28 de setembro de 1997

Quando os mototáxis surgiram em Mossoró

Uma febre que passou a ser incontrolável se espalhou pela cidade

Por William Robson

Virou uma verdadeira peste a quantidade de mototáxis nas ruas de Mossoró. Uma febre que passou a ser incontrolável, se espalhou pela cidade mostrando aos motoqueiros que dá para ganhar dinheiro sem precisar de patrão.  Basta estar devidamente regularizado, aqui também a sua moto, colocar um colete, comprar um capacete e sair por aí em busca de passageiros.

E moda atacou o Brasil inteiro.  Em Mossoró, chegou há pouco mais de quatro meses de forma tímida para não assustar as autoridades com um serviço denominado de “moto-service”, de transporte de encomendas. Aos poucos, foram expandindo-se para passageiros e não parou mais de crescer.

Nessa área específica, um mototaxista segue algumas regras básicas  para garantir a segurança do passageiro e promover a fama de credibilidade. Andam de farois acesos, não passam dos 40 km/h e conscientizam as pessoas da importância do capacete. Uma corrida para qualquer parte da cidade custa R$ 1,00 A profissão não foi regularizada, mas também não foi proibida.

 

CLANDESTINOS?

Mototaxistas, em imagem da Gazeta, em 1997 (Acervo: Gazeta)

A Prefeitura de Mossoró ainda não se manifestou quanto ao assunto, mas, de acordo com a  Secretaria de Serviços Públicos, a decisão pode vir a ser publicada no Diário Oficial, ou seja, o parecer do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) que derruba a criação dos mototáxis.

Enquanto isso, a cada dia surgem postos que alistam candidatos a mototaxistas. Para ingressar num desses postos é necessário estar com a documentação em dia e pagar diariamente uma taxa que varia entre R$ 2,00 e R$ 5,00 ao proprietário. A GAZETA conseguiu localizar 26 postos em pontos estratégicos da cidade, mas pessoas ligadas ao ramo já contaram mais de 60.

Um dos primeiros foi a Mototáxi Abner, que funciona na Avenida Presidente Dutra, no Alto de São Manoel. O gerente Edmilson Galdino, evangélico que diz ter recebido de Deus a orientação para montar um posto, recrutou 30 motoqueiros, que lhe dão diariamente R$ 1,00 pela concessão do local e o uso do telefone. “Existem muitos postos clandestinos na cidade”, afirmou categórico

Falar em clandestinidade de mototáxi é como um pleonasmo. Edmilson disse que fez de tudo para tentar se regularizar junto à Prefeitura, mas até agora, nada foi feito.

Na Cooperativa de Moto-Service, a primeira a funcionar na cidade, tem 50 motoqueiros, entre homens e mulheres. Para poder integrar à cooperativa é necessário ser indicado por dois cooperados, ter atestado de boa conduta, habilitação e toda a documentação necessária. “Estamos lutando para a implantação do serviço”, diz o presidente Gilce Alves Sobrinho. “Queremos lançar a proposta de que para cada dois taxistas, seja colocado um mototaxista”.

Como em Mossoró existem aproximadamente 320 táxis, com a sugestão da Cooperativa de Moto-Service atuariam na cidade entre 150 e 160 mototaxistas. Assim, muitos iriam cair fora, porque, acredita-se, mais de 600 motocicletas estão no transporte de passageiros.

Acervo: jornal Gazeta do Oeste
Agradecimentos: Rádio Difusora

 

 

Secretário não usaria capacete de mototaxista

Se dependesse de mototáxi, o secretário de Serviços Públicos da Prefeitura de Mossoró, Antônio de Castro Dias, andaria a pé.  Ele, particularmente, é contra o serviço porque não oferece nenhuma segurança”. “Muitos morreram em acidentes de moto”, diz.

