O “Pilatos” do Senado
Na cesta das laranjas podres, em sua cabeça, ele é a única que escapa para virar suco vitaminado contra o escorbuto que “vitima” os ocupantes de cargos no Congresso Nacional
Por Emerson Linhares
O senador Styvenson Valentim acredita ser o suprassumo da moralidade brasileira, sobretudo no parlamento nacional e, acima disso, dentro da própria política tupiniquim. Diante de inúmeras atitudes, entrevistas e postagens em redes sociais, arrisco afirmar que o senador deplora o cargo em que está investido. Na cesta das laranjas podres, em sua cabeça, ele é a única que escapa para virar suco vitaminado contra o escorbuto que “vitima” os ocupantes de cargos no Congresso Nacional.
Vejamos: “O senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) caiu na boca dos colegas. Em vídeo levado às redes sociais, chamou o Senado de “chiqueiro”, disse ser “difícil” suportar a “catinga” e lamentou ter que chamar “vagabundo” de “excelência”. Essa é abertura do texto do jornalista Josias de Souza em prestigiada coluna no portal UOL, de 06 de outubro do ano passado. Lamentável a postura do senador potiguar. A pergunta que não quer calar é: por que Valentim fica “chafurdando” no Senado?
Em entrevista ao Blog do Barreto, ante a péssima repercussão do fato de que retirara seu nome da lista para abertura de uma CPI voltada a investigar possível corrupção no Ministério da Educação e Cultura (MEC) do governo Bolsonaro, o senador disse que “até o final desse mandato eu não assino CPI nenhuma”. Verifica-se, portanto, que o ‘senador da idoneidade’ está, com tal postura, recusando-se a utilizar um instrumento legítimo previsto na Constituição da República Federativa do Brasil (Art. 58, § 3º) para investigar e combater os desmandos e desvios de conduta nas instituições públicas. Styvenson afirmou que não foi pressionado e que se limita a dizer que não resolve nada, haja vista a CPI da Covid.
Para a CNN, disse ainda o senador potiguar que “trazer essa discussão para dentro do Congresso Nacional, em um ano eleitoral, serviria apenas para dar palanque político para a oposição”. Opa! Não estamos falando de eleições, Senador, porque no centro do debate está o tema corrupção num ministério. O combate à corrupção deixou de ser uma causa importante para Styvenson de uma hora para outra? O nobre parlamentar deveria consultar o art. 58, caput, da Constituição, segundo o qual “O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas no respectivo regimento ou no ato que resultar sua criação”. Lá não diz que não seria possível instalação de CPI em ano eleitoral porque a oposição pode aproveitar para fazer palanque político.
Ademais, é estranho o senador Styvenson – que não é líder do governo Bolsonaro no Senado é que construiu sua candidatura sobre o lema do combate à corrupção – fazer esse tipo de ponderação sobre CPI não dar em nada. Ao fim e ao cabo, Styvenson faz o mesmo jogo de muitos dos políticos que diz desprezar: lava as mãos, como Pilatos fez diante de Cristo. Sem CPI, Senador, o que pode ocorrer é a turma que se refestelou no “chiqueiro” do MEC sair impune e o povo ser crucificado mais uma vez porque o senhor não teve a dignidade de assumir que não assinou porque não quis se comprometer politicamente.