Por que está tão difícil pedir Uber ou 99 em Mossoró?
Isso está acontecendo de forma recorrente na cidade, afetando a credibilidade de um serviço que se tornou indispensável
Por William Robson
Nunca foi tão difícil pedir um Uber ou 99 em Mossoró nestes últimos tempos. Tente depender deles após uma festa de aniversário, depois da balada ou do encontro com os amigos no bar… Certamente, você ficará na mão. O aplicativo passará horas e horas processando e nenhum motorista dará o ar da graça. Isso está acontecendo de forma recorrente na cidade, afetando a credibilidade de um serviço que se tornou indispensável, mas que fora atingido pelos efeitos da crise e da alta do preço dos combustíveis.
Durante o programa Foro de Moscow desta segunda-feira (30), um dos integrantes da audiência qualificada disse que o atual Governo está “desempregando até quem está desempregado”. Tem muito sentido, já que este serviço é o espelho da precarização da força de trabalho e a alternativa do momento para quem carece de perspectivas. Colocar o próprio veículo, talvez o seu patrimônio mais importante, para se desgastar pelas ruas da cidade demonstra a necessidade de trabalho a qualquer custo.
No entanto, nem sob esta condição estas pessoas se submetem mais. O preço da gasolina, que alcança os R$ 7, desestimula viagens longas onde, sobretudo para periferia. Há uma explicação para isso e não se justifica apenas ao fator segurança. Muitas vezes, os motoristas têm a viagem de ida e não a de volta, o que encarece os custos do trajeto. “Numa viagem de dois quilômetros, em que se cobra a taxa mínima de 4,90, o motorista roda cinco quilômetros”, explicou o presidente da Associação dos Motoristas Autônomos e por Aplicativos de Mossoró (AMAM), Max Bezerra, em entrevista ao programa de rádio “Boca da Noite”, da FM 98 . “Isso tem tornado o serviço inviável. Os motoristas não estão conseguindo levar renda para casa”.
Ou seja, estes motoristas estão quase no modo de precisar pagar para trabalhar. Além do mais, precisam separar o dinheiro do aplicativo, que desconta imediamente 42% do apurado. Ou seja, livra quase a metade para a empresa que administra o aplicativo e o restante precisa ser dividido entre os custos de manutenção do veículo, combustível e, se sobrar, a renda para levar pra casa.
Os motoristas também se recusam a seguir viagens para bairros mais afastados por razões que vão além do preço da passagem. Atuam sob o estereótipos de que estas localidades são mais perigosas que as centrais, privilegiando somente os bairros mais próximos ao Centro. Viagens para o Nova Vida, conjunto Alfredo Simonetti, Rincão, Sumaré, Três Vinténs… Esquece! Isso já está abalando a credibilidade destas empresas, em que os mossoroenses não podem mais confiar o seu deslocamento.
Contudo, as queixam dos usuários não param. “Como a população não sabe dessa realidade, chovem reclamações contra os motoristas como se eles tivessem culpa. Infelizmente, nessas condições, eles teriam que cobrir o restante dos custos da viagem do próprio bolso”, afirma. A alternativa dos motoristas é migrarem para aplicativos locais e ainda pouco conhecidos, como Xegou, Xofer e By Driver, cujas tarifas são menores. “Com as taxas estabelecidas por essas plataformas, dá para trabalhar”, diz o presidente da associação.
Pedir Uber e 99, atualmente, é um risco de ficar a pé em Mossoró. A alta da gasolina se soma às elevadas tarifas cobradas pelas empresas à ação dos motoristas que hoje escolhem os lugares por onde quer percorrer. No final, o consumidor desiste, fecha o aplicativo e volta a guardar na agenda o telefone dos postos de táxi 24 horas que, felizmente, ainda funcionam na praça da Catedral de Santa Luzia, na rodoviária e no Mercado do Alto da Conceição. É mais caro, verdade, mas você não ficará ao relento.