Por que a menina de 10 anos estuprada pelo tio terá nova identidade e endereço?
O tema ganhou repercussão nacional por permear diversas nuances, entre elas o fato de ser uma criança de dez anos, vítima de estupro e a temática do aborto que volta à baila
Por William Robson
“A classe alta procura o aborto com maior frequência do que a classe desfavorecida. O Brasil é o país da hipocrisia”. O depoimento é do médico Olímpio Barbosa, responsável pelos procedimentos que interromperam a gravidez da menina de dez anos estuprada pelo tio (na verdade, não era tio; vivia com a tia da menina) no Espírito Santo. A declaração expõe o moralismo sem moral dos cidadãos de bem, aqueles que motivados pelo apito da militante extremista Sara Winter, identificaram e foram até a porta do hospital atacar a menina, chamando de “assassina”. Olha o nível em que a sociedade do ódio do Brasil alcançou.
Enquanto tais sujeitos bradavam para a que criança mantivesse a gestação, a preocupação chegou a zero pelo autor dos abusos. Sim, o homem que estuprava a menina havia fugido para o Estado vizinho de Minas Gerais, onde foi preso nesta terça-feira. O acusado já teve seu rosto e nome divulgado nas redes sociais, o que facilita também a identificação da vítima, tornando a criança ainda mais vulnerável.
O tema ganhou repercussão nacional por permear diversas nuances, entre elas o fato de ser uma criança de dez anos, vítima de estupro e a temática do aborto que volta à baila, embora a lei garanta a interrupção em caso como o da menina. Mesmo assim, não foi suficiente para que extremistas bolsonaristas reagissem.
Como sabemos, e reforçado pelo médico Olímpio, o Brasil é o país da hipocrisia. O aborto, em linhas gerais, é tratado como tabu religioso, sob viés da origem do embrião, mesmo a sociedade ciente de que casos de interrupção são bem mais comuns do que se imagina. Sim, a classe alta tem tratamento vip nos hospitais, sem risco para a jovem. Por sua vez, a jovem pobre enfrenta as ferramentas medievais das clínicas clandestinas, correndo o risco de perder a vida.
Por isso, a legalização do aborto é tema em discussão. Não que a legalização vá proporcionar a prática indiscriminada da interrupção da gravidez, mas porque oferecerá a oportunidade de tratar esta questão como saúde pública e não de caráter religioso ou de falso moralismo.
O caso da menina de 10 anos é mais complexo, sobretudo, por ser ela a vítima maior. O aborto já é garantido por lei nestes casos, porém, não intimidou os extremistas, que ainda pódem trazer perigo a ela. Por esta razão, o Estado do Espírito Santo decidiu proteger a garota destas figuras odiosamente indomáveis e de outras ameaças possíveis neste país de hipócritas.
A jornalista Bela Megale, no jornal O Globo, informou que são tomadas providências para alterar a identidade e o endereço da menina após o episódio. Segundo a sua coluna governo do Espírito Santo vai oferecer novas identidades, casa com aluguel pago em endereço diferente do atual e ajuda de custo para a menina de 10 anos que foi vítima estupro, além de sua família. Megale ainda informa que a guarda da criança é da avó, porque a mãe morreu e o pai está preso. A ajuda pode ser dada por até quatro anos.
Ou seja, foi a saída protetiva encontrada contra extermistas insensíveis com a causa de uma criança, sob o pretexto de defender a vida de outra, lógica sem sentido que só pode permear a mente da extrema-direita. Winter também teve parte do que merece. As principais redes sociais a baniram, medida que ameniza um pouco o já contaminado ambiente virtual destas plataformas. Na real, ela deveria ter o mesmo fim do estuprador da menina. Até que estava, mas não se sabe o que passou na mente de ministro em achar que ela não gera risco à sociedade.