Análise

O xadrez de Fátima que atordoou a oposição

Com a chegada de Carlos Eduardo, Fátima jogou e aplicou um “xeque” (quase um xeque-mate) na oposição. Tirou a principal figura da corrida, a que poderia ameaçá-la na corrida eleitoral

Por William Robson

Há quem não concorde com a chegada de Carlos Eduardo ao grupo da governadora Fátima Bezerra. Gente do próprio partido da mandatária, o PT. A deputada federal Natália Bonavides e o vice-presidente da sigla, Daniel Valença, são alguns dos que já se manifestaram contra. Segmentos internos também torceram o nariz. Afinal, aliar-se com um Alves (meio distante, é verdade, mas consanguíneo) faz qualquer petista engolir o discurso de contribuir para a ressurreição de uma oligarquia mais longevas no Estado.

Enfim, a controvérsia ganhou forma desde que Carlos Eduardo foi cogitado a substituir o senador Jean-Paul Prates e buscar a vaga no Senado nas eleições deste ano e mantê-la com o grupo. Embora seu desembarque não fora ainda definitivamente anunciado, a fumaça já se dissipou e Carlos Eduardo já fala por aí como integrante do grupo de Fátima, ora criticando o que ele já denomina “oposição”, ora recebendo o apoio do PV, partido da base aliada do Governo.

Com a chegada de Carlos Eduardo, Fátima jogou o xadrez e aplicou um “xeque” (quase um xeque-mate) na oposição. Tirou a principal figura da corrida, a que poderia ameaçá-la na corrida eleitoral. Todas as pesquisas até o final do ano passado, conduziam para este panorama. Em agosto, no levantamento Consult/Tribuna do Norte, publicada em agosto, em eventual 2º turno, Carlos Eduardo teria 33,9% e Fátima Bezerra 28,9% dos votos. Em outubro, o Instituto Perfil realizou pesquisa sob encomenda do Agora RN. No primeiro turno, Fátima aparecia com 30,51%, contra 22,75% de Carlos Eduardo. Em outubro, o Instituto Real Time Big Data mostrou a fragilidade da governadora em Natal (20% das intenções de voto), onde Carlos Eduardo é mais forte (27%) e o prefeito Álvaro Dias se destacava na segunda posição (25%).

Ou seja, não haveria clima de tranquilidade para Fátima com Carlos Eduardo em seu encalço. Ainda mais, quando as sondagens demonstravam seu inalterável capital eleitoral, não superando os 30%. Além dos 70% dos votos que estariam voando, parte deles era consideravelmente voltados à rejeição a seu nome.

A oposição, por outro lado, tinha o melhor candidato e de  real competitividade, porém, não acreditava tanto assim. Carlos Eduardo chegou a afirmar que foi, por várias vezes, procurado, mas sempre era “escolhido” um outro substituto.

A oposição bobeou, perdeu tempo e a vez. Carlos Eduardo começou as conversas com o grupo da governadora. E, no que pese os pesares, foi oferecida a possibilidade de sentar na cadeira hoje ocupada por Jean. A jogada de Fátima, controvertida para o seu grupo, na verdade, neutralizou a oposição. Esvaneceu qualquer ameaça com possibilidade real de enfrentamento. O xadrez da governadora deixou seus adversários atordoados.

Na resistência interna, as reclamações, os desafios de Jean para Carlos entrar no ringue e disputas com outros integrantes do clã Alves (ao que tudo indica, as conversas ainda seguem para outra direção…). Prevaleceu a estratégia de Fátima de impor aos oponentes a difícil tarefa de encontrar um nome forte sob estas novas condições. Tarefa muito difícil mesmo. Mas, como dito neste texto, Fátima aplicou um “xeque”, não um “xeque-mate”.