Segundo turno

Os dois erros fatídicos de Bolsonaro

Com a campanha desarticulada, há dois elementos importantes que afetaram o marketing e emperraram o avanço bolsonarista para além de sua bolha fanatizada

Por William Robson

A 19 dias das eleições, percebe-se uma estabilidade na pesquisa recentemente divulgada pelo Instituto Ipec. Os institutos, embora desacreditados diante dos números discrepantes no primeiro turno, reavaliam as estratégias de coleta de dados e focam em questões periféricas que reforcem a preferência do entrevistado. A finalidade é garantir maior credibilidade nos números.

Isso considerado, percebe-se que Lula tem mantido distanciamento importante a cada levantamento. E, a cada sondagem, evidencia-se o quanto a campanha de Bolsonaro não consegue reagir. Motivada por lambança no QG do presidente, ao não dominar a fera que ora tenta passar ar amoroso no horário eleitoral, ora grita contra o STF e o ex-presidente Lula.

Bolsonaro se tornou o maior cabo eleitoral do Lula. Um integrante da campanha bolsonarista fez revelação neste sentido  à jornalista Bela Megale: “A gente fica apagando os incêndios que o próprio candidato cria. Somos bombeiros de nós mesmos”.  Com a campanha desarticulada, há dois elementos importantes que afetaram o marketing e emperraram o avanço bolsonarista para além de sua bolha fanatizada neste segundo turno.

O primeiro foi o ataque aos nordestinos, chamando-os de analfabetos por terem votado em massa no ex-presidente Lula. O ataque ocorre em momento em que Bolsonaro precisa, urgentemente, diminuir a alta diferença na região. Ele mesmo tocou fogo neste projeto. Lula aproveitou a deixa e repetidamente vem reforçando seus laços históricos com a região. “Nesse país quem tiver uma gota de sangue nordestino não vota em Bolsonaro”, disse, em resposta a Bolsonaro, ao mesmo tempo em que soube tirar proveito desta situação.

O outro é a ameaça clara de impor ditadura no país agindo fortemente contra o STF. Para Bolsonaro, não basta subjugar o Parlamento, a Procuradoria Geral da República e as Forças Armadas. A investida precisa da genuflexão do Judiciário, implodindo-o por dentro, ao propor aumento de vagas de ministros. “É impossível eu governar mais quatro anos com o Supremo fazendo ativismo judicial”, afirmou, considerando mudar de ideia caso o STF “baixe a temperatura”.

Bolsonaro dá a deixa de como será o seu segundo mandato, caso eleito. Sem cessar-fogo e com arroubos autoritários. Porém, seus deslizes na campanha podem ser fatídicos.