Educação

Por que o Município de Encanto decidiu rifar o futuro de suas crianças?

A decisão desta semana tomada pelo prefeito Alberone Neri e por cinco dos seus vereadores aliados é um golpe na educação com repercussões trágicas nos próximos anos

Por William Robson

A cidade de Encanto, de pouco mais de cinco mil habitantes,  caminha para um futuro incerto. A decisão desta semana tomada pelo prefeito Alberone Neri e por cinco dos seus vereadores aliados rifam o sonho de um município melhor e de esperanças para suas crianças. O golpe dado na educação neste dia 6 de fevereiro terá repercussões trágicas nos próximos anos.

O prefeito de Encanto, Alberone Neri, que apresentou a proposta que neutralizou as intenções de qualificação profissional dos professores

Neri é um prefeito inusitado. É dos poucos gestores que prefere contar com despreparados em seu derredor. Pode parecer medida profilática, afinal, no campo da mediocridade, qualquer letrado se caracteriza como suposta ameaça em potencial. Garantir que todos fiquem sob o seu domínio é cômodo, porém cobra preço alto de quem deveria ser visto com zelo.

Pela atitude do prefeito e da maioria dos vereadores da Câmara, haverá esforço descomunal para que os alunos de Encanto desçam ladeira abaixo e sejam atendidos pela educação mais anacrônica possível. A culpa não é dos docentes que, como sabemos, dão a vida pelos seus estudantes. A responsabilidade está em ações impeditivas que neutralizam qualquer possibilidade de progresso acadêmico, que repercuta fortemente na qualidade do ensino do Município.

Os vereadores que votaram contra e a favor dos professores de Encanto

Além de Alberone Neri, Rosemary Fernandes Aquino de Queiroz,  Francisco Luzimar de Oliveira Franco, Joza Carlos De Oliveira Lima, Yria Firmina Queiroz Rêgo e Francisco Ferreira de Bessa, todos do DEM, atiraram na cara dos sonhos de professores que acreditam no potencial das crianças encantenses, da possibilidade de qualificação e da própria cidade, que perde na qualidade da educação e na competitividade.  Chacina imperdoável e promotora de um cenário de decadência, sem futuro possível, nem alternativas. O que esperar do porvir neste Município?

O projétil tem o formato de projeto aprovado na Câmara que bloqueia as pretensões dos professores do Município de cursar pós-graduação, nível de mestrado e doutorado. Trata-se de uma coleção de barreiras que, na prática, desestimula os educadores a buscarem seu crescimento pessoal e também de sua atividade. A proposta garante que os professores decididos a se candidatarem em programas de mestrado e doutorado precisarão de autorização da Secretaria Municipal de Educação e do Conselho Municipal de Educação. Até aí parece que está tudo bem.

No entanto, a autorização tem caráter de banca de mestrado e doutorado. Ou seja, não bastasse o dificílimo processo de seleção para ingressar nestes concorridos programas, o candidato necessitará ter seu projeto de pesquisa submetido à secretaria municipal que, sob critérios subjetivos (e políticos!), julgará sua pertinência. Segundo informou o Blog do Barreto, o projeto precisa ser de interesse do município, o que não deixa claro.

As dificuldades não param por aí. Os professores aprovados, sob estes critérios, não serão liberados do trabalho. Farão das tripas coração para dedicar-se à pós-graduação em consonância com as aulas, o que é praticamente impossível. Não há como integrar-se em programas de pós-graduação sob tais condições. Os pós-graduandos, em sua maioria, são submetidos a atividades que ocorrem em períodos matutino e vespertino entre aulas, estágios e reuniões com grupos de pesquisa, além da investigação propriamente dita.

Se mesmo assim, o candidato persistente conseguir ultrapassar tais tribulações, a via-crúcis não se encerrará. Caso consiga concluir o curso em horários alternativos e, ao mesmo tempo, ministrando aulas nas escolas do Município, a defesa da tese ou dissertação não significará o sucesso alcançado. O Conselho Municipal de Educação de Encanto vai avaliar a importância da pesquisa e somente após a referendá-la poderá definir a progressão funcional.

No frigir dos ovos, os professores encantenses lutam em meio a um jogo de mesquinharia. O preço da progressão funcional sobrepõe o orgulho para uma pequena cidade em compor docentes com mestrado e doutorado, oferecendo ensino de excelência para as crianças e jovens. A mesquinharia venceu de cinco votos contra quatro. Os vereadores que aprovaram foram vaiados, deixaram a Câmara envergonhados (veja o vídeo abaixo), cientes que apostaram na ignorância, no anticientificismo e na escuridão. No dia da sessão, os professores foram tratados como elementos perigosos. A polícia precisou ser chamada para vigiá-los. Estes docentes realmente são perigosíssimos. Somente o conhecimento liberta e em locais onde a política de cabresto é exercida, alcançar a luz é um ato de vandalismo.