O prêmio da OAB ao presidente agressor
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Hermeson Pinheiro, foi o protagonista de um momento de fúria, agredindo uma mulher. Uma segunda, que estaria dentro do carro, aparece em outra filmagem, abandonada na rua, sozinha. E o que fez a OAB?
Por William Robson
O vídeo é estarrecedor e viralizou nas redes sociais nesta quarta-feira, 29. As imagens são escuras e atribuídas ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional de Mossoró, Hermeson Pinheiro. Foi o protagonista de um momento de fúria, agredindo uma mulher. Uma segunda, que estaria dentro do carro, aparece em outra filmagem, abandonada na rua, sozinha.
Ou seja, duas mulheres agredidas. O caso foi, supostamente, atribuído a um episódio de infidelidade conjugal (a esposa do advogado teria flagrado), porém, não se trata de um caso de “natureza pessoal” como apontou a nota sebosa emitida pela OAB local poucas horas após as imagens percorrerem a internet.
Uma das mulheres é atacada, seu celular arrancado das mãos, o carro avariado e ainda foi xingada. A segunda, abandonada, estava claramente atordoada, vulnerável, em região perigosa da cidade. Não parece ser ato simplesmente de natureza pessoal quando envolve aquele que preside a principal organização de operadores cuja atribuição é garantir direitos. Portanto, o cargo é essencialmente de caráter político e público. Seus atos foram repugnantes, porém, a OAB não tardou em expor seu viés corporativista e, consequentemente, machista.
Pelo contrário, a entidade ofereceu um prêmio ao agressor. Garantiu uma espécie de férias ao presidente (“o mesmo encontra-se afastado de suas funções”) na expectativa de que o tempo se encarregue de jogar o episódio para debaixo do tapete. Estranhamente, quem assume o cargo (“interinamente”, diz a nota) é uma mulher: Diana Paula Bessa Maia Fernandes, que embora, no posto, ainda não se posicionou a respeito da violência de gênero.
São questões fundamentais de defesa da mulher e contra a violência feminina que não devem passar como meras retóricas. A OAB-RN, através da Comissão da Mulher Advogada, até que emitiu nota, também sebosa, chamando o episódio de “lamentável”. Acrescentou que o agressor “será submetido a um procedimento administrativo passível de exclusão dos quadros da OAB”. E que teria entrado em contato com a polícia para garantir apoio às vítimas. O problema é que a nota da ala feminina da OAB também puxa o freio de mão, evita citar o envolvimento do presidente da OAB mossoroense no vexame, e atribui o caso de “suposto”.
A mídia local e os movimentos feministas deram sua mãozinha. Manteve-se em silêncio durante todo o dia, quebrado após a primeira publicação do jornalista Saulo Vale, ao falar do “caso de agressão física, verbal e patrimonial”.
Apesar das imagens escuras, colocadas sob dúvida pela OAB nas duas notas publicadas, o presidente local da entidade desapareceu de suas redes sociais e não se pronunciou a respeito até agora. A entidade não fala em sua destituição. Nem ele de renúncia. O tempo é mercúrio cromo.