Os bolsonaristas no ato de linchamento da governadora

Por William Robson

Bolsonarismo se tornou no Brasil uma espécie de seita. O seu maior líder é a personificação do ódio, do negacionismo e do que há de mais perverso do ser humano. Seu seguidores veem nele  mais que esta personificação. Acreditam que ali mora a solução de uma sociedade patriótica, democrática e “longe do comunismo”. Os bolsonaristas têm sangue nos olhos contra uma guerra gerada em suas mentes pouco desenvolvidas e desfilam nas principais cidades do RN espalhando terror, em atos arruaceiros e dando uma banana para as medidas sanitárias de enfrentamento à Covid-19.

Mossoró e Natal foram palcos da intolerância no fim de semana. Mais uma. Vestidos com as cores da bandeira, apropriada e contaminada, os bolsonaristas circularam as ruas da cidade, em defesa do seu Jim Jones. Nada de concreto foi levado ao ato, além do desrepeito aos decretos do Governo no combate à pandemia. Muitos sem máscaras, seguiram para a área militar do Tiro de Guerra, reforçando uma simbologia bélica de controle das forças armadas, período nefasto do quel nos lembramos muito bem. Crianças eram submetidas ao circo de horrores, a maior reunião de néscios por metro quadrado em Mossoró, demonstração clara de estupidez na semana em que superamos a marca de 400 mil mortos.

Não, isso não é sinal de patriotismo ou de defesa de um governante alheio ao caos sanitário que vivemos. É a exposição  da individualidade e do egoismo, da postura blasé e da necessidade se impor no grito e na brutalidade animal. Nada tem a ver com civilidade, com senso comunitário. É clara reunião da matilha feroz desdentada que vê a materialização de seu comportamento no presidente adorado na ruína iminente.

O ódio como ato de desespero que leva à selvageria. Natal protagonizou neste fim de semanas, as cenas de barbárie mais chocantes desde o torpor coletivo instalado a partir do famigerado pretexto dos 20 centavos em 2013.  Tomados pela loucura, seguidores bolsonaristas simularam o linchamento da governadora Fátima Bezerra.

Incontroláveis e com a imagem da governadora colada em uma placa de isopor, os bolsonaristas deram a deixa do que ela supostamente merecia. A sua imagem fora fortemente atacada, com tomates, socos, cusparadas e xingamentos, o que enseja um comportamento coletivo que merece ser analisados. Tal estímulo, construído ao longo de anos sob uma lavagem cerebral que se associa aos instintos até então velados, enfatiza os tais modos de justiçamento que estão em voga nesta sociedade doente.

Há situações gravíssimas a serem analisadas neste episódio de forma fria. Ali não foi um  manifestação de protesto, porém uma expressão de ameaça à vida. Todos os que estiveram ali e participaram do “linchamento simbólico” têm dificuldades de lidar com princípios democráticos e civilizatórias. Por esta razão, precisam ser monitorados e responsabilizados por incitar o ódio. E vale ressaltar que tudo isso aconteceu em frente ao Palácio José Augusto, sede da Assembleia Legislativa do RN.

Alguns estudos sobre linchamento, como a do professor e sociólogo José de Souza Martins, sugerem que o linchamento é o resultado da decisão quase sempre repentina, impensada, de motivação súbita e, de modo geral, imprevisível.  “Sendo legalmente modalidades de delito, os participantes. dessas manifestações prontamente se recolhem ao anonimato”, diz.

Ou seja, na tal simbologia do que efetivamente gostariam de fazer, bolsonaristas se escondem na covardia da ação conjunta como animais selvagens ao atacarem suas presas. Predadores frouxos que tamnbém agridem os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), nos mesmos moldes da Fátima, e logo desaparecem como fumaça, transmutando- se em cidadãos de bem.