Intervenção militar no Instituto Federal

Parlamentares na Câmara e no Senado reagem à solicitação de tropas no IFRN

Os estudantes seguem reagindo. O reitor Arnóbio Araújo resiste nas instâncias judiciais já contaminadas pelo bolsonarismo antipovo. E os parlamentares na Câmara e no Senado protocolam oficios para conter a ofensiva antidemocrática

Por William Robson

Desde que o interventor do IFRN, Josué Moreira, assumiu o cargo que pertence por direito ao professor José Arnóbio de Araújo, o clima é de ditadura. Josué sabe que não é benquisto na instituição, trata funcionários no grito, utiliza recursos públicos para manter caprichos, como garantir para si carros com motorista, e compra de Macs de última geração. Não quer perder a oportunidade de exercer o poder, mesmo usurpado. E, por isso, o IF não segue mais com um dia de paz.

Não fosse a pandemia, o cenário da ofensiva antidemocrática no instituto estaria mais grave. Porém, como os estudantes não retomaram as aulas, a aparência sensação de que a ditadura seria relativizada, foi quebrada em data emblemática. No Dia do Estudantes, alunos a favor da democracia exigiam a retomada da normalidade na instituição, ou seja, a retirada do interventor e a posse do reitor eleito.

Vale lembrar que, diferente das universidades, a escolha no IF se baseia em eleição que encaminha apenas um nome para que o Ministério da Educação referende. Neste caso, Josué Moreira não foi candidato derrotado. Pior: sequer concorreu o que portanto, torna ilegítima sua ocupação no cargo.

O deputado federal General Girão, que como nome sugere é militar,  apadrinhou o Moreira na indicação como interventor e ontem para que as forças de segurança nacional o protegessem Se ainda tinha alguma dúvida de que o IFRN sente os efeitos do autoritarismo, a ação da PM contra os estudantes e de permanente ocupação militarista a pedido do parlamentar bolsonarista passam a dar o tom.

Os estudantes seguem reagindo. Arnóbio resiste nas instâncias judiciais já contaminadas pelo bolsonarismo antipovo. E os parlamentares progressistas também. A deputada federal Natália Bonavides (PT), tal logo tomou conhecimento da proteção solicitada para Moreira, protocolou ofício no Ministério da Justiça destacando o absurdo. Em situações normais de temperatura e pressão, este pedido poderia ser considerado. “Lamentável (mas não surpreendente) que o deputado use de fake news p/ pedir que tropas federais sejam usadas na sustentação do interventor do IFRN”, explicou a deputada no Twitter.

E a deputada destaca a resistência na instituição contra a ditadura. “Nem tropas federais farão a comunidade acadêmica que elegeu democraticamente o reitor Arnóbio se resignar nem se calar diante do processo de intervenção sob o qual está o IFRN”, ressaltou.

No Senado, a reação também foi imediata. Jean Paul Prates disse que o pedido de envio de tropas federais para as instalações do IFRN é um “absurdo”. “É um desrespeito à democracia, aos estudantes, professores e servidores da instituição. A paternidade da intervenção ficou mais clara”, destacou o senador.

O caso vem ganhando contornos preocupantes, frente ao interventor que força a barra para se manter no cargo. Sem respaldo da comunidade acadêmica, com dificuldades até de montar sua equipe de assessores, pressão dos estudantes e inédita intervenção militar no instituto, o IFRN vira panela de pressão. O reitor eleito, Arnóbio Araújo, em entrevista ao Foro de Moscow, explicou que em mais de duas décadas de atuação, nunca tinha visto nada sequer parecido. “Já fizemos muitos protestos, todos dentro da democracia”, relembra.

Arnóbio reforça as declarações de Prates. “Um verdadeiro absurdo o que está acontecendo no IFRN, interventor chama a PM que agride alunos… alunos faziam protesto pacífico em alusão ao dia do estudante e são agredidos… nunca vi essa cena em quase 26 anos como servidor”, afirmou. Não precisamos que um decreto seja assinado para dizer que já vivenciamos um regime totalitário.