Crime

O trator que incomodou o rosalbismo

A palavra “trator” incomoda o rosalbismo. Expôs a baixeza de integrantes do grupo político e o oportunismo de quem imaginava que iria cooptar capital eleitoral

Por William Robson

De um tempo para cá, falar em trator incomoda o rosalbismo. Qualquer fio de prosa sobre isso é silenciado. Mas, não dá para esquecer. Todos lembram (nem faz tanto tempo assim), nos primeiros dias da gestão do prefeito Allyson Bezerra, quando um trator desapareceu da Secretaria de Agricultura. O equipamento teria sido comprado, através de emenda do deputado federal Beto Rosado e simplesmente escafedeu.

O deputado fez questão de anunciar o furto do trator no dia 11 em alto e bom som. Na verdade, o furto ocorreu dois dias antes, um sábado. “Hoje, nós recebemos a notícia triste que um trator foi roubado (sic) da Secretaria de Agricultura de Mossoró. Esse equipamento tinha sido adquirido recentemente com recursos do nosso mandato, recursos da ordem de 285 mil reais”, disse à época.

Naturalmente, o deputado ligado ao rosalbismo não deixou Allyson esquentar a cadeira do Palácio da Resistência para lhe atribuir conexão com o caso. “A notícia que o prefeito retirou os guardas municipais da proteção do patrimônio público, alertou os criminosos para uma ação como essa que foi feita. Um absurdo…”, afirmou. Ou seja, Beto relacionou uma suposta flexibilização da vigilância, suficiente para que os bandidos começassem a agir.

Coincidência ou não, os bandidos agiram. E tinham abrigo na mesma morada de Beto. O principal envolvido tem por nome Nivaldo Ferreira da Silva. Como informou o jornalista Carlos Santos, em ampla reportagem sobre o tema, é “seguidor fiel e de confiança da cúpula do rosalbismo”, agrupamento ao qual Beto integra.

Inclusive, Nivaldo era servidor comissionado da Prefeitura na gestão de Rosalba até o dia 31 de ano passado. E atuava na Secretaria Municipal de Agricultura, desde a nomeação em 13 de novembro de 2017 para Chefe de Divisão, Símbolo CD, o mesmo lugar de onde o trator foi rapinado.

Beto tinha razão. Os criminosos foram alertados. E, como pediu, o crime também foi elucidado. Tanto o rosalbista Nivaldo, quanto o seu seu comparsa Josenildo Leão, firmaram “Acordo de não persecução penal”, assumindo o delito e se safando de penalidade maior. Ambos  ficaram no lucro, devendo apenas pagar fiança em parcelas, mas não passarão um dia preso. O trator que furtaram foi encontrado estacionado em um galpão no município de Guamaré.

Os rosalbistas, no fundo, sabiam do seu envolvimento no sumiço do trator. Beto evitou sequenciar a onda de estardalhaço que iniciou sobre o tema. O assunto rapidamente mnorreu no grupo. A mídia, por outro lado, seguiu cobrando pelas investigações, ciente dos ingredientes que se apresentavam.

Em seguida, surge o escândalo nacional do “tratoraço”, do orçamento paralelo, do qual Beto também teria se beneficiado, ao apresentar emenda para o município de Monte das Gameleiras. Porém, isso é outro assunto.

A palavra “trator” incomoda o rosalbismo. Expôs a baixeza de integrantes do grupo político, o oportunismo de quem imaginava que iria cooptar capital eleitoral acusando uma gestão que estava apenas começando e, acima de tudo, ressaltou o patrimonialismo deliquente que permeava durante décadas o Palácio da Resistência.