O precedente que Marinho encontrou para justificar o terrorismo
De antemão, algo o incomoda. Não quer que os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro sejam tachados de “terroristas”
Por William Robson
O senador eleito Rogério Marinho se colocou para desempenhar uma tarefa hercúlea e inglória. Promover duplos twist carpados para amenizar os atos terroristas promovidos pelos seguidores do seu agrupamento bolsonarista. Antes de passar pano como poucos se atreveriam, Marinho tenta condenar os atos com discursos de praxe, tipo “o que aconteceu é reprovável sob qualquer ângulo”. No entanto, ele realmente expôs do que o seu coração está cheio em relação aos ataques, através de apologética descabida.
De antemão, algo o incomoda. Não quer que os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro sejam tachados de “terroristas”. Após período de fermentação nas cercanias dos QGs do Exército, insuflados por líderes extremistas como o ex-presidente, invadirem as sedes do três poderes e promoverem a maior quebradeira da história republicana, os terroristas bolsonaristas deveriam ser relativizados. É café pequeno para Marinho. Para isso, ele busca precedentes inexistentes e trabalha com falsas simetrias que levam até os repórteres da Folha de S. Paulo, Thaísa Oliveira e José Marques ao constrangimento, na entrevista publicada na edição deste sábado (14).
Para justificar os ataques que diz condenar, Marinho estabelece comparações esdrúxulas com a esquerda. “De 1988 para cá todas as manifestações da esquerda, com raríssimas exceções, terminaram em quebra-quebra ou invasão de prédios”, afirmou.
Logo, os jornalistas rebateram: “Mas depredar completamente a sede dos três Poderes nunca aconteceu”. Marinho ainda tenta contra-argumentar, como se estivesse lidando com tolos. “É, mas a Câmara foi invadida, os ministérios foram invadidos e depredados em 2017, as Assembleias Legislativas de alguns estados também. O que nós não podemos é dizer que [em 2017] foi um ato político de resistência e, agora, [enquadrar] esse fato lamentável e reprovável de forma diferente. Você não pode tratar com dois pesos e duas medidas o mesmo problema ou a mesma manifestação. Não existe meia gravidez. Um ataque à instituição é um ataque à instituição, tem que ser reprovado igualmente”.
Para Marinho, os ataques terroristas do dia 8 de janeiro são episódios recorrentes no país, com antecedentes ligados à esquerda brasileira. “Eu não estou comparando, eu estou afirmando que atos de invasão de prédios públicos, de ataque, depredação, de barbárie às instituições, a Assembleias Legislativas, STF, ministérios, são atos que merecem nosso repúdio e reprovação, mas têm que ser tratados de forma igual. E não houve punição em 2017 ou, se houve, foi muito pequena”, comparou.
Ou seja, Marinho se solidariza com o terrorismo e busca em seu malabarismo retórico encontrar saída para o golpe que estava em curso no Brasil.