Xenofobia

Por que o bolsonarismo ataca os nordestinos?

Decepcionados e inconformados com as urnas na região, bolsonaristas do Sul e Sudeste iniciaram série de ataques xenófobos

Por William Robson

Mais um vez, confirma o histórico de votações acachapantes do ex-presidente Lula sobre seus adversários no Nordeste. Lula é imbatível por aqui. E para enfrentar este muro intransponível, Bolsonaro joga tudo e recorre à força estatal, abrindo as torneiras  e despejando dinheiro, via Auxílio Brasil, no intuito de sequestrar os eleitores por meio do estômago. Não conseguiu.

Na apuração do primeiro turno, as primeiras urnas abertas foram animadoras para Bolsonaro, porém, estavam em regiões conservadoras, as quais o presidente tem certa vantagem. O Nordeste, por sua vez, começou a fazer a diferença e Lula virou o jogo. Decepcionados e inconformados, bolsonaristas do Sul e Sudeste iniciaram série de ataques xenófobos direcionados aos nordestinos.

O professor da UFRN e da UFPE, o historiador Durval Muniz de Albquerque Júnior, em entrevista ao Estadão, afirmou que esta onda anti-Nordeste dos últimos dias cristalizam os votos dos eleitores na região ao ex-presidente Lula. Explica também o porquê dos ataques: “Já existe um preconceito contra o Nordeste nacionalmente. Uma visão que tem um fundo inclusive racial, racista. Porque as pessoas do Sul têm a ideia de que são brancos, que são descendentes de europeus, e os nordestinos são mestiços, são pardos, são negros, são indígenas, não houve pra cá o fenômeno da imigração estrangeira, então somos considerados racialmente inferiores.”

Segundo a coluna do Tio Colorau, o empresário Luciano Hang, nesta esteira preconceituosa, foi ao rádio para atacar o RN. Durante sua fala sobre os impeditivos para abrir uma de suas lojas em Natal, disse que o “Estado já é uma Venezuela”, recorrendo ao estereótipo alimentado pelo bolsonarismo de menosprezar estas sociedades.

Hang reproduz o xenofobismo bolsonarista, assim como vídeos de pessoas que veem o nordestino como civilização inferior, sem inteligência. Mas, tem explicação para este fenômeno. O professor Muniz disse que o preconceito contra o Nordeste se relaciona, além do racismo, à aversão ao pobre. “O nordestino no imaginário nacional é um pobre, é um retirante, é um migrante, é um trabalhador braçal, é um mestiço, um negro”, afirmou.

A onda bolsonarista contra os nordestinos também guarda interesses políticos, de manutenção de privilégios regionais. E neste cenário, o Nordeste não pretende ser tutelado pelos habitantes do Sul e do Sudeste. Pelo contrário, mostra-se resistente.