Pandemia: Por que o “País de Mossoró” tem níveis piores que o Brasil de Bolsonaro?
Mossoró gosta de se identificar como país, o “País de Mossoró”. Desta expressão, vêm aspectos culturais considerados peculiares, Mas, se considerarmos, de fato, a cidade como um país neste momento de pandemia, como seria frente ao de Bolsonaro?
De acordo com o levantamento do coletivo Covid Radar, que faz mapeamento minucioso e análises sobre o avanço da covid-19 no Brasil, uma em cada cinco cidades têm crescimento acelerado de casos. E em mapa de calor publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, Mossoró aparece entre elas. Nesta terça-feira (23), os mossoroenses amanheceram com índices que não gostariam de compartilhar para ninguém. As mortes de conterrâneos superam as cem e os de infectados os 2 mil. É um drama ascendente, onde o sistema de saúde já não dá conta de tantos doentes que não param de chegar.
Mossoró gosta de se identificar como país, o “País de Mossoró”. Desta expressão, vêm aspectos culturais considerados peculiares, não vistos em outros lugares. Mas, se considerarmos, de fato, a cidade como um país neste momento de pandemia, os números não ensejariam orgulho. Pelo contrário, se Mossoró fosse um país, os números superariam negativamente o Brasil desgovernado de Bolsonaro.
Como sabemos, o presidente é o maior contribuinte do genocídio crescente no país. São mais de 50 mil pessoas, a maior tragédia do século no país. Nada é tão cruel quando somado com a insensibilidade de quem deveria se preocupar e cuidar das pessoas. São exatamente 51.271 brasileiros, cujas famílias estão enlutadas. São 1.106.470 casos. Mossoró por sua vez, têm índices com proporções piores, segundo o levantamento. Enquanto a quantidade de mortes no Brasil representa 4,6% do número de casos, a parcela mossoroense é de 5,3%.
A curva do gráfico que aponta para os números de infectados não para de subir (imagens abaixo), razão suficiente para implementação de medidas mais rígidas que descartam qualquer possibilidade de reabertura econômica. O Covid Radar reforça esta assertiva. O País de Mossoró segue pior que o Brasil de Bolsonaro no quesito “número de casos”. A indiferença de Bolsonaro colocou mais de um milhão na onda de contágio, significando 5.265 casos por milhão de habitantes. O “País de Mossoró” apresenta índices de 6.823 casos por milhão.
À véspera do momento em que o empresariado local aguardava que tudo poderia ser reaberto e o enxame demográfico apinhasse o Centro da cidade, a governadora Fátima Bezerra agiu em favor deste “País de Mossoró” abandonado. E saber que Bolsonaro “governaria” este “país” no semi-árido proporcionando indicadores mais amenos que os oferecidos pela prefeita Rosalba Ciarlini, é razão de vergonha completa. Fátima não se abateu à pressão de entidades patronais – que observaram outros números (os dos cifrões) -, e uniu-se à sensatez do Ministério Público, ao não reabrir a economia. Por uma razão humanitária: o RN não reduziu os níveis de ocupação para 70% nos leitos de UTIs, condição primordial para se falar em retomada gradual da atividade econômica. Assim, tudo permanece como está até dia 1 de julho, segundo comunidado do Governo nesta terça-feira.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), de Mossoró, Wellington Fernandes, fez uma constatação que os números da Covid Radar já demonstram. “A prefeita tem tido uma postura diferente da governadora [Fátima] nesse sentido [de reabertura da economia]”, afirmou em entrevista ao programa Jornal da Tarde, da Rádio Rural. Wellington concorda que as condições sanitárias preocupantes que afligem os mossoroenses sejam relevados desde que o desejo e os interesses da categoria que representa sejam prioridades. “Por isso, a expectativa nossa é de que haja a permissão de reabertura de outros setores, como por exemplo, loja de colchões”, acrescenta, sugerindo medida que beneficiou livrarias e papelarias no decreto em vigor.
Ao propor ir na contramão do decreto da governadora, a CDL estimula a desarmonia entre Prefeitura e Governo no enfrentamento da doença. E atira no pé. Não dá para colocar o dinheiro em escala de valor acima dos doentes e das vidas (que vão além de registro numérico no SPC).
Fátima não tem outra saída, senão considerar os elementos sanitários neste momento. E explicou em pronunciamento nas redes sociais. “As recomendações alertaram para o risco que a reabertura prevista para essa semana traria para saúde pública do nosso estado. Estamos em um momento que ainda nos inspira muitos cuidados, porque mesmo com todas as medidas de isolamento e fiscalização, nós estamos com uma taxa de isolamento social no patamar de apenas 40%”, ressaltou.
No “País de Mossoró”, uma voz se levantou na Câmara Municipal questionando as ações de combate ao coronavírus. O vereador Alex Moacir (MDB) criticou a governadora, afirmando que suas medidas não têm sido “proativas”. Como saída, propôs a reabertura de mercados públicos, bares e restaurantes. “Não adianta fechar o comércio, se as praças estão lotadas de pessoas, fazendo atividade física”, alegou. A preocupação de Moacir não chegou ao sistema de saúde da cidade (ou o “País”?) pela qual foi eleito para defender e proteger seus conterrâneos. Se a fala de Alex junta-se, uníssona, à voz dos empresários e não a dos mais vulneráveis neste momento em que Mossoró é um país mais doente que o Brasil, dá para entender por que chegamos até aqui. Só não dá para saber como sairemos disso com vida.