige descanso. Como sabemos, não são máquinas. Mesmo assim,  o vereador supõe que dá.

Diante disso, o boato se espalhou entre os remanescentes de um agrupamento político em frangalhos e da mídia alinhada que se regozijava, há pouco tempo, em contar os cadáveres oriundos da pandemia. Induziu, inclusive, parlamentares independentes, como o vereador Pablo Aires, a engrossar o coro do rumor de que Mossoró teria perdido suposto prazo de adesão ao consórcio.

A secretária explicou a situação, afirmando não haver data de término de adesão. “Hoje (sexta-feira)  não é o último dia de inscrição, não tem nem data para o término de inscrição. Então os municípios que não se inscreveram ainda podem se inscrever, tem vários dias aí pela frente, não está fechado ainda. Até hoje era para os 300 municípios que foram os fundadores desse consórcio. Então Mossoró já está inscrito e aguardando a possibilidade de compras da vacina através do consórcio”, disse Morgana, em entrevista ao site Mossoró Hoje, explicando que a adesão do município estava em processamento, assim como outros no país.

O túnel placebo que visava manter a circulação de pessoas, através do método de aspersão de substância

Pois é. Francisco Carlos dormitava nos meses em que a pandemia persistiu em 2020. A exemplo dos demais integrantes do seu grupo, a pandemia foi ignorada enquanto pôde, em prática negacionista no Estado que se assemelhou ao do prefeito de Natal Álvaro Dias.  A então prefeita Rosalba Ciarlini relativizava o problema, implantando geringonças em forma de túneis placebo, aspergindo substâncias inócuas em locais de grande aglomeração.  A Anvisa emitiu uma nota sobre a ineficiência dos túneis. No entanto, tinha finalidade política, ao  manter os mossoroenses na rua, o comércio aberto e o vírus ignorado.

O túnel nonsense foi desativado. Os custos de sua instalação nunca questionados ou sequer cobrados por quem hoje cobra, visceralmente, por providências. A Prefeitura de Mossoró recebeu R$ R$ 50 milhões do Governo Federal para o enfrentamento da pandemia no ano passado, recursos nunca detalhados ou transparecidos na mesma lógica que o vereador Francisco Carlos hoje impõe.

Desde que virou a chave na Prefeitura, atendendo a pedido de mudanças ante o anacronismo e patrimonialismo  de anos de gestão rosalbista, não caiu um centavo a mais de recursos específicos para o enfrentamento da Covid-19 em Mossoró. Não fosse parcerias com o Governo do Estado para a abertura de novos leitos de UTI, a situação estaria do agrado da oposição, que, como sabemos, jamais manifestou preocupação com a pandemia.

Quem não lembra da ex-prefeita Rosalba Ciarlini adotando o discurso bolsonarista, ao defender o uso da cloroquina?   Em comunicado emitido  em maio do ano passado , Rosalba explicou porque se rendeu a um medicamento ineficaz e até mortal. A sua fala bem que poderia ser atribuída a Bolsonaro: “Há vários trabalhos pelo mundo que mostram que a hidroxicloroquina, por exemplo, ajuda na fase inicial. Não podemos ficar esperando meses e meses e as pessoas morrendo”.

O vereador lembra quando a ex-prefeita anunciou no dia 25 de junho ter contraído o vírus. No entanto, o episódio teria ocorrido 20 dias antes e como os sintomas não se manifestaram, não fez alarde. A omissão deliberada em informar aos mossoroenses sobre o episódio tinha o intuito de manter o clima de normalidade na cidade. Como a  então prefeita, Bolsonaro também  tentou esconder seus próprios exames e até se passou por outra pessoa quando precisou ser submetido ao teste. Como a sua comitiva, em visita aos Estados Unidos, foi praticamente acometida por completo pela doença, não esperaria algo diferente do Bolsonaro, mesmo com o seu “histórico de atleta”. Mas, a insistência levou-o a revelar um teste negativo.

No ponto mais crítico da pandemia, a Prefeitura não parava de receber recursos para o enfrentamento, e não devidamente aplicados. Por exemplo, até junho, a Prefeitura de Mossoró contava com  R$ 17.971.664.33 disponíveis para o combate exclusivo da Covid-19 no município, valores repassados pelo Ministério da Saúde. Segundo o Portal do Oeste, no total, Rosalba já recebeu R$ 20.049.893,73 do Governo Federal para enfrentar o coronavírus. Porém, aplicou R$ 2.078.229,40, além de outros R$ 331.948,00 do Fundo da Infância e Adolescência (FIA). Não foi cobrada agilidade para o combate à pandemia pelos vereadores que hoje o fazem.

O cemitério novo, que enterrava os mortos por Covid em área que não estava murada

Sem concertação com os decretos do Governo do Estado, que estimulavam a quarentena, Mossoró simulava isolamento e não parava de enterrar seus mortos pela Covid.  A oposição, antes condutora dos destino dos mossoroenses, recorda da  controvérsia em torno do chamado cemitério novo. A Prefeitura de Mossoró desapropriou um terreno para ampliação da área, e começou a sepultar pessoas no local antes mesmo da construção dos muros de proteção. Isso foi feito por uma simples razão: a cidade não tinha mais onde enterrar seus mortos, diante do panorama fora do controle.

Portanto, os boatos neste momento dramático expõem mais o remorso de quem divulga do que o desejo de auxiliar no combate à pandemia na cidade. A natureza desta difusão é o desapontamento , o abatimento e a desilusão de serem humilhados e defenestrados como foram. Infelizmente, ainda não entenderam a mensagem.