Nem o PT de Mossoró está à esquerda
Uma reunião no sábado 15 decidiu pela neutralização. Porém, o partido não decidiu abrir mão para apoiar um congênere
Imagem: A reunião do sábado, 15, do diretório do PT local, com os participantes fazendo o L de Lawrence (Imagem: Blog Saulo Vale)
Uma reunião no sábado 15 decidiu pela neutralização. O PT abriu mão da candidatura a prefeito de Mossoró, diante dos números desfavoráveis que envolvem a rejeição da presidente local do partido, deputada estadual Isolda Dantas, e a baixa popularidade da governadora Fátima Bezerra, baseados na última pesquisa do Instituto Exatus.
Porém, o partido não decidiu abrir mão para apoiar um congênere. Radicaliza ao se aliar com aquele que, na última eleição, foi às ruas para pedir votos para o ex-presidente Jair Bolsonaro, arquirrival.
O PT esqueceu o passado bolsonarista do presidente da Câmara, Lawrence Amorim. À lá Belchior, é uma roupa que não o serve mais. Pelo contrário, o partido está se encarregando de dar um tapa no visual do antigo adversário e aspergir um banho de “progressismo”. Para isso, busca amenizar suas declarações de apoio ao ex-presidente, fala em perfil conciliador e de que jamais foi um “bolsonarista-raiz”.
Nem todos se convenceram da tentativa de desmemoriá-lo. A insurgência minou do próprio partido na voz da presidente da Juventude do PT-Mossoró, Ana Flávia. “Tenho o orgulho de ter sido a única candidatura a ter falado contra este tipo de apoio junto com as tendências ‘Articulação de Esquerda’ e ‘Militância Socialista’. É um absurdo quem coordenou a campanha de Bolsonaro em Mossoró ser apoiado pelo Partido dos Trabalhadores”, afirmou em vídeo em suas redes sociais.
Na verdade, Lawrence não coordenou a campanha do ex-presidente em Mossoró, porém participou ativamente dela. Isso não retira a incongruência do partido assinalada pela Ana Flávia. O partido esquece o progressismo para atuar numa chamada “frente ampla” capitaneada pela direita, o que é inconsistente aos princípios da legenda. Deixa a oportunidade de candidatura para apoiar o espectro político que sempre condenou.
A preço de hoje, Mossoró não tem um nome do campo da esquerda na disputa à Prefeitura de Mossoró. Os nomes caminham nas faixas ao centro, à direita e à extrema-direita. O PT evita o contraponto, como na deliberação expressa em encontro pró-forma do fim de semana. Afinal, a decisão da retirada da candidatura da deputada Isolda (movida pela alta rejeição, sim) foi motivada, em grande parte também, por acertos que partiram da capital, em ajustes entre a governadora Fátima Bezerra e o presidente da Assembleia, Ezequiel Ferreira, para projetos conjuntos do PT e do PSDB em 2026.
A aliança em Mossoró, mesmo assim, gerou revolta em alas do PT, mas agradou a Lawrence. “A resolução do PT de Mossoró fortalece a oposição e demonstra a grandeza e o espírito público do partido”, comentou o presidente da Câmara que rompeu com o prefeito Allyson Bezerra para se candidatar.
Isolda também concorda. As discordâncias com o agora aliado, como o seu passado bolsonarista, são vistas como “normais”, segundo a deputada. Para ela, em entrevista à imprensa, “isso já está resolvido”. E o PT não estará à esquerda.