Sob o olhar de Carluxo, como o ministro Fábio Faria vê o “gabinete do ódio” de Bolsonaro?
Mesmo com a CPMI das Fake News, o cancelamento de inúmeras contas bolsonaristas e a ofensiva em andamento do Supremo Tribunal Federal (STF), veja como o ex-parlamentar potiguar e agora ministro minimiza a máquina de destruir reputações
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, começou a bajular o presidente Jair Bolsonaro quando entrou de cabeça no que ele chama de polarização. Para agradar o chefe, é preciso mais que afagá-lo, necessita sempre usar o Partido dos Trabalhadores como alvo a ser atingido.
Quando assumiu a pasta há cerca de um mês, atacou os ex-presidentes que outrora apoiou e fez questão de passar o dia apagando as postagens que traziam referências elogiosas a Lula e à Dilma. Neste seu ambiente que mais lembra uma seita de Jim Jones, é importante que a “nova vida” seja baseada na hostilização.
Convertido ao bolsonarismo, Faria voltou-se contra o (agora) seu maior inimigo: “Já votei no PT no passado, sim, mas em 2016, fui a favor do impeachment de Dilma e sou o maior adversário do governo do PT no RN”, justificou, em demonstração de envolvimento total com o espírito bolsonarista. O presidente não nutre tanta fidelidade e, ao inflar os ministério que antes prometeu enxugar, empreende o apoio do Centrão e, portanto, Faria tem um pé no núcleo fisiologista.
Na coluna no jornal O Globo, o jornalista Bernardo Mello afirmou que o genro de Silvio Santos sempre teve vocação para o governismo, ao apoiar Lula, Dilma e Temer antes de bater continência para o capitão. Hoje, renega o passado. E o colunista ressalta: “Como ensinou o poeta, o amor é eterno enquanto dura”.
Ao lado de Bolsonaro, sem saber até quando este amor vai durar, tenta levar adiante o comando de uma pasta que não domina, praxe na composição na Esplanada do atual Governo. E o presidente sabe disso. “Ele não é profissional do setor, mas tem conhecimento, até pela vida que ele tem junto à família do Silvio Santos”, disse. Ou seja, o ex-parlamentar potiguar está lá por duas razões: pelo aceno ao Centrão e por aprender por osmose as lições de seu genro na TV.
Mesmo assim, não se sabe ao certo qual tem sido a atribuição de Faria. O filho de Bolsonaro, o Carluxo, é quem segue na linha de frente estratética dos disparos de fake news, cuja estrutura é denominada de “Gabinete do Ódio”. A prática é relativizada por Faria, ao conceder insípida entrevista neste domingo (26) ao jornal O Globo. Insípida pelas sucessivas passadas de pano no pai e no filho, e pelo conteúdo vazio das respostas.
E a maior das passadas de pano está no “Gabinete do Ódio”, identificado pela CPMI das Fake News, no cancelamento de inúmeras contas bolsonaristas e na ofensiva em andamento do Supremo Tribunal Federal (STF), o Gabinete do Ódio não se trata de hipóstese. É uma constação que Faria prefere não ver: “Achar que isso é um “gabinete do ódio”, de destruir pessoas, isso não existe”, explicou o ministro, oferecendo o seu universo paralelo.
Segundo Faria, a estrutura que gerou as fake news, de mamadeira erótica a Ferrari de ouro do Haddad, além de estimular fechamento das instituições democráticas e o retorno da ditatura, é algo que, para ele, é mera estratégia de marketing político. “O gabinete que vocês falam que tem do lado do presidente é de pessoas que estavam com ele durante a eleição e que cuidam das redes do presidente”.
E para deixar o presidente em situação confortável, garante que o ódio vem de todos. “As intrigas e guerrilhas virtuais há em todos os lados. Se for tratar nesses termos, todo mundo tem seu “gabinete do ódio” porque todo mundo é atacado diariamente e responde a ataques. Se lá no Planalto existe um “gabinete do ódio”, existem 513 na Câmara e 81 no Senado”.
Em conversa ao Foro de Moscow, a deputada federal Natália Bonavides, que integra a comissão das fake news, não apenas confirma como explica o “gabinete do ódio” do bolsonarismo. Na entrevista de Fábio Faria, os jornalistas Bela Megale e Celso Pereira dizem que “os integrantes do “gabinete do ódio” têm vínculo com o vereador Carlos Bolsonaro”.
Como se sabe, o gabinete existe e é atuante. No entanto, Faria terá de explicar a afirmação de que em todos os gabinetes do Congresso existe algo com as mesmas características e objetivos. Denúncia grave, inclusive.
No antro bolsonarista, o ministro pratica o aulicismo de clã. O chefe não é apenas o Bolsonaro, mas o filho Carluxo tem ação direta no ministério. Ambos são bajulados com maestria. “Não tem rede de distribuição em massa, se tivesse isso já teria aparecido. Mas realmente ele (Carluxo) incomoda, porque quem não gosta do Bolsonaro sabe que Carlos é um grande ativo que o pai tem”, diz, em sua plena subserviência.