Lobby

Por que Bolsonaro faz tanta questão pelo uso da cloroquina?

Qualquer líder sensato e preocupado com a integridade de seu povo jamais aceitaria decisão que viesse a provocar um genocídio, mortes em massa. Porém, estamos falando de Bolsonaro, o mesmo que despreza a ciência

Num intervalo de um mês, dois ministros da Saúde deixaram o Governo e, em plena pandemia, este órgão importante está acéfalo, não fosse o beneplácito do amigo e general Eduardo Pazuello ao assumir a pasta interinamente. Na tensão de um país praticamente abandonado pelo governo e doente, amontoando centenas de corpos todos os dias (até ontem eram 16 mil brasileiros vítimas da Covid-19), somente uma preocupação passa pela cabeça do presidente Jair Bolsonaro: a quebra do isolamento.

Qualquer líder sensato e preocupado com a integridade de seu povo jamais aceitaria decisão que viesse a provocar um genocídio, mortes em massa. Porém, estamos falando de Bolsonaro, o mesmo que despreza a ciência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os exemplos bem sucedidos vindo de países que começam a retomar uma vida (vamos dizer assim…) “normal”. É exatamente o contrário. A sua pressa está aliada ao sacrifício de milhares de brasileiros em nome da economia.

Já foram vários os argumentos que o presidente utilizou para tentar minimizar a pandemia, todos você já conhece muito bem. De “gripezinha” até ao “e daí?”, foram muitas tentativas de estimular as pessoas a arriscarem suas vidas para atender à pressão dos empresários. Vale lembrar que outras autoridades, que deveriam estar protegendo vidas, estão seguindo este receituário. E não fosse a resistência em muitos Estados, uma catástrofe humana no Brasil já teria corrido o mundo.

Os ministros da Saúde de Bolsonaro (Luiz Mandetta e Nelson Teich) foram de encontro  ao seu chefe quando seu novo argumento genocida emergiu. A de que os pacientes poderiam ter um tratamento eficaz à base de cloroquina. A imposição foi tanta que, sem qualquer explicação lógica, ativou o laboratório do Exército para a produção do tal medicamento. Bolsonaro ressoou a bobagem original de Trump sobre o tema e, não à toa, Estados Unidos e Brasil estão colecionando vítimas e infectados que impressionam o mundo. Resultado: ambos tiveram que sair.

Por que Bolsonaro faz tanta questão do uso da cloroquina e fala a propriedade de quem pesquisa ou de quem é médico?  Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo desta segunda-feira (18),  o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta tem uma explicação:  “A ideia de dar a cloroquina, na cabeça da classe política do mundo, é que, se tiver um remédio, as pessoas voltam ao trabalho. É uma coisa para tranquilizar, para fazer voltar sem tanto peso na consciência. Se tivesse lógica de assistência, isso teria partido das sociedades de especialidades [não do presidente]. Por isso não tem gente séria que defenda um medicamento agora como panaceia”, afirmou.

Mandetta também alertou para os perigos que a cloroquina pode provocar nos pacientes, com consequências cardíacas graves. Além disso, a sensação de que a cloroquina poderia ser a salvação a ponto de as pessoas sentirem-se motivadas a voltar ao trabalho aceleraria o colapso na estrutura de saúde no país. Seria uma tragédia.

Por esta razão, enquanto a vacina ainda não chegou (embora os avanços sejam animadores), não há cloroquina ou qualquer medicamento que faça a vida de antes ser retomada. O isolamento e o distanciamento social devem ser respeitado. Por todos e com a fiscalização séria dos governantes.

E como acrescentou Mandetta, na entrevista: “Não é que o isolamento vai evitar ter o vírus. Você só vai sair disso o dia em que as pessoas pegarem a doença e tiverem sistema imunológico [contra o vírus], ou que tiver uma vacina. Mas você pode influenciar a velocidade com que isso vai acontecer. A mercadoria mais preciosa é tempo para montar um sistema minimamente organizado.”

Portanto, o lobby da cloroquina é uma estratégica para jogar você na lista que já conta com 16 mil vítimas  para que a roda da economia continue girando.  Cuidado: o bolsonarismo  mata.