Por que Rosalba escondeu dos mossoroenses o seu teste de Covid?
A falta de transparência é o que mais incomoda nos atuais governantes frente ao seus governados. Após o teste, qual foi o tratamento adotado pela prefeita? Outras questões não foram devidamente respondidas
NMossoró tomou um susto nesta quinta-feira (25). A prefeita Rosalba Ciarlini revelou no Bom Dia RN, da Intertv Costa Branca, que fez o teste para a Covid-19 e o resultado foi positivo. Isso teria ocorrido há 20 dias e como os sintomas não se manifestaram, não fez alarde. Segundo ela, a situação agora está contornada. E também curada. o que não deixa de ser uma ótima notícia.
Porém, os mossoroenses se viram diante de muitas dúvidas. Por que a prefeita não foi transparente em revelar o teste, sobretudo, neste tempo em que situações como estas precisam ser compartilhadas? Temos péssimos exemplos vindo do presidente que tentou esconder os números de casos e de mortes, no intuito de gerar uma falsa sensação de tranquilidade, de otimismo. Bolsonaro jogou 50 mil mortos para debaixo do tapete. Não fosse a reação conjunta da sociedade, estes números estariam embaçados, sem oferecer a real dimensão do problema. Rosalba, como principal agente público, não poderia esconder o seu caso.
Assim como a prefeita, Bolsonaro também tentou esconder seus próprios exames e até se passou por outra pessoa quando precisou ser submetido ao teste. Como a sua comitiva, em visita aos Estados Unidos, foi praticamente acometida por completo pela doença, não esperaria algo diferente do Bolsonaro, mesmo com o seu “histórico de atleta”. Mas, a insistência levou-o a revelar um teste negativo.
Que se saiba, Rosalba não tem histórico de atleta. Seu teste positivo aponta para a gravidade do problema em Mossoró, na alta transmissibilidade do vírus, até mesmo para a maior autoridade da cidade, que também é médica, conhecedora das fundamentais medidas profiláticas. Ou seja, o problema é sério e a sua reação assintomática não é justificativa para minimizar seu quadro, nem a pandemia.
A falta de transparência é o que mais incomoda nos atuais governantes frente ao seus governados. Após o teste, qual foi o tratamento adotado pela prefeita? Rendeu-se à cloroquina, como defendeu em casos iniciais (como o dela)? Que medicamento foi prescrito? Ficou em quarentena? Como foi o trabalho na Prefeitura enquanto isso? E o contato que teve com outros servidores foi evitado? Estas questões não foram devidamente respondidas pelo setor de comunicação, de quem se espera além do diversionismo de tags alegres de Instagram.
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As dúvidas foram tantas, de forma a rememorar o evento ocorrido no dia 13 de junho deste mês, quando a prefeita recebeu o documento histórico escrito de próprio punho pelo então prefeito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, em 1927. O evento na área aberta do Palácio da Resistência não teria coincidido com a data do anúncio do teste, segundo Rosalba. Na cerimônia, ela aparece com grupo de pessoas e concede entrevistas sem máscara. Como as incertezas são tantas, não se sabe se ela já hospedava o vírus ou, por outro lado, contraiu ali.
Mesmo com a insensível pressão econômica e na esteira de Bolsonaro, a prefeita Rosalba Ciarlini tem adotado medidas sensatas e consoantes com o Governo do Estado. Porém, nem sempre foi assim. O atual decreto da prefeita e da governadora Fátima Bezerra são coesos quanto ao período e ao fechamento do comércio até o final do mês. Mas, em decretos anteriores, Rosalba reabriu setores, chocando-se com a estratégia de combate à pandemia do ente estadual.
Assim, neste quesito, nota-se que a prefeita é ciente da gravidade da pandemia e, como Mossoró se tornou reduto iminente para uma explosão de casos e de mortes (além de colapso no sistema de saúde pública), as ações precisaram ser firmes e Rosalba assim o fez. O atual decreto sinaliza isso. Mas, se ela tivesse revelado antes como personagem de caso real de contágio e informasse aos seus conterrâneos, o engajamento comunitário poderia ser mais frutífero.
Talvez o contágio dela viesse a servir de consciência para as pessoas sobre os perigo das transmissões. E, óbvio, tranquilizá-las acerca a evolução da saúde de sua mandatária, que está bem. Tudo contribuiria para uma ação coesa e com propósito comum: neutralizar de vez este mal.