O que significa para Mossoró alcançar os 300 mil habitantes?
Sem o petróleo jorrando na intensidade do passado, Mossoró dilata em perspectivas nada agradáveis
Por William Robson
A semana foi marcada por duas notícias importantes e bastante relacionadas. A primeira envolve a decisão da Petrobras em deixar suas operações em Mossoró e no RN, impactando de forma dramática a economia local. O desmonte da empresa foi prenunciado. Não se pode dizer que fomos pegos de surpresa. A questão é que os gestores pagaram para ver ao ignorar os sinais do colapso. A segunda informação é de que Mossoró alcançou os 300 mil habitantes, mantendo-se como a segunda maior cidade do RN em termos demográficos.
Quem mora em Mossoró sabe que falar que a cidade tem 300 mil habitantes era quase praxe. Quer dizer, 300 mil pode não significar tanto para quem já imaginava a cidade com delírios de grandeza. Aliás, não se pode negar que a vaidade do mossoroense sempre busca projetar a cidade com a proporção maior do que a real, chegando inclusive a se colocar como capital de tudo que você possa imaginar (cultura, semiárido…) e até como “metrópole”. Há aqueles que se referem os municípios vizinhas como “interior”.
Mesmo assim, Mossoró mantém seu padrão de porte médio, longe da dimensão de metrópole, com toda a sua problemática e desafios. Nossos problemas e desafios são outros. E quando alcançamos 300 mil habitantes em cenário de êxodo da principal matriz produtiva do município, começamos a ter a noção da adversidade que enfrentaremos.
300.618 habitantes é o número mais exato. Em 2019, éramos 297.378 habitantes. Daí, percebemos um detalhe: crescemos ou inchamos? Como garantir a qualidade de vida para milhares de pessoas que estão morando aqui, assegurar infra-estrutura, mobilidade, saúde e educação, ao mesmo tempo em que a arrecadação do município cairá vertiginosamente (esta regressão já ocorre) a partir do momento em que a Petrobrás sair e apagar a luz?
A Petrobras chegou a responder por 50% do PIB do Estado. Não é pouca coisa. Mossoró viveu seu apogeu nos primeiros anos dos anos 2000 exatamente na esteira do petróleo. A população era menor, a massa salarial maior, a economia girando, pleno-emprego com salários elevados… Esta situação, nem de longe, é a mesma de hoje, sobretudo, no universo de três centenas de milhares de pessoas.
A governadora Fátima Bezerra e alguns parlamentares tentaram reverter a decisão que levará o Estado e Mossoró, especificamente, ao quadro de penúria. O RN, vale ressaltar, chegou a 3,5 milhões de habitantes neste ambiente em que um terço da população depende do Bolsa Família e do auxílio emergencial, índice que se repete em Mossoró.
Sem o petróleo jorrando na intensidade do passado, Mossoró dilata em perspectivas nada agradáveis. Este contingente de moradores daqui vai exigir dos gestores atuais e dos próximos (estamos à borda das eleições) soluções, mas até agora ninguém conseguiu, com eficiência, colocar algo no lugar da Petrobras. E será que teremos outra mina de ouro deste porte?