Alta da gasolina

Por que Mossoró voltará a ser “a cidade das bicicletas” dos anos 90?

Mossoró já foi conhecida nos anos 90, como a “cidade das bicicletas” pela quantidade de magrelas que circulavam por aqui. Agora, Bolsonaro está vencendo. O pobre não tem direito de ter automóvel, “privilégio” dos mais abastados

Por William Robson

Há seis anos, uma mulher de nome Taís Helena Galon, de 36 anos, gritava histericamente em um posto de gasolina na cidade de Caxias, Rio Grande do Sul. O surto se deu pela alta no preço dos combustíveis que, naquele momento, implicaria na greve dos caminhoneiros. Ela pedia, aos gritos, que ninguém abastecesse os carros, assim, sobrava gasolina nos postos e o preço baixaria. No dia da histeria, o preço do litro custava R$ 2,80.

O secretário do Sindicato dos Petroleiros de Mossoró (SINDIPETRO), Pedro Lúcio, teve um tuíte viralizado em que tratava de novo aumento dos combustíveis. Se a Taís pintou o sete naquele momento em que a gasolina estava a R$ 2,80, o que diria se soubesse que poderá chegar a próximo de R$ 6 a partir desta sexta-feira (19)? Em Mossoró, a estimativa é que alcance os R$ 5,94, segundo o petroleiro. Isso porque o valor médio do litro da gasolina será de R$ 2,48, alta de 10,2%, após reajuste de R$ 0,23, nas refinarias. O preço médio do diesel será de R$ 2,58, depois de aumento de R$ 0,34 por litro, uma elevação de 15%. Mais uma vez, você, que está na ponta, vai sentir no bolso.

Por que em Mossoró, o preço chegará a tanto? E o que isso implica na vida do mossoroense? A cidade, que foi a maior produtora de petróleo em terra, nunca foi isenta das políticas nacionais envolvendo a commodity. Nem com o fato de se localizar no Estado uma refinaria já pouco utilizada. Desde o governo Temer, a Petrobras vem adotando uma política de não-interferência no preço dos combustíveis na concorrência aos padrões internacionais. O resultado é que, sem qualquer intervenção, o preço não vai parar de subir.

O presidente Bolsonaro sabe disso e para evitar corrosão em seu capital eleitoral, joga para os governadores o seu abacaxi. Afirma que os gestores do Estado precisam cortar no ICMS para reduzir o preço na bomba.

Não, a alíquota do tributo permanece o mesmo em 2015 e hoje. Além disso, os boatos que correm como se fossem notícias no whatsapp, relatavam sobre o fato de o RN cobrar a maior alíquota entre os Estados. A falácia foi rebatida imediatamente pelo secretário de Tributação, Carlos Eduardo Xavier: “As alíquotas de ICMS que incidem sobre os combustíveis no RN são iguais às cobradas nos demais estados do Nordeste. Portanto, não é a tributação estadual que justifica essa discrepância”, disse.

A política de preços foi o que mudou. Os liberais querem o Estado longe da políticas de petróleo, porém, Bolsonaro, incomodado, quer zerar os impostos federais sobre o gás de cozinha e sobre o diesel. Ou seja, vai perder arrecadação para atender ao interesse do mercado. Afinal, cortar impostos em um momento de escassez significa que de alguma forma, a fatura chegará até você.

Claro que tanto a moça da histeria no posto, quanto você sabem disso. A falta de ação do Governo Bolsonaro está explodindo o preço da gasolina e do diesel, o que alavanca o custo dos demais produtos. A questão envolvida no atual debate não está mais focada no preço da bomba, mas em como limpar a barra do chefe do Executivo. Seus adoradores pagam até R$ 10 o litro, desde que consigam tirar do “mito” a responsabilidade.

Neste ritmo de preços, a política voltada para aquelas pessoas que, há alguns anos, conseguiram comprar seu carro através de redução de IPI, são obrigadas a vender seu bem, por conta do preço alto da gasolina. Uma dessas pessoas, por exemplo, chegou a se queixar em grupo de Whatsapp e que projetava se desfazer do seu automóvel.

Bolsonaro está vencendo. O pobre não tem direito de ter automóvel, “privilégio” dos mais abastados. Mossoró já foi conhecida nos anos 90, como a “cidade das bicicletas” pela quantidade de magrelas que circulavam por aqui. Pessoas que se locomoviam com o que tinham, não com o que gostariam. Logo, Mossoró passou a ser “cidade das motos”. Porém, estamos retomando aos períodos noventistas a partir de duas forcinhas dadas pelo presidente.

A primeira pelo preço quase impagável da gasolina. A segunda veio através da medida da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia, publicada na edição de quinta-feira (18) do Diário Oficial da União (DOU): a redução de 35% para 20% a alíquota do imposto de importação de bicicletas no Brasil até o final do ano.  Bolsonaro, inclusive, apareceu com uma fotinha na magrela para todo mundo “jair se acostumando”. Pelo menos, não ficaremos a pé.