Saúde pública em risco

Por que Rosalba usa o pretexto da cloroquina para explodir o isolamento?

O que leva Rosalba a arriscar no incerto? O que a faz agir na lógica bolsonarista de empurrar cloroquina goela abaixo nos enfermos mossoroenses? Por que ela decidiu ser porta-voz do bolsonarismo e colocar seus conterrâneos em risco?

Como sabemos, a cloroquina virou objeto de discussão política. Mais que científica, até. Os relatos dos pesquisadores apontam para a eficácia duvidosa do medicamento no tratamento de pessoas acometidas pela Covid-19. Há relatos de reações em pacientes com predisposições cardiacas que, após submetidos ao tratamento, falecem em casa. Ou seja, a comprovação de sua eficiência é constestada e, se pode matar pessoas, não deve ser receitada.

A situação se tornou política desde que Bolsonaro transformou-se em garoto-propaganda do medicamento. Contrário à sua maluquice, dois ministros da saúde pediram para sair em um espaço de um mês. Dois médicos contra um louco tentando se passar por um. Os médicos rechaçam, enquanto políticos mais insensíveis apostam na cloroquina. Por que acreditar em um medicamento cuja eficácia é constestável? A resposta está na pressão econômica.

Os empresários e comerciantes locais fazem sistemático lobby para que o isolamento social seja definitivamente arruinado em Mossoró. E se formos falar a verdade, o isolamento social é praticamente inexistente e, portanto, basta encontrar um pretexto. Foi preciso que, há duas semanas, uma força-tarefa iniciasse fiscalização e não foi difícil encontrar estabelecimentos abertos no Centro da cidade e até bares promovendo festas com 200 pessoas.

Acontece que Bolsonaro escolheu a cloroquina para gerar a sensação social de tranquilidade, de que todos poderiam retomar à normalidade de suas vidas porque se ficarem doentes, há um suposto tratamento. Esta é a razão pela qual a cloroquina é enaltecida por Bolsonaro e agora pela prefeita Rosalba Ciarlini, seguindo o mesmo roteiro.

Em comunicado emitido pela Prefeitura de Mossoró, no final da semana passada, Rosalba explicou porque se rendeu a um medicamento ineficaz e até mortal. A fala é de Rosalba, porém poderia ser atribuída a Bolsonaro sem maiores problemas: “Há vários trabalhos pelo mundo que mostram que a hidroxicloroquina, por exemplo, ajuda na fase inicial. Não podemos ficar esperando meses e meses e as pessoas morrendo”.

O que leva Rosalba a arriscar no incerto? O que a faz agir na lógica bolsonarista de empurrar cloroquina goela abaixo nos enfermos mossoroenses? Por que ela decidiu ser porta-voz do bolsonarismo e colocar seus conterrâneos em perigo? São questões para reflexão séria em momento tão delicado que estamos passando.

Como pano de fundo, temos a pressão econômica sobre a vida das pessoas. Não há temor de catástrofe humanitária na cidade desde que os empresários possam fazer girar suas máquinas registradoras. Nem que para isso seja usado o pretexto da cloroquina para explodir o isolamento. Há um objetivo nisso: permitir que todos se sintam a salvos porque há um tratamento na fase inicial da doença, como a prefeita ressaltou. Ou melhor, se você for trabalhar e ficar doente, não se preocupe: temos cloroquina para você. Pode trabalhar tranquilo. Se morrer, temos peças de reposição.

O empresário não pode fazer o sacrifício, no entanto,  o trabalhador pode ser jogado nos antros do coronavírus. A carreata pró-pandemia se une à cloroquina da prefeita, jogando Mossoró à própria sorte e à iminência de um colapso sem precedentes do sistema de saúde local.