O que você ainda não sabe sobre os apelos pela duplicação da BR-304?
Os acidentes motivaram reações imediatas nas redes sociais, com cards que apelavam pela duplicação da BR. Praticamente os dias após o acidente foram dedicados ao tema
Por William Robson
A impressão que se tem quando é necessário enfrentar a BR-304 é que se tenta suicídio. Não é para menos. A estrada é um perigo e uma simples viagem de Mossoró para Natal exige do motorista concentração sobre-humana. Há poucas áreas de segurança, acostamentos raros, aclives, declives, curvas sinosas e pontes estreitas. É assustador. O resultado não poderia ser outro. Mesmo com a pandemia, a vida de 17 pessoas foram cobradas pela rodovia, afora os 62 feridos. No ano passado, foram 18 em universo de 235 acidentes.
Virou chavão pedir a duplicação da BR. No vizinho Estado do Ceará, a CE-040, ou seja, construída e administrada pelo Governo, foi duplicada e sinalizada devidamente, garantindo segurança a quem quer ir às praias do litoral cearense. No RN, centenas de vidas foram levadas e a pista continua a mesma, sem qualquer benfeitoria.
Nunca houve aglutinação necessária dos representantes políticos do RN em torno desta causa. Enquanto os acidentes se acumulam, o debate raramente aquece e a banalização das tragédias na rodovia supera a sensibilidade. Até que na quarta-feira (23), dois acidentes ocorreram, deixando duas pessoas mortas, uma delas bastante conhecida da sociedade mossoroense. O debate da duplicação foi reaquecido.
Conforme noticiou o site Mossoró Hoje, ambos os acidentes foram motivados por ultrapassagens mal realizadas, situações de imprudência que poderiam ser evitadas em pistas duplicadas, com faixas destinadas para manobras neste sentido. Sobretudo na BR-304, pista tomada por caminhões que obstruem o fluxo de veículos, pois precisam trafegar em baixa velocidade.
Os acidentes instaram reações imediatas nas redes sociais, com cards que apelavam pela duplicação da BR. Praticamente os dias após o acidente foram dedicados ao tema, que só não arrefeceu de vez porque os apelos chegaram à Assembleia Legislativa e motivaram parlamentares e cobrar por ações. E, da mesma forma, através de familiares das vítimas, que reforçam insistentemente estes pedidos.
Como os pais do pequeno Gabriel Victor, que jamais esquecerãodo o que ocorreu com seu filho na citada rodovia. Ele, a sua mãe Aniely e o pai, Clélio Soares, foram vítimas de um acidente em 15 de maio, já próximo à entrada do município de São Rafael. Um carro tentou fazer uma ultrapassagem e acabou batendo de frente no veículo onde vinha a família de Gabriel, segundo relatos publicados no site G1. O garoto, infelizmente, não resistiu.
Clélio se integrou a uma campanha sistemática nas redes sociais pedindo a duplicação da estrada. “É um pedido dos norte-rio-grandenses de que essa BR seja duplicada. Eu desde criança escuto que a BR vai ser duplicada, que tem projeto, mas nunca a gente vê algo prático sendo feito”, explicou.
E como esquecer da tragédia do dia 28 de agosto envolvendo quatro jovens da mesma família, próximo à Santa Maria? Maria Izabel, Evelin Raiane e Isabel Medeiros, de 15 anos, da mesma família, a amiga delas, Rayanne Silva, de 17, estavam felizes, pois iriam passar o final de semana na praia de Ponta Negra. Mas as suas vidas foram interrompidas na pista.
Como afirmado, a questão chegou à Assembleia Legislativa, que nada pode fazer a não ser cobrar do Governo Federal, que, efetivamente, responde pela BR. O presidente da Casa, deputado Ezequiel Ferreira (PSDB), pediu que os ministros potiguares, neste caso, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Fábio Faria (Comunicações), mirassem com atenção ao problema. Mas, Ezequiel pediu prioridade a apenas um trecho da rodovia, a que foi batizada de Reta Tabajara. A deputada Isolda Dantas, por sua vez, também solicitou melhorias, mas enquanto a duplicação é discutida, se faz necessário intensificar a sinalização e os trabalhos de manutenção.
O sonho pela duplicação da BR-304 não se restringe às manifestações digitais. Há posicionamentos para além do virtual, e está no âmbito do Ministério da Infra-Estrutura. O senador Jean Paul Prates, em nota distribuída à imprensa, explicou que em dezembro do ano passado, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Senado aprovou o Relatório Final do PPA 2020-2023 com duas emendas de sua autoria. Uma delas prevê a duplicação da BR-304, entre o entroncamento da BR-226 e a Divisa com o Ceará. Ou seja, a proposta tem aspectos mais ousados e atenderia às demandas do potiguar.
Por sua vez, o ministro Tarcísio Gomes de Freitas confirmou que a proposta está no plano: “Sim. Estamos estudando a concessão da BR-116/304 entre Fortaleza e Natal. Isso incluirá a duplicação e adequação da BR-304. Nossa expectativa é realizar a licitação em 2022”.
Quer dizer, o preço que se pagará para a duplicação incluiria a concessão da rodovia. Em outras palavras, o potiguar terá direito a uma pista duplicada desde que pague pedágio sempre que precisar singrá-la. Certamente, o movimento para a melhoria sem maiores custos para o potiguar será discutido posteriormente. Porém, o senador Jean Paul ressalta que a duplicação trará avanços econômicos e turísticos importantes. “Isso sem falar no aumento da segurança para os motoristas, o que certamente vai contribuir para reduzir o número de acidentes na rodovia, salvando muitas vidas”, disse.
A perspectiva do projeto é que a obra de duplicação compreenda uma extensão de 218 quilômetros. O assunto, reaquecido, está no Planalto. As redes, como sempre, pensam na polêmica e na cobrança da vez. Mas, neste caso, os apelos não podem cessar como as modinhas daqueles que estão com o celular na mão. Esse tema é urgente e sério.