O momento em que o bolsonarismo assume a derrota
Os estrategistas não sabem como nortear (se é que um dia esteve norteado) o rumo da corrida pela reeleição do Bolsonaro, a cinco dias da eleição
Por William Robson
A seita bolsonarista não acredita nas pesquisas, mas o núcleo da campanha de Bolsonaro, sim. E isso ficou demonstrado em manifestações recentes que apontam para uma reta final atabalhoada, onde os estrategistas não sabem como nortear (se é que um dia esteve norteado) o rumo da corrida pela reeleição do Bolsonaro, a cinco dias da eleição.
Como sabemos, o momento impactante da campanha nesta reta final foi a atentado do ex-deputado Roberto Jefferson, um dos coordenadores bolsonaristas, contra quatro policiais federais que cumpriam ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Morais. No entanto, outro elemento gerou impacto no QG. Após as pesquisas divulgadas nesta segunda-feira (24) pelos institutos Atlas e Ipec, o bolsonarismo entrou em clima de velório e desespero.
Já não há mais sensação de virada no bolsonarismo, após ambos os institutos aplicarem diferenças de seis e até sete pontos em favor do ex-presidente Lula. O Ipec, por sua vez, expõe estabilização tamanha que se traduz em prejuízo para Bolsonaro. Nada que o presidente empregou até aqui conseguiu mover um voto sequer. Os números repetem sondagens anteriores e a votação do primeiro turno.
Com a feição claramente abatida, o ministro Fábio Faria tentou, em ato destemperado e desesperado, criar um factoide tumultuante que tende a se transformar em crime eleitoral, caso não prove as suas denúncias em 24 horas. Convocou a imprensa em regime de urgência para afirmar que rádios, especialmente no Nordeste, têm deixado de veicular parte das propagandas do presidente, o que tem prejudicado a candidatura. O relatório apresentado ao TSE foi considerado “apócrifo” e não surtiu a repercussão desejada de gerar instabilidade nas eleições.
A ação de Faria denuncia o núcleo bolsonarista perdido e angustiado. Iniciada a semana na defensiva, o agrupamento perdeu a hegemonia nas redes, tenta se desvencilhar do amigo Roberto Jefferson em vão e sente as pesquisas trazerem uma agoniante estabilização. O bolsonarismo sente não haver como consertar o buraco que cresce fortemente no casco do seu navio.