Análise do dia

O fracasso do protesto da terceira via

Alguns setores da esquerda conseguiram acordar a tempo. Não aderiram ao protesto organizado pelos Movimento Brasil Livre, de natureza de direita-liberal

Por William Robson

Alguns setores da esquerda conseguiram acordar a tempo. Não aderiram ao protesto organizado pelos Movimento Brasil Livre, de natureza de direita-liberal. Não caíram na cilada de fortalecer nome de uma tal terceira via para as eleições do ano que vem, sob o verniz do impeachment do presidente Jair  Bolsonaro. A estratégia foi boa, afinal tirar o bolsonarismo do poder é tudo que a maior parte dos brasileiros quer. Porém, a real intenção do que aconteceu no domingo estava latente.

O MBL quis impor o seu protagonismo no protesto para dar vida a uma alternativa que não fosse Lula, nem o atual presidente.  O movimento, um dos responsável pela ascensão da extrema-direita no Brasil, vê agora o Bolsonaro e Lula como extremos. Acredita que Lula seria a extrema-esquerda, o que além de desonesto, é infame. Todos sabem a capacidade de diálogo do ex-presidente e, mais do que isso, a sua postura frente às instituições e a democracia enquanto esteve no poder. Mas, aí é outra história.

Estranhamente o MBL convidou o Partido dos Trabalhadores e outros integrantes da esquerda para engrossarem o seu caldo. Mesmo com pixuleco e expressões críticas contra o ex-presidente Lula. Claro que o PT não iria aceitar, decisão tomada em cima da hora. E acertada.

O resultado foi um fiasco. Manifestações esvaziadas em 14 capitais. Palanque ridículo para Ciro Gomes, João Dória e Henrique Mandetta, os nomes que se apresentam no menu do MBL (pelo menos, por enquanto). A festa organizada para dar o ponta-pé inicial na campanha de n nome alternativo para enfrentar a polarização demonstrou o seu tamanho, dimensão que todos sabiam há tempos, como as pesquisas de opinião ressaltavam.

Enquanto isso, o PSDB do Doria não arregimentou os seus. Aliás, desde que “ostentou” os 4% dos votos nas eleições de 2018, percebeu seu eleitor migrar para o bolsonarismo. A lavagem cerebral que patrocinou, ao lado da mídia e de outros setores reacionários, tirou a racionalidade de seus antigos seguidores. Fez nascer o antipetista-zumbi, capaz de acreditar em todas as doutrinas proferidas por Jair “Jim Jones” Bolsonaro. O MBL não conseguiu recuperar este eleitor, como se viu no protesto esvaziado.

A jornalista Vera Magalhães, conhecida por sua aquiescência ao tucanato, percebeu e tentou explicar o fiasco do domingo. ” Já o comparecimento tímido de pessoas às manifestações mostra algumas coisas. A primeira, inequívoca, é que hoje a verdadeira mobilização contra Bolsonaro vem dos eleitores da esquerda, embora, também paradoxalmente, depois do Sete de Setembro Lula tenha sido uma das vozes a não berrar “fora Bolsonaro”, justamente porque interessa a ele enfrentar o presidente no segundo turno do ano que vem”, disse, como se fosse novidade.

Todos sabem que o esfacelamento do bolsonarismo não é uma preocupação do ex-presidente Lula. Vera Magalhães, que também deu coro para o antipetismo, e tantos outros, foram responsáveis por parir Mateus. Balancem e como democratas, respeitem a soberania do voto que a extrema-direita recebeu com o apoio de vocês. Ano que vem, Bolsonaro, asseclas e apoiadores indiretos do passado, precisam ser estirpados. No voto para garantir a legitimidade necessária para a retomada democrática e para impedir qualquer sacralização daqueles que veem no Bolsonaro a estranha figura de um “mito”.