Atos golpistas

O 8 de janeiro ainda não acabou

A data se transformou em efeméride e, ao mesmo tempo, em momento de apreensão. O ministro Alexandre de Moraes, partindo para cima dos golpistas, afirmou que a data de hoje não é para comemoração

Por William Robson

Se você não foi um daqueles que se atreveram a atacar a democracia, é bem provável que saiba exatamente o que estava fazendo em 8 de janeiro de 2023. O dia que entrou para a história no Brasil, versão tupiniquim do 6 de janeiro, sórdida mimetização dos fanáticos do presidente americano Donald Trump na invasão ao Capitólio. No Brasil, fanáticos bolsonaristas adestrados invadiram as sedes dos poderes da República, em ação de destruição e ataque ao sistema democrático. Este dia não acabou.

A data se transformou em efeméride e, ao mesmo tempo, em momento de apreensão. O ministro Alexandre de Moraes, partindo para cima dos golpistas, afirmou que a data de hoje não é para comemoração. Serve para lembrar a fim de não esquecer.  E logo avisa que qualquer manifestação de euforia que remeta às intenções daquele dia, incidirá em crime. “Qualquer pessoa que pretenda comemorar o dia 8 estará comemorando um crime, porque estará comemorando uma tentativa de golpe”, disse o ministro em entrevista à revista Veja. “Seria importante que essas pessoas tenham muito cuidado com o que vão fazer.”

O 8 de janeiro não acabou porque ainda é preciso responsabilizar muita gente. Há centenas de pessoas condenadas e presas por, efetivamente, depredarem os prédios do Governo, usarem o plenário do Senado como escorregador, destruírem as cadeiras dos ministros do STF, danificarem obras de arte de valor inestimável, além de detalhes sórdidos que emanaram das investigações da Polícia Federal.

A participação dos golpistas deu-se em patamares diversos. Segundo a PF, incluíam desde aqueles que distribuíam comida e água até as pessoas que organizavam caravanas para seguir à Brasília no intuiro antidemocrático (há relatos que incluem pessoas no RN também).

Os ataques aos prédios integravam projeto de golpe organizado de forma bem mais ampla. Inclusive, com o assassinato do ministro Alexandre de Moraes e do presidente eleito, Lula e do vice, Alckmin. A PF foi montando as peças para entender que a massa invasora dos prédios em Brasília não o fez apenas por idolatria e insanidade em relação ao seu líder. Havia, também, um núcleo estratégico que planejou todo o ataque.

A tentativa de assassinato de agentes públicos não era um “mero pensar em matar”, como foi cogitado. “As pessoas estavam nas ruas vigiando o ministro Alexandre de Moraes. A impressão de um plano para matar o presidente da República (Lula) foi feita dentro do Palácio do Planalto, e o plano foi levado ao Palácio da Alvorada, onde estava o então presidente da República (Jair Bolsonaro)”, explicou o diretor-geral da Polícia Federal, Alderi Rodrigues, em entrevista nesta terça-feira, 7, ao jornal O Globo.

As apurações culminaram na prisão do general Braga Netto, ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro.  Ele estava interferindo na delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e obtendo informações da investigação. Com Cid e Braga Netto, os mentores, aos poucos entraram no radar e são responsabilizados pela intentona golpista. Mas, falta mais gente aí. A PF avisou que “não vamos perseguir nem proteger ninguém” e é possível que novas prisões ocorram.

Enquanto isso, o 8 de janeiro é lembrado de outra forma. O presidente Lula quer uma grande cerimônia em Brasília e um “abraço pela democracia”. A cultura brasileira, também atacada pelos golpista, caminhará em plenitude neste dia. O histórico relógio de Dom João VI, feito pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot, e o importante quadro de Di Cavalcanti voltarão restaurado aos seus lugares.