Novo drama em Mossoró: o bloqueio das UTIs Covid
Embora os casos estejam aumentando, a ocupação de leitos vem diminuindo. A explicação para esta aparente incongruência surgiu nesta quarta-feira (28)
Por William Robson
A Plataforma Regula RN mostra uma redução de ocupação de leitos de UTI Covid. O panorama que superava os 90% de lotação, agora está na faixa dos 70%. Ou seja, menos potiguares estão ocupando estas vagas. E no período em que a governadora Fátima Bezerra flexibiliza os decretos e enfrenta outros ainda mais flexíveis, como o caso do prefeito de Natal, Álvaro Dias, o que aconteceu para tamanho desempenho?
Embora os casos estejam aumentando, a ocupação de leitos vem diminuindo. A explicação para esta aparente incongruência surgiu nesta quarta-feira (28). Os leitos não estão sendo ocupados por ausência de pacientes, porém por falta de insumos. Mossoró enfrenta um outro drama. Como evitar que novos leitos de UTI sejam desativados por falta de medicamentos necessários para intubar os pacientes? O problema atinge todo o Estado.
Os números mais recentes, atualizados até as 16h desta quarta-feira (28), mostram que 53 leitos críticos estão bloqueados no momento. Corresponde a 12,83% do total em operação, mais da metade desse quantitativo pela falta de algum item necessário para o seu funcionamento.
O tema ganha repercussão também em Mossoró. Os leitos do hospital de campanha São Luiz estão neste processo de bloqueio. Já são 15, como informou o jornalista Vonúvio Praxedes, em seu blog “Diário Político”. Segundo ele, 11 estão bloqueados sem a possibilidade de receber pacientes por causa da falta de ‘kit intubação’ e outros quatro por falta de insumos. Os bloqueios começaram nessa terça-feira (27), como podem ser comprovados na reprodução do documento.
A situação não deve parar por aí. Mais bloqueios estão previstos, como colocou o jornalista Cézar Alves, durante seu programa matinal na Rádio Difusora. A falta de kit intubação tende a ampliar os bloqueios de UTIs em Mossoró para 30.
Sem o kit-intubação, o paciente não pode ser intubado, procedimento médico invasivo e doloroso que intenta manter a respiração de um pulmão extremamente debilitado por conta da Covid-19. Assim, o kit trata-se de um conjunto de medicamentos e sedativos utilizados para relaxar a musculatura e realizar a intubação dos pacientes, sem provocar sofrimento.
O envio dos medicamentos é de responsabilidade do Governo Federal, visto que em 19 de março de 2021, a União requereu a produção nacional de medicamentos de UTI. Portanto, os distribuidores recolheram seus estoques não sendo possível a aquisição diretamente pelos hospitais.
É um quadro desesperador no momento em que não se deve baixar a guarda no enfrentamento à Covid. A falta de UTIs significa fila de espera de pessoas que não podem esperar. E o cenário de flexibilização coloca mais gasolina neste fogo alto. E acrescente aí o fato de o Governo Federal suspender o repasse de vacinas da Coronavac, emperrando a campanha de vacinação, sobretudo, para quem necessita tomar a segunda dose.
A situação atual dos estoques da SESAP, voltados para a rede estadual encontra-se no limite”
Trecho da nota da Sesap
Para que um leito esja considerado “bloqueado”, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabelece alguns critérios. No RN, tais bloqueios foram motivados pela falta de algum item para a sua utilização: 14 leitos estão bloqueados por falta de insumos (25,5% do total de leitos bloqueados); 13 não podem ser regulados por falta de kit intubação (23,6%), três estão bloqueados por falta de monitor multiparâmetro (5,5%) e dois seguem bloqueados por falta de bomba de infusão.
O Governo do Estado explicou que a responsabilidade do repasse é do Governo Federal e que o hospital em Mossoró deve fazer a solicitação para que tais unidades sejam reativadas. Isso devido à pactuação para o funcionamento dos leitos de UTI Covid, através de Termo de Ajustamento de Conduta. E reconhece que a falta de “kit de intubação estão em escassez a nível nacional”.
No início deste quadro crítico, o Governo do Estado informou que vai auxiliar o hospital São Luiz com repasse de anestésicos, embora não se saiba se tais medicamentos serão suficientes. “A situação atual dos estoques da SESAP, voltados para a rede estadual encontra-se no limite”, acrescenta a nota da Secretaria de Estado da Saúde Pública.
Ainda mais quando a Sesap encerra explicação com uma dúvida: “Destacamos ainda que apesar da requisição ter sido feita pelo Ministério de Saúde aos produtores e fornecedores, o Rio Grande do Norte não vem recebendo esse suporte com regularidade, e não existe cronograma para o fornecimento por parte do governo federal”. Ou seja, não há sequer previsão para que este momento angustiante seja, sequer, revertido.