Fátima cede à pressão, reabre a economia e rifa seu governo
Nesta segunda-feira (29), quando 994 mortes pela doença foram confirmadas no Estado, além de outras 161 em investigação, a preocupação da governadora passou a ser outra.
Há cinco dias, a governadora Fátima Bezerra frustrou a pressão dos empresários pela retomada da economia. Afirmou ter a vida dos potiguares como maior preocupação ante os crescentes contágios de Covid-19 no RN. “Reconhecemos as necessidades do setor produtivo e do emprego, mas temos que cuidar da vida em primeiro lugar”, disse no dia 24, em entrevista coletiva.
Nesta segunda-feira (29), quando 994 mortes pela doença foram confirmadas no Estado, além de outras 161 em investigação, a preocupação da governadora passou a ser outra. Agora, ela frustra a vida dos potiguares. E, em meio a 28.970 casos confirmados, este mês será de retomada completa da economia. As fases descritas pelo Governo, em anúncio nesta tarde, ocorrem a partir do dia 1º de julho e seguem até o fim do mês, quando até os shoppings poderão escancarar suas portas e, quem sabe, receberem seus clientes ao som de sax como ocorreu em Blumenau (SC), cidade que hoje implora por ajuda.
No entanto, não é possível acreditar que Fátima deixou de se preocupar com a vida dos potiguares. Percebe-se que, na queda de braços com o setor econômico, venceu o vil metal. Os empresários vão contar seus lucros, enquanto Fátima vai precisar se virar com a quantidade de doentes, infectados graves e números baixos de UTIs nos hospitais. A classe elitista, sempre opositora a Fátima, terá dois motivos para comemorar agora: as vendas que voltarão e o desgaste político que se iniciará, ambos com alta voracidade.
Afinal, as intenções do empresariado sempre foram além dos seus lucros ou da velha dissimulação de “preservar empregos”, como no editorial da Tribuna do Norte, com as digitais do ex-presidente da Fiern, Flávio Azevedo, hoje diretor do jornal, que não hesitou em jogar no olho da rua 22 profissionais do seu diário em plena pandemia. Esta categoria espera que a retomada econômica venha acompanhada de possibilidade de enfraquecer politicamente a governadora petista, diante do enfrentamento do caos sanitário. Agora, não teremos mais isolamento, nem fiscalização, nem conscientização (aliás, nunca tivemos). Nada restará a não ser a ação solitária do Governo e de seus soldados da linha de frente do sistema de saúde pública.
A Prefeitura de Natal se antecipou e anunciou a reabertura do comércio a partir desta terça (30) na capital. O anúncio foi feito em coletiva de imprensa na tarde desta segunda (29) pelo prefeito Álvaro Dias. Em Mossoró, cidade que acumula dinheiro em caixa para o combate ao coronavírus, é provável que também faça o mesmo. Comércio aberto, aglomerações, indiferença… Mas, toda a culpa do colapso recairá sobre as costas de Fátima, com campanha forte de empresários e dos setores políticos adversários que afirmarão, posteriormente, ter cumprindo suas partes nesta pandemia que ainda não terminou.
Fátima reabriu a economia e afirmou: “Vamos manter o distanciamento e o isolamento social, medidas de higiene e todos os protocolos sanitários”. Com a força do decreto, o isolamento social não alcançava 40% da população na maioria dos dias da semana. Com tudo livre, leve e solto, acredita a governadora que haverá.
O Governo garantiu que a retomada econômica ocorreria quando os níveis de ocupação das UTIs alcançassem os 70%. Seguem acima dos 90%. Segundo o Regula RN, na tarde desta segunda-feira (29), haviam 37 pessoas na fila de espera por um dos seis leitos críticos disponíveis e 37 pessoas aguardando por um dos 56 leitos clínicos disponíveis. Portanto, faltam UTIs para tantos doentes.
O argumento que vem sendo utilizado agora é de que, apesar do alto número de óbitos, a taxa de transmissibilidade da doença tem se estabilizado nos últimos 15 dias e que estaria caindo de maneira gradual.
Decerto, o Governo deixa de observar seus próprios parâmetros anteriormente definidos, para levar-se pela estratégia escusa e insensível da pressão econômica. O peso dado às vidas há cinco dias, hoje é relativizado. Mas, se a conta chegar, será a governadora Fátima Bezerra que terá de pagar. Somente ela. Só e somente só. Os empresários e adversários não perderão a oportunidade de deixar isso bem claro. E tomara que esta conta não venha da pior forma, com o sacrifício da sociedade potiguar a fim de atender a interesses de uma classe. Se tivermos o pior cenário, Fátima será responsabilizada fortemente pela sociedade, o que pode inviabilizar o seu governo. É torcer que esta reabertura não seja para o caminho do caos.