Ufersa: eleição virtual em meio às incertezas de intervenção
A eleição virtual foi a única saída para evitar a intervenção na instituição, fantasma real que anda em derredor nas universidades e institutos federais. O caso mais recente envolveu o IFRN; eleições ocorrerão em junho
Desde o final do ano passado que a questão que envolve as eleições (ou, como alguns gostam de chamar, “consulta”) para reitor e vice na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) são controvertidas. Embora a eleição tenha um caráter de consulta a ser submetida ao crivo do presidente Jair Bolsonaro, as movimentações já corriam nos bastidores.
Para recapitular, durante as movimentações mais polêmicas, o destaque foi para a exoneração do pró-reitor Rodrigo Sérgio e de seus auxiliares que se colocaram como oposição ao candidato do reitor José de Arimateia de Matos, Rodrigo Codes.
Outro ponto dos bastidores da Ufersa envolve o nome de Rodrigo Sérgio, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas, que escolheu Almir Mariano, do Centro de Engenharias, como seu vice. Sérgio acredita ter o apoio do PSL local para ser o nomeado pelo presidente (o partido, embora fraturado, ainda conta com alguns apoiadores bolsonaristas), caso seu nome esteja na lista. A tarefa é considerada difícil diante da sua pouca notoriedade entre os integrantes da comunidade acadêmica. Por isso, ele busca apoio de todas as formas, supondo ser o único nome preferido, algo que, segundo relatos na universidade, não passa de especulação.
Mas, é aí onde mora o aspecto mais importante a ser considerado. Na segunda-feira passada, o Conselho Universitário da Ufersa (CONSUNI) deliberou sobre as eleições para a sucessão do reitor José Arimatéia. Antes previstas para 15 de abril, as eleições foram suspensas por conta da pandemia de coronavírus. Assim, o pleito foi remarcado para o dia 15 de junho, através de uma eleição virtual – algo inédito na instituição. Na próxima semana, o edital será publicado e a campanha iniciada no próximo dia 27.
A eleição virtual foi a única saída para evitar a intervenção na instituição, fantasma real que anda em derredor nas universidades e institutos federais. O caso mais recente envolveu o IFRN, quando o Ministério da Educação nomeou para a reitoria um professor que sequer participou da eleição, realizada em 2019. Trata-se do interventor Josué de Oliveira Moreira, recém-filiado ao PSL e que recebeu as bênçãos do deputado General Girão, o mesmo flagrado em padaria num bate-papo com o professor Rodrigo Sérgio, como relatou o jornalista Bruno Barreto, no programa online Foro de Moscow.
Outras instituições, como o Cefet, do Rio de Janeiro, e o IFSC, de Santa Catarina, também foram alvos de intervenção. Ou seja, a possibilidade não pode ser descartada.
REAÇÃO
A eleição virtual é a forma encontrada para tentar fazer valer a legitimidade da escolha, embora o Governo Federal não dê a mínima para isso. Mesmo assim, a tentativa de construir uma lista tríplice que considere a consulta democrática de docentes, técnicos e alunos da instituição é a arma que se tem contra qualquer imposição goela abaixo.
Os candidatos estão atentos a isso e temem que a escolha recaia sobre aquele mais alinhado ao bolsonarismo ou, na melhor das hipóteses e dependendo do desempenho na lista, não tenha históricos ligados à partidos de esquerda. Esta tem sido a toada e não deve mudar, por enquanto, a menos que o Centrão ocupe a pasta do Ministério da Educação, mude a lógica, e jogue o Abraham Weintraub na lata do lixo (sem otimismo, claro!).
Mas, certamente, o Governo Federal, a partir de seus interlocutores no Estado, vão diferenciar, seguindo seus próprios critérios, quem foi militantes de partidos de esquerda daqueles mais conservadores ou até mesmo direitistas extremados. Já há candidatos considerando este aspecto, até atuando com demonstrações de “bolsonarismo-raiz”.
Mesmo assim, o Consuni tenta levar a situação com ares de tranquilidade, com edital a ser lançado e pré-candidaturas já definidas (pelo menos, por ora). O professor Rodrigo Codes , do Centro de Engenharias, estará ao lado do professor Francisco Edcarlos, do campus de Angicos. O ex-reitor Josivan Barbosa, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas, indicou Nilza Dutra, do Centro de Agrárias, como sua vice e tenta retornar à reitoria, após oito anos. Por fim, a professora Ludimilla Oliveira , também do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas, escolheu o professor Roberto Pordeus, do Centro de Engenharias.
Das quatro duplas, três devem constar na lista tríplice a ser enviada ao presidente Jair Bolsonaro, que pode escolher uma delas, não necessariamente a primeira colocada. Ou pior, pode não escolher nenhuma delas.