Vacina contra a Covid

Os “sommeliers de vacina” chegam a Mossoró

O vereador Raério Cabeção (PSD) alertou para o fenômeno que vem ocorrendo em algumas cidades e que começa a registrar focos em Mossoró. Não, não se trata de uma nova cepa do coronavírus

Por William Robson

Você sabia que desde o domingo passado houve uma intensificação da vacina contra a Influenza? Muitos estão buscando a imunização contra a gripe, é verdade. E com o detalhe que nenhum questiona o laboratório de origem. O mesmo não ocorre com a vacina contra a Covid-19. Diante de tantos fabricantes e de informações vagas que o jornalismo oferece, sem o devido aprofundamento científico, leigos já se consideram verdadeiros especialistas: os cientistas de Facebook que pipocam nas redes.

O vereador Raério Cabeção, que alertou sobre os “sommeliers de vacina”, que podem atrapalhar o andamento da imunização em Mossoró

Na sessão desta quarta-feira  (30) na Câmara Municipal de Mossoró, o vereador Raério Cabeção (PSD) alertou para o fenômeno que vem ocorrendo em algumas cidades e que começa a registrar focos em Mossoró. Não, não se trata de uma nova cepa do coronavírus. Mas, da proliferação da idiotice advinda dos “sommeliers de vacinas”, nome em alusão aos especialistas de vinho, realmente. especilizados na bebida.

No caso antagônico e perigosíssimo, trata-se de pessoas que imaginam que determinado imunizante seria “melhor” do que outro. Ou seja, acreditam que virarão super-herois se aderirem a vacina americana, chinesa, brasileira ou indiana. Nada fundamentado. Apenas a ignorância que emana das redes sociais e que corroe o cérebro de quem já poderia estar imunizado, porém, espera “pagar para ver” se não tiver a vacina de sua preferência.

Este é o fenômeno inacreditável que começa a preocupar. A fala do vereador Raério é o reflexo do alerta que chega à Secretaria Municipal de Saúde. O parlamentar avisou na sessão que uma campanha neste sentido deverá ser enfatizada, afinal, a melhor vacina é a que estiver no posto e não a que se gostaria de tomar sem base científica de que pretensamente escolhe. Aliás, este nem deveria ser o debate. Todos os imunizantes distribuídos no Brasil foram aprovados em sua eficácia junto à Anvisa, a Agência de Vigilância Sanitária. Portanto, são eficientes e asseguram a vida.

No dia 30 de março, 20 doses da Coronavac foram roubadas da Unidade Básica do Caic, em Mossoró. Em 22 de março, assaltantes invadiram posto em Natal e também assaltaram vacinas da Coronavac. Naquele momento, a impressão que se dava, diante dos crimes, era a pressa em alcançar imunizantes a todo custo. Agora, parece que têm pessoas que acreditam que há vacinas sobrando. As que roubadas nunca foram recuperadas.

Antes, a imunização era renegada. O tal “tratamento precoce” mediante medicamentos ineficazes, como a Ivermectina, apropriado para combater piolhos, era recomendado como solução. Mas, foi a  vacina que chegou e fortemente fez recuar os casos no RN. Seguem em alta com UTIs ocupadas em 70%, mesmo assim, surgem aqueles que acham que dá para lançar suas vidas (e a dos outros) em risco para se agraciarem com a vacina que desejam por razões que somente eles imaginam.

A preocupação que pode ser gerada a partir daí é o atraso no processo de imunização da população e o retardo na retomada da vida “normal”. Enquanto todos não forem imunizados, seja por qual vacinar for, há riscos de mais contágios e mortes e, ao mesmo tempo, de impossibilidade de retorno de serviços essenciais, como escolas, universidades e de lazer, como público em jogos de futebol, por exemplo. A campanha Mossoró Vacina tem sido exemplar no processo de imunização e na coleta de alimentos através da campanha “Vacina Solidária”. Portanto, não se pode aceitar obstáculos com base na estupidez.

Portanto, os “sommeliers de vacina”, se não forem os mesmos, parecem aqueles que, a todo momento vão de encontro ao enfrentamento à Covid: primeiro com o “tratamento precoce”, depois com a recusa dos métodos de isolamento, contra o uso de máscaras, contra a “vacina chinesa” e agora, a favor da vacina que entender ser eficiente. Coisas da cabeça de quem deveria ser imunizado com a vacina da febre aftosa.