Ele acha que os mototaxis estão prejudicando o andamento do setor de transportes na cidade. Grupos de motoqueiros foram ao seu gabinete para negociar a concessão do serviço, mas Antônio de Castro negou porque “não tem nada na lei em que possa se basear”. Os mototaxistas saíram indignados, dizendo que iriam procurar a Promotoria Pública.

Ele mostrou um documento do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) aprovando o pare- cer do conselheiro Klinger Sobreira contrário à criação de mo- totáxi no Brasil. A decisão será publicada no Diário Oficial da União, nos próximos dias. “Depois de publicada, poderemos tomar uma decisão”.

Antônio de Castro não é contra as motos apenas por causa da segurança. Diz que os capacetes de passageiros, oferecidos pelos mototaxistas, são anti-higiênicos. “Eu não teria coragem de colocar um negócio daquele na minha cabeça”, conta. “Aquilo passa por muitas outras, com piolhos, caspa, feridas. A Cooperativa de Moto-Service vai utilizar umas toucas que serão colocadas nos passageiros ao usarem o capacete.

 

“Eu não teria coragem de colocar um negócio daquele na minha cabeça”

Antônio de Castro, secretário

 

Mototaxista ganha, em média, R$ 45 por dia

A proliferação de mototáxis em Mossoró é compreensível. Em média, um motoqueiro chega a ganhar, por dia, R$ 45,00, transportando passageiros a RS 1,00, cada. Exceto os domingos, um mototaxista fatura, tirando as despesas com combustível, RS 900,00.

A preferência é maior por motos de 125 cilindradas, que são econômicas Nas revendedoras de motos da cidade, procura vem aumentando e muitos optam por financiamentos a ser pagos com o apurado do trabalho. O diretor da Motoeste  — concessionária da Honda em Mossoró –explicou que muitos ainda estão em busca de informações sobre as formas de pagamento. Na Porcino Imports, que revende motocicletas da Suzuki, a situação se reflete da mesma forma.

O faturamento de um mototaxista pode até aumentar como no caso de ele trabalha por conta própria, sem vinculo a posto. No Vuco-Vuco, a motocicleta de 125 cilindradas ficou supervalorizada, em consequência da procura.

Quer dizer, virou uma arma importante que garante emprego certo e rentável.

 

Taxistas criam táxis-lotação para competir

Os taxistas são os maiores prejudicados com o crescimento incontrolável de moto-táxis. Praticamente não fazem mais corridas como de costume. Alguns passam o dia inteiro esperando passageiro e voltam para a casa sem nenhum tostão. Como o taxista Francisco de Assis Medeiros, 49 anos, há 22 trabalhando na profissão. Ele costumava apurar entre R$ 30,00 e R$ 60,00. “Hoje, passei o dia parado”, lamenta.

Na opinião de Nailson Queiroz, também taxista, o serviço de mototáxi deve ser extinto. “Se continuar assim, nós não teremos dinheiro nem para comer”, diz. Enquanto um motoqueiro faz uma corrida para qualquer parte da cidade por RS 1,00, os taxistas cobram R$ 1,30 apenas para o passageiro entrar no carro. “Isso é injustiça. Nós temos concessão, aferição do Inmetro e pagamos impostos”, diz Nailson.

Para se ver na concorrência com os motoqueiros, os taxistas criaram sistemas interessantes como o “taxi-lotação”. Eles transportam quatro pessoas, a R$ 0,50 cada uma Outros, deixaram o carro na garagem e aderiram ao movimento dos mototáxis.

A população, por sua vez, é favorável ao serviço de mototáxi. “A população esta gostando, porque o serviço e bom”, diz a estudante Tatiana Costa Queiroz, 20, que costuma usar ônibus. “Não acho que os motoqueiros vão atrapalhar os taxistas. A clientela de cada um e diferente”, afirma Emanoel Neto, 35, que trabalha em almoxarifado.

As empresas de ônibus, que também se sentem prejudicadas, procuram cumprir regularmente os horários de chegada nas paradas, a fim de oferecer um transporte mais rápido e eficiente.