Colapso no sistema de saúde

O que provocou o apelo dramático de Allyson Bezerra?

"Estamos no momento mais difícil desta pandemia", afirmou o prefeito, em pronunciamento no sábado. E antes que destacasse os detalhes que levaram ao colapso na cidade, fez um apelo dramático
22 de março de 2021
allyson covid.fw
1180x120px (1)

Por William Robson

Logo na manhã de sábado (20), o prefeito Allyson Bezerra decidiu visitar a UPA do Belo Horizonte. É lá onde estão internados os pacientes com covid em leitos clínicos. Allyson também aproveitou o dia para conhecer a fundo a situação dos leitos nas demais unidades de saúde, o São Luiz, Hospital Tarcísio Maia, Rafael Fernandes e Maternidade Almeida Castro. O que testemunhou foi de assustar. Profissionais de saúde exaustos e o colapso em todos os setores, sejam clínicos ou de UTI. Foi a primeira vez que Mossoró enfrentou situação tão dramática, já que colapso anterior atingia tão somente as alas de terapia intensiva.

O prefeito Allyson Bezerra, durante visita à UPA do Belo Horizonte

O sábado também era o primeiro dia do novo decreto da governadora Fátima Bezerra, apertando a rigidez no isolamento e impedindo o funcionamento de atividades não essenciais. A medida busca evitar a circulação de pessoas, o que ampliaria a fila daqueles que aguardam por leitos. O panorama mais do que crítico deixou o prefeito perplexo a ponto de fazer pronunciamento extraordinário no mesmo dia, à noite.

“Estamos no momento mais difícil desta pandemia”, afirmou o prefeito. E antes que destacasse os detalhes que levaram ao colapso na cidade, fez um apelo dramático. Allyson apresentou-se visivelmente preocupado, o que motivou a clamar aos mossoroenses para a seriedade dos cuidados. “O prefeito realmente estava demonstrando muita preocupação com o que está acontecendo”, explicou o jornalista Cézar Alves, durante o programa Mossoró Hoje, da Rádio Difusora.

Profissionais da saúde explicam a situação dos leitos na UPA do Belo Horizonte: colapso em todas as unidades

“Quero dizer que o momento exige de nós muita responsabilidade e, acima de tudo, muita compaixão por nossa família e por cada um de nós”, disse, no pronunciamento. “O momento exige que cada um possa se proteger e buscar proteger a sua família. Eu gostaria de dizer, neste momento, que a cidade de Mossoró, além de passar pelo momento mais crítico da pandemia, vivencia situação muito difícil, de quase esgotamento dos nossos leitos clínicos em toda a nossa rede de saúde”.

O anúncio foi dramático e não fossem os dez novos leitos de UTIs a serem instalados na Liga Mossoroense de Estudos e Combate ao Câncer, a situação a perspectiva seria ainda pior. Os leitos anunciados neste domingo (21) pela governadora Fátima Bezerra amenizam o quadro crítico, porém, como um poço sem fundo, o problema não se resolve. “É importante dizer que, em contato com o Governo do Estado e com a Femurn, vemos que a situação não é apenas em nossa cidade. Pelo contrário. Hoje, 46 município do RN enfrentam desabastecimento de oxigênio”, ressalta o prefeito.

O cenário aterrador levou o prefeito a pedir que os mossoroenses se protegessem. O pedido veio como quem tivesse falando de uma guerra ou na iminência de um ataque nuclear. E foi assim que definiu: “Estamos em uma guerra”. Por isso, reforçou o distanciamento. O isolamento neste caso, ainda é a saída mais eficaz, depois da vacina. Porém o que se percebeu na atitude de Allyson foi a atitude de invocar a participação de todos neste processo e não apenas do Estado, que não consegue dar conta de tudo sozinho. “Eu estive visitando a UTI do Hospital São Luiz, unidade referência em toda região, e pude constatar a quantidade de jovens intubados e lutando para sobreviver. São jovens como eu, como você e como seus filhos, que querem viver e sair desta pandemia. Este é o meu apelo”, pede o prefeito.

Veja o trecho em que o prefeito Allyson Bezerra faz o apelo

A rogativa do prefeito tem muito a ver com o que testemunhou no sábado. Ao ser estimulado ao discurso online, que foi transmitido pelo Youtube, esteve na UPA do Belo Horizonte. “Em reunião com a direção e com o pessoal que ali estava, pude constatar que os números da Covid em Mossoró ficaramainda mais graves”, revela. “A situação fica mais crítica e com mais jovens afetados. Não queremos perder mais mossoroenses. Por isso, queremos que cada um assuma esta responsabilidade”.

A ocupação dos leitos em Mossoró deu uma guinada quanto à origem dos pacientes. Antes, os mossoroenses eram minoria. Agora ocupam a maior parte das vagas. As demais são destinadas aqueles exportados por cidades do interior e até da capital do Estado.

Mas, o que levou Allyson a fazer este apelo num sábado à noite? A constatação do avanço da pandemia na cidade é a principal razão. E veio de outra constatação: a do colapso total na estrutura de saúde. Até sábado, o levantamento apontava total lotação no Hospital Rafael Fernandes (10 leitos de UTI e 20 clínicos), Hospital Tarcísio Maia (10 leitos de UTI e 7 clínicos ocupados), UPA do Belo Horizonte (24 pacientes ocupando os leitos de enfermaria e salas vermelhas) e no Hospital São Luiz (47 leitos de UTI e 10 clínicos ocupados). “Nunca antes, em momento algum, estivemos em quadro tão crítico. Eu volto a pedir, independente da religião, condição financeira, do bairro ou da zona rural, da posição política ou ideológica, o momento é de união. Cada um com sua responsabilidade”, novamente apela.

O pronunciamento, de quase 20 minutos, também aproveitou para agradecer o trabalho dos profissionais de saúde, já exaustos diante da problemática, e sobre a vacinação, que poderá se estender pelo fim de semana, à medida que os lotes desembarquem na cidade.