Análise do dia

Qual será o perfil do novo partido que Agripino vai comandar?

O ex-senador, antes de ser o último a apagar a luz do DEM, envolveu-se em  júbilo com a ideia de fusão com o PSL e a possibilidade de ele presidir o partido no RN. Mas, qual será a cara desta legenda?

Por William Robson

Não há dúvidas. A fusão do PSL com o DEM gestará um dos maiores partidos do Brasil. Comandará o maior volume de fundo partidário (R$ 138 milhões) e fundo eleitoral (R$ 320 milhões), terá a maior bancada na Câmara (81 deputados) e será um dos maiores do Senado (com sete senadores). Fortalecerá o poder de barganha e, mais do que isso, terá voz importante na discussão de uma terceira via para as eleições do ano que vem. Vale frisar que o difícil é encontrar nome compatível com os índices que polarizam o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro.

A dimensão do novo partido, a partir da fusão do DEM com o PSL (Infográfico: Folha de S. Paulo)

O novo partido também dará vida ou, digamos, ressuscitará o Democratas, sigla que foi se diluindo até perder seu caráter orgânico, embora até bem pouco tempo comandasse a Câmara e o Senado. No RN, o DEM ficou no ostracismo, sem influência e com pífias participações eleitorais nos últimos embates.

Por isso, o ex-senador José Agripino, antes de ser o último a apagar a luz do partido, envolveu-se em  júbilo com a ideia de fusão com o PSL e a possibilidade de ele presidir o partido no RN. Tiraria o Democratas do fundo do poço, ao mesmo tempo em que oferecia estrutura orgânica e acomodaria um discurso mais moderado para o partido que elegeu o Bolsonaro.

O DEM e o PSL têm muito em comum. São partidos reacionários, mas o PSL tem o agravante de trazer o DNA do bolsonarismo. Sim, o presidente deixou a legenda, mas a legenda não o deixou. Muitos representantes bolsonaristas seguem no PSL com discursos de ódio, espalhando fake news e negacionismo, as características que conhecemos bem.

Por outro lado, o partido de Agripino é mais polido. Não entra nesta vibe. É aí que surge a dúvida: qual será o perfil do novo partido, após a fusão? Como será o seu comportamento? “Participei ativamente. Defendi essa fusão como grande chance para a união do Centro”, acrescentou Agripino, em entrevista ao Blog do Barreto.

Olha só: união do Centro se traduz em moderação no discurso, ou uma direita de banho tomado. Não é o caso do PSL em sua esteira na extrema-direita. O DEM até que poderia cumprir este papel, mas teria forças para domar o bolsonarismo arraigado no campo no qual pretende integrar? Como puxar o PSL para o Centro e extirpar dele a pecha bolsonarista?

Agripino acredita que a robustez da nova legenda dará a capacidade de condução de protagonizar as discussões em torno da terceira via. E não apenas a nível nacional. Também no âmbito do RN. À Tribuna do Norte, o ex-senador defendeu esta postura na campanha de 2022 no Estado. “Isso vem do Brasil para dentro, a minha posição e do meu partido, se a fusão ocorrer, vai ser de ter um candidato de centro, até de outros partidos, com a condição de ganhar a eleição”, comentou, reconhecendo que a segunda via pode vir com nomes como do ex-prefeito Carlos Eduardo, embora não tenha sido citado.

O certo até aqui é que a fusão do DEM com o PSL faz renascer o coronel potiguar e, com ele, seus propósitos que o fazem se unir à lógica bolsonarista (ou ao menos, ao partido que deu vida ao que testemunhamos hoje no Brasil). Será que o novo partido será uma voz do Centro, com o PSL adestrado, ou um partido de extrema-direita turbinado com o DEM aquiescente?