Após a Porcellanati

Por que o negócio da China pode ser outra enganação de Rosalba em ano eleitoral?

A maior delas (e não tem nada a ver com a capital nacional da cultura!) foi o delírio de transformar Mossoró em pólo cerâmico, promovendo filas com milhares de desempregados à espera de uma retomada da Itagrês que nunca aconteceu

Tomara que os protocolos assinados entre a Prefeitura e a Câmara de Comércio Brasil-China não sejam apenas uma foto no Palácio da Resistência (imagem abaixo). O documento abre caminho para que os chineses se interesse pela cidade com o intuito de investir em “áreas de iluminação inteligente e usina de resíduos sólidos e também um protocolo de cidade irmã”. Se limitarmos ao que foi anunciado, não há outro motivo senão o de comemoração.

O problema esbarra na credibilidade da prefeita Rosalba Ciarlini em anunciar coisas do tipo em ano de eleição. Desta forma, todos ficam com a pulga atrás da orelha, especialmente aqueles que veem nesta iniciativa oportunidade de trabalho nesta cidade que caminha de braçadas à precarização da mão-de-obra. Logo Mossoró, antes a maior produtora em terra de petróleo do país, detentora de massa salarial invejável.

Desde que a Petrobras, subsidiárias e terceirizadas começaram a dar no pé daqui, a erosão do desemprego e da falta de esperanã se ampliava. Não fosse a empresa de telemarketing, a situação poderia estar ainda pior. E nada além disso foi colocado no lugar, senão a gana de tirar proveito político das circunstâncias.

As condições proporcionadas pelos royalties e arrecadação que transbordavam os cofres do município, entre festas nababescas e praças, igualmente promoveram engodos. O maior deles (e não tem nada a ver com a capital nacional da cultura!) foi o delírio de transformar Mossoró em pólo cerâmico. Recordo dos tempos em que, na redação do Jornal de Fato, inúmeras publicidades prenunciavam a novidade: a chegada da Porcellanati.

Rosalbistas. à época, reiteravam que a empresa atrairiam tantas outras, semelhante à Petrobras. E que a Porcellanati, por si só, seria a responsável por geração de milhares de empregos e impostos para o Município. De tantas expectativas criadas, a decepção veio à altura.

A empresa, de origem catarinense, não se segurava em pé. Suas rápidas operações na cidade e contingente de funcionários bastante inferior ao que se propagava, abriram margem para dúvidas. E sua desativação em tão pouco tempo, desvelou a farsa da “consolidação do pólo cerâmico”. A Porcellanati nadava em dívidas e fechou as portas.

Segundo publicou o site Mossoró Hoje, o Plano de Recuperação Judicial da Itagres, empresa catarinense responsável pela fábrica da Porcellanati em Mossoró, chegou a ser rejeitado na continuação da 2ª Assembleia Geral de Credores, realizada em Tubarão (SC), em 2018. Nem isso livrou a prefeita de Mossoró de recorrer à mesma narrativa e anunciar uma retomada das operações na cidade

As dívidas da empresa com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que totalizam R$ 77.636.706,35 à época, foram determinantes para a rejeição do plano. Logo, a empresa não tinha como voltar a funcionar. Mas, 2018 era ano de eleição e o filho da prefeita, Kadu Ciarlini, concorria como vice na chapa do ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves. Alguma movimentação demagógica de geração de empregos necessitava ser feita. E foi.

Enquanto a Porcellanati vendia o almoço para comprar o jantar, a Prefeitura prometeu a retomada da empresa e iniciou a seleção de novos funcionários. Mais de 2000 pessoas passaram o dia para entregar currículos para concorrer a uma das 134 vagas que seriam oferecidas, em agosto de 2018. A fila, de tão longa (foto em destaque), iniciava na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, na Rua Rui Barbosa, Alto da Conceição, e terminava na Avenida Rio Branco, próximo a empresa Socel. E como se sabia, a empresa não reabriu, nem a chapa do seu filho também não logrou êxito.

Em 2020, o desemprego é o fantasma que mais assusta a cidade. Vender ilusões em ano de eleição é instrumental recorrente. Não se sabe ao certo se é o caso, porém, o mossoroense tem razões de sobra para duvidar.

O diretor executivo da Câmara de Comércio Brasil China, Halisson Medeiros, explicou que os protocolos passam por usina termoelétrica de resíduos sólidos, Smart City, que atende várias searas do município tais como segurança, iluminação pública e cooperação técnica binacional entre Brasil e China. Realmente, é um negócio da China.

Que o protocolo saia da intenção, sobretudo, da intenção de explorar da esperança e do desespero dos mossoroenses desempregados.