O que provocou o apelo dramático de Allyson Bezerra?
“Estamos no momento mais difícil desta pandemia”, afirmou o prefeito, em pronunciamento no sábado. E antes que destacasse os detalhes que levaram ao colapso na cidade, fez um apelo dramático
Por William Robson
Logo na manhã de sábado (20), o prefeito Allyson Bezerra decidiu visitar a UPA do Belo Horizonte. É lá onde estão internados os pacientes com covid em leitos clínicos. Allyson também aproveitou o dia para conhecer a fundo a situação dos leitos nas demais unidades de saúde, o São Luiz, Hospital Tarcísio Maia, Rafael Fernandes e Maternidade Almeida Castro. O que testemunhou foi de assustar. Profissionais de saúde exaustos e o colapso em todos os setores, sejam clínicos ou de UTI. Foi a primeira vez que Mossoró enfrentou situação tão dramática, já que colapso anterior atingia tão somente as alas de terapia intensiva.
O sábado também era o primeiro dia do novo decreto da governadora Fátima Bezerra, apertando a rigidez no isolamento e impedindo o funcionamento de atividades não essenciais. A medida busca evitar a circulação de pessoas, o que ampliaria a fila daqueles que aguardam por leitos. O panorama mais do que crítico deixou o prefeito perplexo a ponto de fazer pronunciamento extraordinário no mesmo dia, à noite.
“Estamos no momento mais difícil desta pandemia”, afirmou o prefeito. E antes que destacasse os detalhes que levaram ao colapso na cidade, fez um apelo dramático. Allyson apresentou-se visivelmente preocupado, o que motivou a clamar aos mossoroenses para a seriedade dos cuidados. “O prefeito realmente estava demonstrando muita preocupação com o que está acontecendo”, explicou o jornalista Cézar Alves, durante o programa Mossoró Hoje, da Rádio Difusora.
“Quero dizer que o momento exige de nós muita responsabilidade e, acima de tudo, muita compaixão por nossa família e por cada um de nós”, disse, no pronunciamento. “O momento exige que cada um possa se proteger e buscar proteger a sua família. Eu gostaria de dizer, neste momento, que a cidade de Mossoró, além de passar pelo momento mais crítico da pandemia, vivencia situação muito difícil, de quase esgotamento dos nossos leitos clínicos em toda a nossa rede de saúde”.
O anúncio foi dramático e não fossem os dez novos leitos de UTIs a serem instalados na Liga Mossoroense de Estudos e Combate ao Câncer, a situação a perspectiva seria ainda pior. Os leitos anunciados neste domingo (21) pela governadora Fátima Bezerra amenizam o quadro crítico, porém, como um poço sem fundo, o problema não se resolve. “É importante dizer que, em contato com o Governo do Estado e com a Femurn, vemos que a situação não é apenas em nossa cidade. Pelo contrário. Hoje, 46 município do RN enfrentam desabastecimento de oxigênio”, ressalta o prefeito.
O cenário aterrador levou o prefeito a pedir que os mossoroenses se protegessem. O pedido veio como quem tivesse falando de uma guerra ou na iminência de um ataque nuclear. E foi assim que definiu: “Estamos em uma guerra”. Por isso, reforçou o distanciamento. O isolamento neste caso, ainda é a saída mais eficaz, depois da vacina. Porém o que se percebeu na atitude de Allyson foi a atitude de invocar a participação de todos neste processo e não apenas do Estado, que não consegue dar conta de tudo sozinho. “Eu estive visitando a UTI do Hospital São Luiz, unidade referência em toda região, e pude constatar a quantidade de jovens intubados e lutando para sobreviver. São jovens como eu, como você e como seus filhos, que querem viver e sair desta pandemia. Este é o meu apelo”, pede o prefeito.
Veja o trecho em que o prefeito Allyson Bezerra faz o apelo
A rogativa do prefeito tem muito a ver com o que testemunhou no sábado. Ao ser estimulado ao discurso online, que foi transmitido pelo Youtube, esteve na UPA do Belo Horizonte. “Em reunião com a direção e com o pessoal que ali estava, pude constatar que os números da Covid em Mossoró ficaramainda mais graves”, revela. “A situação fica mais crítica e com mais jovens afetados. Não queremos perder mais mossoroenses. Por isso, queremos que cada um assuma esta responsabilidade”.
A ocupação dos leitos em Mossoró deu uma guinada quanto à origem dos pacientes. Antes, os mossoroenses eram minoria. Agora ocupam a maior parte das vagas. As demais são destinadas aqueles exportados por cidades do interior e até da capital do Estado.
Mas, o que levou Allyson a fazer este apelo num sábado à noite? A constatação do avanço da pandemia na cidade é a principal razão. E veio de outra constatação: a do colapso total na estrutura de saúde. Até sábado, o levantamento apontava total lotação no Hospital Rafael Fernandes (10 leitos de UTI e 20 clínicos), Hospital Tarcísio Maia (10 leitos de UTI e 7 clínicos ocupados), UPA do Belo Horizonte (24 pacientes ocupando os leitos de enfermaria e salas vermelhas) e no Hospital São Luiz (47 leitos de UTI e 10 clínicos ocupados). “Nunca antes, em momento algum, estivemos em quadro tão crítico. Eu volto a pedir, independente da religião, condição financeira, do bairro ou da zona rural, da posição política ou ideológica, o momento é de união. Cada um com sua responsabilidade”, novamente apela.
O pronunciamento, de quase 20 minutos, também aproveitou para agradecer o trabalho dos profissionais de saúde, já exaustos diante da problemática, e sobre a vacinação, que poderá se estender pelo fim de semana, à medida que os lotes desembarquem na cidade.